Lectio divina para a solenidade de Todos os Santos (1/11/2020)

Há pessoas, mesmo católicas, que tentam justificar a sua ausência das missas dominicais com a acusação de que “quem lá vai não é melhor do que os outros”. Será verdade esta afirmação?
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Vamos à missa com os santos

Há pessoas, mesmo católicas, que tentam justificar a sua ausência das missas dominicais com a acusação de que “quem lá vai não é melhor do que os outros”. Será verdade esta afirmação? Implicitamente, quem a faz parece ter a presunção de que até pode ser melhor do que quem é praticante. O povo, no entanto, adverte: “presunção e água benta, cada qual toma a que quer”. Uma coisa é certa: os que vão à missa são todos pecadores e assim ali se confessam, pedindo em seguida “à Virgem Maria, aos anjos e santos” e aos irmãos que roguem por eles a Deus. Ali, na igreja, encontram-se com o Santo e os santos que o acompanham. Deverão assim regressar a casa e à sociedade mais carregados da “santidade” que receberam na Eucaristia e na assembleia cristã. Preparemo-nos com a leitura orante da palavra de Deus, pessoalmente, em família ou em grupo, para participarmos mais frutuosamente na Eucaristia dominical.

1. Invocação

Senhor Jesus, nós te louvamos e agradecemos pelos santos, por todos os santos, os que a Igreja já reconheceu como tais mas também os “do pé da porta”, aqueles com os quais convivemos. Ilumina-nos com a Palavra de Deus, inspira-nos o desejo de santidade e guia-nos com o teu Espírito para correspondermos fielmente a tão alta vocação.

Ámen.

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos escutar o Livro do Apocalipse. O texto descreve-nos uma visão, cuja finalidade é indicar como os “assinalados” do Israel ideal, isto é, da Igreja, novo povo de Deus, são abençoados e protegidos por Ele na terra e conduzidos a uma felicidade sem dor nem fim. A salvação tem uma abrangência universal, sendo alcançada por todos os fiéis de qualquer raça ou povo que perseveram unidos a Cristo até ao fim da sua vida, mesmo nas perseguições e provações que tiverem que enfrentar. Aparece uma grande assembleia de santos que adoram, aclamam e glorificam ao Deus vivo e a Cristo ressuscitado, representado na figura do Cordeiro.

2.2. Leitura do Apocalipse de S. João (7, 2-4.9-14)

Eu, João, 2vi um anjo que subia do Oriente, levando o selo do Deus vivo e gritando com voz forte aos quatro anjos, aos quais fora dado o poder de danificar a terra e o mar. E dizia: 3«Não danifiqueis a terra nem o mar nem as árvores, até que tenhamos marcado com um selo a fronte dos servos do nosso Deus.» 4Ouvi também o número dos que foram assinalados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. 
9Depois disto, apareceu na visão uma multidão enorme que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão. 10Aclamavam em alta voz: «A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro.» 
11E todos os anjos, que estavam de pé à volta do trono, dos anciãos e dos quatro seres viventes, prostraram-se diante do trono, com a face por terra, e adoraram a Deus, 12aclamando: «Ámen! O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força devem ser dados ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Ámen!»
13Então, um dos seres viventes tomou a palavra e disse-me: «Estes, que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e donde vieram?» 14Eu respondi-lhe: «Meu senhor, tu é que sabes.» Ele disse-me: «Estes são os que vêm da grande tribulação; lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro».

2.3. Breve comentário

A visão de João leva-nos a contemplar uma cena celeste, quando toda a terra for transformada pelo poder de Deus. Apresenta-nos três momentos: o primeiro é a signação da fronte dos “servos de Deus”, da Igreja, o novo Israel; o segundo mostra-nos uma enorme multidão dos cristãos mártires que passaram por grandes tribulações, perseverando no seguimento e fidelidade a Cristo, aparecendo diante de Deus e do seu Filho, na glória do Céu; o terceiro momento é o diálogo entre “um dos seres viventes” e o vidente, em que aquele identifica os que estão vestidos de túnicas brancas e de palmas na mão, símbolos do martírio e da purificação: eles são os vitoriosos, pois receberam a graça de Cristo no batismo (túnica branca) e mantiveram-se fiéis nas tribulações. Toda a assembleia dos santos e dos anjos aclama, adora e dá glória a Deus em tom festivo, com palavras e gestos.

A mensagem é de conforto e esperança para os cristãos que vivem tempos de perseguição, para que perseverem sem medo, pois Cristo os tornará vencedores e os acolherá junto de si e do Pai celeste, na glória eterna do Céu. Esta mensagem vale para os cristãos de hoje, dando-lhes fortaleza e ânimo nas lutas e tribulações da vida. O amor e a graça de Cristo sustentam-nos e anima-os para permanecerem discípulos fiéis.

O texto pode evocar também vários aspetos da celebração da Eucaristia. Em primeiro lugar, a assembleia de fiéis que Deus reúne “no amor de Cristo”, constituída por todos os que foram revestidos de túnicas brancas no batismo, quer os ainda peregrinos no mundo quer os já chegados à pátria eterna, os santos. Na liturgia da Igreja, são na verdade evocados os santos e a sua união connosco. Como eles aclamamos a Deus e imploramos do Espírito Santo que “faça de nós uma oferenda permanente, a fim de alcançarmos a herança eterna” em companhia dos “eleitos”, “com a Virgem Maria, S. José, os bem-aventurados Apóstolos e gloriosos Mártires e todos os santos, por cuja intercessão” se espera o auxílio divino”. Celebramos a Missa com os santos do Céu.

A aclamação e a glória a Deus, entoadas por estes santos e os anjos, também permeia a liturgia eucarística. No início, proclama-se: “glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. Na conclusão do Prefácio, invocam-se os Anjos e os Santos, para juntos se cantar “numa só voz: Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo. O céu e a terra proclamam a vossa glória. Hossana nas alturas. Bendito O que vem em nome do Senhor. Hossana nas alturas.” No final da oração eucarística, o sacerdote, com o cálice e a patena elevados, aclama: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a Vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória agora e para sempre.” E povo fiel remata: “Ámen”. Outro momento de aclamação é após o Pai nosso, quando o sacerdote implora a Deus que nos livre de todo o mal e dê “ao mundo a paz em nossos dias”. O povo conclui: “Vosso é o reino e o poder e a glória para sempre.” Na Missa, portanto, reconhecemos e aclamamos a Deus como e com os santos do Céu.

A memória e comunhão com os santos leva-nos, como diz o Papa Francisco, “a erguer os olhos para o Céu: não para esquecer as realidades da terra, mas para as enfrentar com mais coragem e mais esperança.” Estes cristãos plenamente realizados inspiram e encorajam a nossa caminhada no tempo com os pés na terra, alimentam e fazem crescer em nós o desejo de sermos santos e de alcançarmos a mesma meta que eles: a participação na assembleia dos santos que Deus reúne junto de si, no amor de Cristo.

“Os Santos que celebramos hoje na liturgia são irmãos e irmãs que admitiram na sua vida que precisavam desta luz divina, abandonando-se a ela com confiança. E agora, diante do trono de Deus (cf Ap 7, 15), cantam a sua glória para sempre. Eles constituem a “Cidade Santa”, para a qual olhamos com esperança, como nossa meta definitiva, enquanto somos peregrinos nesta “cidade terrestre”. Caminhamos para aquela “cidade santa” onde estes santos irmãos e irmãs nos esperam. É verdade, estamos cansados pela aspereza do caminho, mas a esperança dá-nos a força para avançar. Olhando para a vida deles, somos estimulados a imitá-los. Entre eles há muitas testemunhas de uma santidade da porta ao lado, «daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus» (GE 7)” (Papa Francisco, ângelus 1/11/2019.

3. Diálogo meditativo

 – «Não danifiqueis a terra nem o mar nem as árvores, até que tenhamos marcado com um selo a fronte dos servos do nosso Deus.» Aos anjos é dada a ordem de esperarem até serem assinalados os “servos do nosso Deus”. Deus protege os seus eleitos, os que foram marcados com o seu sinal. Nós fomos ungidos com o dom do Espírito e somos assinalados com o sinal da cruz de Cristo. Temos consciência destas marcas de Deus em nós e confiamos na sua proteção e bênção?

… apareceu uma multidão enorme que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas.A salvação de Deus alcança a todos os homens, qualquer que seja a sua proveniência, pois o dom do batismo é concedido a quantos abrem o seu coração a Cristo e acolhem a graça da fé. Sinto-me realmente membro da multidão imensa dos filhos de Deus, vivo diariamente segundo a graça que recebi no Batismo e no Crisma e alimento frequentemente na Eucaristia?

Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão. Os fiéis batizados comparecem diante de Deus e de Cristo ressuscitado, por quem foram salvos, depois dos múltiplos sofrimentos e provações por que passaram. A vida cristã é estar sempre diante do Senhor e caminhar com Ele todos os dias, vivendo segundo o espírito das bem-aventuranças. Nunca estamos sozinhos. Ele está na vida de cada um e na comunidade dos seus fiéis. Acredito nessa presença e reconheço-a de algum modo? Que sinais me indicam essa presença?

Aclamavam em alta voz: «A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro.» A multidão imensa une-se ao “resto de Israel” para aclamar e dar glória a Deus. Assim somos nós convidados a fazer diariamente e em cada Eucaristia, unindo-nos aos santos e aos anjos. Na nossa oração, aclamamos, adoramos e damos glória a Deus com frequência? Como o fazemos: só com palavras ou também com gestos e sobretudo com todo o nosso ser e a vida?

«Estes são os que vêm da grande tribulação; lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro». Não apenas os mártires, que deram a vida por fidelidade a Cristo, mas também os fiéis que perseveraram, corresponderam à graça do Evangelho e deram testemunho têm entrada na grande assembleia dos filhos e filhas de Deus no Céu. Vivemos realmente na esperança da vida eterna, no ardente desejo de ser santo, confiando na intercessão e ajuda dos santos?

– A Eucaristia é celebração e comunhão dos fiéis peregrinos no mundo com Cristo e com os santos. Ela alimenta a fé e o desejo de santidade, tornando-nos mais fortes e comprometidos nas lutas da vida quotidiana, com os seus êxitos e fracassos. Carlo Acutis, o jovem recentemente beatificado, dizia: “A Eucaristia é a minha autoestrada para o céu”, e ainda: “A santificação não é um processo de soma, mas de subtração. Menos eu, para deixar espaço a Deus”. É assim que vivemos as missas em que participamos? Avivam, sustentam e fazem frutificar o nosso desejo e empenho de santidade?

4. Silêncio, oração e gesto

– Em silêncio, perguntando: Senhor, que queres dizer-me com esta palavra?, cada um procure escutar e descobrir dentro de si o que Jesus lhe ilumina, inspira ou sugere… 

Após alguns momentos, podem dizer juntos esta invocação:

“Vós, Bem-aventurados, defendei-nos.
Vós, ó Santos de Deus, acompanhai-nos.
Nos temporais da vida, protegei-nos;
Na morte, confortai-nos.” (hino da Liturgia das Horas)

– Depois, com palavras ou algum gesto, cada um pode partilhar com os outros o que sentiu e o compromisso que assume. Podem dizer a que missa vão no domingo.

– Terminam, levantando as mãos e rezando juntos o Pai Nosso.

(Se a família ou grupo quiserem, podem enriquecer o encontro com um cântico)

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