FILHOS MUITO AMADOS
Breve introdução
Estamos a terminar o ciclo do Natal. Foi um tempo litúrgico maravilhoso. Com o Batismo de Jesus no rio Jordão damos início à vida pública de Jesus. Passamos do Menino de Belém para Jesus Profeta e Mestre que vai continuar com a sua epifania envolvente.
Há, na verdade, uma estreita relação entre o Batismo de Cristo e o nosso Batismo, cuja graça queremos sempre avivar dentro de nós. No Jordão, os céus abriram-se, para indicar que o Salvador nos abriu o caminho da salvação e que nós podemos percorrê-lo precisamente graças ao novo nascimento “da água e do Espírito” (Jo 3,5), que se realiza no Batismo. Nele nós somos inseridos no Corpo místico de Cristo, que é a Igreja, morremos e ressuscitamos com Ele e revestimo-nos d’Ele.
1. Invocação
Deus eterno e omnipotente,
que proclamastes solenemente a Cristo como vosso amado Filho
quando era baptizado nas águas do rio Jordão
e o Espírito Santo descia sobre Ele,
concedei aos vossos filhos adoptivos,
renascidos pela água e pelo Espírito Santo,
a graça de permanecerem sempre no vosso amor.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos ouvir um texto do Evangelho segundo São Marcos
No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho, o “Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
2.2. Leitura do Evangelho segundo São Marcos (1, 7-11)
Naquele tempo, João começou a pregar, dizendo:
«Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu,
diante do qual eu não sou digno de me inclinar
para desatar as correias das suas sandálias.
Eu batizo na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».
Sucedeu que, naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia
e foi batizado por João no rio Jordão.
Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se
e o Espírito, como uma pomba, descer sobre Ele.
E dos céus ouviu-se uma voz:
«Tu és o meu Filho muito amado,
em Ti pus toda a minha complacência».
2.3. Breve comentário
A cena grandiosa do Batismo de Jesus, com o céu rasgado, com o voo de asas abertas do Espírito sobre as águas do Jordão, com a declaração de amor de Deus, aconteceu também no meu Batismo, e acontece ainda a cada reinício. A Voz, a única que soa dentro da alma, repete a cada um: tu és meu filho, o amado, em ti pus o meu comprazimento. Palavras que ardem e queimam: filho meu, amor meu, alegria minha.
Tu és o meu filho
Filho é a primeira palavra. Filho é um termo poderoso sobre a Terra, poderoso para o coração do ser humano. E para a fé. Deus gera filhos segundo a sua espécie, e eu e tu, nós todos temos o cromossoma do pai nas nossas células, o ADN divino em nós.
Muito amado
Amado é a segunda palavra. Antes que tu ajas, antes que tu digas «sim», que tu o saibas ou não, a cada dia, a cada despertar, o teu nome para Deus é «amado». De um amor que te antecede, que te antecipa, que te envolve prescindindo daquilo que hoje serás e farás. Amado, sem se e sem mas. A salvação deriva do facto de Deus me amar, não do facto de eu o amar. E que eu seja amado depende de Deus, não depende de mim! É graça! E é este amor que entra, transborda, envolve e transforma: somos santos porque somos amados.
Em Ti pus toda a minha complacência
A terceira palavra: meu comprazimento. Termo desusado, inusual, todavia belíssimo, que no seu núcleo contém a ideia de prazer. A Voz grita do alto do Céu, grita sobre o mundo e dentro do coração, a alegria de Deus: é belo contigo, filho meu; tu dás-me prazer; estar contigo enche-me de alegria. O poder do Batismo é dito com o símbolo vasto das águas que limpam, refrescam, curam, fazem germinar as sementes; com o Espírito que, juntamente com a água, é a primeira de todas as presenças na Bíblia, em ação já desde o segundo versículo do Génesis: «O Espírito de Deus pairava sobre as águas».
A realidade é grandiosa: na sua raiz, batizar significa mergulhar: «Estamos imergidos num oceano de amor, e não nos damos conta» (G. Vannucci). Eu sou mergulhado em Deus, e Deus é mergulhado em mim; eu na sua vida, Ele na minha vida; «aperta-me a ti, aperta-te em mim» (G. Testori). Sou dentro de Deus, como dentro do ar que respiro, dentro da luz que me beija os olhos; mergulhado numa fonte que nunca se esgotará, submergido num ventre vivo que alimenta, faz crescer e protege: sou batizado.
3. Silêncio meditativo e diálogo
Com o batismo do Senhor, dá-se uma viragem na sua vida humana. Para trás, ficam trinta anos de relações, aprendizagem e reflexões, em Nazaré. É um verdadeiro desafio para mim, agarrado ao aconchego e cómodo do conhecido e seguro.
O que serei capaz de deixar por Ti e contigo?
No batismo do Senhor, Ele tornou-se tão próximo de nós, pecadores necessitados de conversão. Ele quer-nos acompanhar não desde fora, como quem dá lições, mas desde “dentro”, identificando-se connosco; dando o primeiro passo.
O que preciso “converter” em mim? Disponho-me a isso?
Com o teu batismo, Senhor, apontas-me um projeto novo: o Reino de Deus, feito da experiência de Ti, de redescoberta de mim mesmo e de proximidade com os outros.
Farei deste ano uma aventura quotidiana conTigo e por Ti?
O teu batismo, Senhor, recorda-me o meu, embora distinto.
O que representa ele para mim? De que forma ilumina o meu ser, pensar, dizer e agir?
4. Oração final e gesto familiar
– Em silêncio, cada um pergunte no seu coração: Pelo Batismo, Cristo não faz aceção de pessoas. O que significa isso para mim?
– Se a oração for feita em grupo ou família, cada um, poderá ir buscar uma foto do seu batismo e partilhar uns com os outros o que sente ao ver esse momento.
– Podem ainda partilhar em que medida é que o Batismo do Senhor me leva a perceber que sou irmão de todos, em especial dos mais pobres.
– Para terminar, podem rezar juntos o Pai Nosso e/ou entoar um cântico.