TREZENTAS BOAS OPORTUNIDADES
NASCIDO QUASE DO NADA E INSPIRADO NUMA TAL CARROÇA
Algures em 2016 conversei com um colega padre e partilhei com ele o desejo de publicar uma folha paroquial em que metade do conteúdo poderia ser comum à paróquia dele, por uma questão de economia de meios; ele também tinha uma vontade semelhante.
Esse sonho comum ainda não se realizou, mas nos Pousos foi-se escrevendo e publicando, desde novembro de 2016. Inicialmente nem se numerou o boletim! Durante 16 ou 17 semanas usou-se o formato A4. Em março do ano seguinte imprimiu-se em A3, com uma dobra específica nossa!
E desde então passaram oito anos e um mês, e conta-se a edição 300! Se não fosse um facto, eu não suporia que isso acontecesse.
ESPIRITUALIDADE OU MOTIVAÇÃO
Há uma razão que vos partilho, e que justifica um certo “estilo” que julgo caraterizar a nossa modesta publicação. Trata-se de praticar uma atitude aprendida do apóstolo São Paulo, que tinha o cuidado de reunir com os demais apóstolos sempre que podia, a fim de partilhar os seus trabalhos ao serviço do evangelho. Entendia ele que é necessário observar todas as coisas boas que acontecem à sua volta, porque elas são sinal da ação de Deus, através do Espírito Santo. Não o fazer,seria uma falta de educação para com o Pai do Céu. São Paulo tinha uma convicção ousada: Deus atua a bem do mundo, usando as suas (nossas) mãos.
Paulo não se vangloriava disso, como um gabarolas. Paulo obrigava-se a não ser reconhecido diante da maravilhosa ação do Espírito de Deus.
A nossa folha tem sido fiel a essa espiritualidade com profundo sentido eclesial e de comunhão (perdão pelos palavrões!), tão próprios da igreja nascente, há vinte séculos.
O ENFOQUE CONSTANTE
O Malaposta nasce da paróquia, atende à paróquia, mas tem procurado escrever-se em cada semana, não só na perpetiva dos que estejam mais próximos dos caminhos que passam pela torre da igreja, mas também como pomba que voa para longe levando mensagens atadas na patinha (as pombas do correio).
Reconheço que o maior produtor de notícias terá sido a catequese paroquial; de forma permanente, intensa, diversificada, muito próxima de ações constantes como as que caraterizaram a vida de São Paulo (depois de deixar de ser o Saulo de Tarso). Chego a pensar que o Malaposta também retribuiu a este nosso setor de ação paroquial na justa proporção do que recebeu.
Mas os trabalhos de festeiros, as voltas do Agrupamento de escuteiros, as iniciativas dos grupos ou associações da paróquia, a administração das igrejas e a administração paroquial, geraram milhões de palavras escritas e centenas de imagens.
Seguiu-se a atenção à Diocese, e a atenção à Igreja católica, Aliás, por causa da publicação (quase sempre semanal), um dos esforços habituais exigidos à redação, foi a leitura daquilo a que se chama “fontes”, para se ter um sentido de “pertenças” mais afirmado do que apenas as vizinhanças paroquiais.
Não houve qualquer ligação às atividades políticas do país ou da região; bem assim aos temas do desporto ou da cultura. O Malaposta não tem tido caraterísticas de órgão regionalista.
E uma última linha tem que se escrever sobre a relação entre o Malaposta e o Centros Social Paroquial dos Pousos. Foi muito bela, intensa, complementar das particularidades dos trabalhos da paróquia e dos trabalhos sociais do CSPP. Mas o Malaposta foi uma excelente plataforma de espaço comum, e motivador de uma aproximação do Centro Social a espaços públicos onde não era presença. O Malaposta transformou as duas realidades, no meu entender.
AS FRASES QUE SE ESCREVEM
Para se fazer uma coisa destas é necessário escrever linhas de textos, para que outros as possam ler e, dessa forma, recordar ou conhecer.
A equipa de redação tanto pode ser entendida como sendo constituída por dezenas de pessoas (quando se valoriza uma linha escrita, que seja, e em alguma edição), como se pode apresentar como muito pequenina, modesta na competência técnica, e demasiado atarefada por causa de outras vidas.
Sem desprestígio por toda a gente que cedeu uma ou centenas de imagens, ou algum texto, ou que o dobrou, há duas pessoas que não podem ser dissociadas no Malaposta, pois estiveram presentes em todas estas três centenas de edições, e sem alguma delas a folha por e simplesmente não seria publicada. Num caso refiro-me ao Paulo Adriano (como cuidador da chamada “paginação”, e da impressão). E noutro caso menciono a Alexandra (é a primeira vez que o faço); foi quem escreveu milhares milhões de linhas, em serões curtos de quintas-feiras, ou em breves paragens entre quilómetros de estradas; foi quem ligou o CSPP ao Malaposta e vice-versa; foi quem interagiu com catequistas, escuteiros, festeiros, movimentos e obras… a fim de obter colaboração e participação.
E DEPOIS
Voltaria a fazer o mesmo? Sim. Voltaria. Estar envolvido com o Malaposta é prazeroso. Os esforços não custam nada, no depois.
Não sou mãe, mas admito que cada Malaposta deve ser um exercício que tem semelhanças com o parto materno: ansiedade, dor e desconforto, e, finalmente, uma paz imensa!
Se chegaremos ao número 100.000 ou não, não sei. Fundamentalmente, porque se irá colocar a questão da oportunidade de um boletim nestes termos, aquando da integração da paróquia na Unidade Pastoral de Leiria (já anunciada). Nessa altura será necessário refletir.
Mas, e independentemente do que aconteça futuramente, o Malaposta vale pelo seu hoje, na continuidade destas três centenas de edições num espaço de 97 meses.
A última frase é para escrever o seguinte: mais que felicitar alguém em particular, ou felicitar o Malaposta, há que felicitar a comunidade paroquial que temos sido! É rica, diversa, criativa, numerosa, desafiante, acolhedora, religiosa, interativa e dialogante, e sempre esfomeada! E é esta comunidade que em cada semana gera os acontecimentos que obrigam o Malaposta a escrever e fotografar o que o Espírito Santos vai “operando” entre nós, connosco ou para nós.
Simples, não é?
Pe Luís M.
300 Edições da Malaposta: A minha viagem!
(O que aprendi em centenas de semanas de histórias e estórias paroquiais e da comunidade. E, quantos cafés tomei para escrever muitas delas. E, quantos lugares oportunos e inabituais, tentei criar contexto para as escrever. E, quantos me inspiraram! Em suma: durante a minha passagem por aqui, valorizo o que deixo e o que levo.)
Atrevo-me a dizer que a Malaposta é, para mim, um ponto de encontro comigo mesma e no encontro com os outros. Seja por testemunhar uma série de acontecimentos que posso continuar a “saborear” ao lê-los, seja por estar atenta ao que me contam e poder transformar essa escuta em palavras. Não vejo este boletim como um mero conjunto de “recados” paroquiais ou como um arquivo morto para o futuro. Para mim, ele é serviço: serviço dinâmico à comunidade, ao capital social e espiritual, que rodeia uma parte da minha vida. Ouso dizer que é um instrumento de integração comunitária, que fortalece laços, gerando sentimentos de pertença.
Para mim há personagens inesquecíveis do Malaposta. Não há como não relembrar os Senadores, uma iniciativa que homenageou várias pessoas que marcaram e marcam a comunidade de forma exemplar. Combinou-se a arte de escrever “retratos”, pelo André Pereira, com as celebrações de vidas ímpares. Faço questão de os voltar a mencionar pelos nomes que mais são conhecidos: o Sr. Lameiro, Eng. Órfão, Dr. Ildo, D. Alzira, Ti Augusta, Sr. Florindo, Sr. Sousa e Sr. Faustino. Cada um deles, com a sua contribuição, deixou e deixa um legado.
Houve também momentos memoráveis de tantas e tantas semanas. E se eu fizer um pouco de silêncio, vem-me à boa memória tanto…! O que dizer das dinâmicas originais criadas, pelo pároco, pelos líderes e coordenadores de grupos catequéticos, celebrações sazonais e eventos gastronómicos? Só de pensar nos almoços temáticos dos festeiros e de outros, ou das famosas “sopas da catequese”, já sinto o aroma da tradição combinada com a boa disposição. A sopa da Carminda vem-me logo à cabeça, sem descurar todas as outras, ou do bolo do Menino Jesus da Irene, também sem descurar todos as receitas colocadas em prática por tantos. É impossível esquecer as celebrações e procissões onde as crianças caminham com uma fé admirável, ou as promessas de escutismo que nos fazem acreditar num futuro com valores.
Se faço um esforço de memória (com uma pausa dramática, claro), gravo ainda os concertos da SAMP e a sua intervenção comunitária e cuidada, aos vivos e aos mortos. Também as orações com crianças, famílias e idosos, as celebrações para o Crisma de jovens e adultos, as Comunhões e o grupo coral em plenitude de contágio celebrativo e até, os jovens que trouxeram o espírito vibrante da Jornada Mundial da Juventude para a nossa paróquia.
Tudo isto foi e é notícia!
A contribuição do Centro Social:
Uma participação semanal completa é a do Centro Social. Como esquecer o primeiro evento intergeracional “Modelo por um dia”, onde crianças e idosos desfilaram com personalidades e sorrisos que ofuscaram qualquer passerelle internacional? Ou as viagens inesquecíveis que levaram os nossos idosos a tantos locais dentro e fora do país? Quantos sonhos e desejos foram realizados e quantas experiências, “pela primeira vez”, vividas! São tantas que não caberiam numa única edição.
As crianças do Centro Infantil também ocupam um lugar especial nestas páginas, com coleções de notícias sobre a abordagem Reggio Emilia (influenciador do modelo pedagógico e educacional), que inspira criatividade, e o trabalho dedicado das colaboradoras que honram a sua implementação. É também inspirador ver como a contribuição de pessoas externas também enriquece o dia a dia das crianças, ajudando-as a tornarem-se adultos bem formados e promissores.
E, claro, nos bastidores, há o mérito de todos os colaboradores e voluntários que dão vida à instituição. Cada um, com o seu talento, o seu ser e o ser estar, contribui para um capítulo importante na história de alguém.
Se estas 300 edições da Malaposta foram cheias de vida, emoção e boa disposição, que venham mais! Mais histórias, mais pessoas para acolher, mais pessoas para honrar, mais eventos para celebrar e relatar. Que a Malaposta continue a ser esta paragem e encontro especial, onde podemos partilhar as nossas experiências e viver juntos o melhor da nossa fé, o melhor de cada um de nós e, acima de tudo, o melhor de quando estamos juntos.
Alexandra Neves
Malaposta: 300 capítulos de uma história escrita com alma
Há algo de profundamente belo e tocante na celebração da 300.ª edição do Malaposta. Este marco não é apenas um número; é um testemunho de dedicação, memória e amor que pulsa no coração da comunidade paroquial dos Pousos. Hoje, somos convidados a entrar nesta festa de papel e palavras, a saborear a história que, semana após semana, foi sendo desenhada com a força da fé e o cuidado da partilha.
Permitam-me que me una a este júbilo, não só como espectador, mas como alguém que sente, também, o orgulho de quem vê crescer algo tão singular. Há duas razões que me movem e que quero partilhar.
A primeira é a longa estrada de que o Malaposta é viajante. Como alguém que tem caminhado na senda da comunicação da diocese de Leiria-Fátima há mais de vinte anos, celebro esta persistência com um fervor especial. Em tempos velozes e digitais, em que o efémero dita as regras, 300 edições representam muito mais do que os oito anos da sua publicação: são um tributo à constância, ao trabalho invisível e ao sonho de manter vivo um elo palpável entre a paróquia e a sua gente. O Malaposta não é apenas único na forma e no conteúdo; é também raro na sua regularidade. Hoje, contam-se pelos dedos as comunidades que mantêm, em cada semana, um meio de comunicação em papel capaz de abraçar tantas vidas. Mas este jornal não se limita a ser ponte entre o hoje e o amanhã; ele é também a arca preciosa que guarda a memória viva deste pequeno território dos Pousos, onde cada evento é cenário de histórias e onde cada rosto tem uma vida que merece ser contada.
A segunda razão que me comove é de uma natureza mais pessoal. Existe uma alegria profunda — quase inexplicável — em saber que fiz parte desta história, que toquei, de alguma forma, este pequeno-grande projecto. Sexta-feira após sexta-feira, o Malaposta faz parte do meu dia, como um velho amigo que chega sempre à mesma hora. Com paciência, aguardo as palavras do padre Luís ou da Alexandra, e sinto o privilégio de dar forma ao que, em tantas mãos, será o alento de mais uma semana. Saber que esta ligação, que parece tão simples, é parte da vida de centenas de pessoas, é algo que me enche de um orgulho difícil de conter.
Por isso, à paróquia dos Pousos, deixo uma prece e um pedido: continuem a cuidar do Malaposta como quem cuida de um tesouro. Porque ele não é apenas vosso; ele é cada um de vós. Ele carrega a vossa alma, os vossos risos e as vossas lágrimas. Ele é a vossa voz e a vossa história, em cada linha, em cada página.
Parabéns, Malaposta! Que venham outras 300 edições, e outras tantas mais, para que os Pousos nunca deixem de sonhar, de contar e de acreditar.
Paulo Adriano