“As Jornadas Nacionais de Comunicação Social que juntaram em Fátima, nos dias 25 e 26 de setembro, mais de uma centena de jornalistas e outros comunicadores da Igreja.
Precisamos de ir ao encontro de todos, sobretudo os mais esquecidos”, afirmou D. Pio Alves, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, na abertura do encontro que teve como tema “Uma rede de pessoas”. Aos presentes, foi proposta uma abordagem aos media como propiciadores do encontro e da comunhão dos povos. A reflexão no primeiro painel dirigiu as atenção para o aspeto mais “profissional” desse trabalho e para o “descartável” que ele parece ser nos nossos dias.
Carmo Rodeia, do portal Igreja Açores, já o sentiu na pele e lamentou a “perda de ética” em nome do “jornalismo-espetáculo” que se alimenta de informação debitada pelas agências, resultando em “redações diminutas e sem trabalho de profundidade.
Eduardo Cintra Torres, professor da Universidade Católica, frisou que “sem jornalismo é impossível a democracia” e que “a investigação é precisa para dar corpo à informação”. Portanto, “os jornalistas podem ser descartáveis, mas o jornalismo não”, pelo que se torna necessário encontrar caminhos novos, na certeza de que “só os que estiveram atentos aos leitores, os verdadeiros patrões dos media, sobreviverão”.
O diretor do digital Observador, David Dinis, deu a cara pelo otimismo a partir da sua experiência e apontou que “nunca tivemos tanto acesso a jornalismo como hoje”. Reconhecendo que “mudou o paradigma” e que “há mais precariedade”, o jornalista defendeu que “o jornalismo nem é o pior dos mundos” e que a solução passará por “ter equilíbrio, bom senso e grande ligação ao leitor”.
Exemplos e desafios de mudança
Nessa tarde, Felix Lungu, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, e os padres José Vieira, dos Missionários Combonianos, e Tiago Freitas, do gabinete de comunicação da arquidiocese de Braga, partilharam os modos, preocupações e sucessos do processo comunicativo das suas instituições, com o denominador comum de “procurar ir ao encontro das pessoas nas suas necessidades”.
O debate acabaria por centrar-se na necessidade desse encontro começar pelos próprios profissionais da comunicação da Igreja, numa rede prática e eficaz de colaboração no mesmo objetivo de “anunciar a Boa Nova pelos media”. Exemplo do bom fruto dessas parceiras, o numero especial da revista da Agência Ecclesia com o Centro de Estudos de História Religiosa da UCP, apresentada durante o encontro como “instrumento de trabalho para jornalistas, historiadores e técnicos sobre a temática social”.
A manhã de sexta-feira foi reservada para a conferência “Papa Francisco e a cultura do encontro: o poder das imagens”, pelo monsenhor Dario Viganò, diretor do Centro Televisivo Vaticano. Um testemunho interessantíssimo de como, através das imagens se pode “levar emoção“ ao espetador e envolvê-lo na própria mensagem. Exemplo disso foi a transmissão da eleição do Papa Francisco, onde se procuraram planos que envolvessem os protagonistas e o povo reunido na praça, trazendo para dentro da ação quem assistia pela televisão. Conta, também, a “qualidade” desses protagonistas, que poderá ser preciso “educar” para serem como é o Papa, “ele mesmo mensagem e comunicação, nas atitudes e gestos próprios da sua cultura latino-americana, mas sempre a apontar para Cristo como centro do comunicação”.
No final, a conclusão do cónego João Aguiar, diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, foi perentória: “Temos de sair das nossas lamúrias e do nosso quintal, estar unidos no entusiasmo, na partilha de sonhos e meios, sem medos ou desconfianças, conhecerem e conhecer o que fazemos, apreciando-nos mutuamente, corrigindo-nos na unidade”. Uma espécie de programa de vida que foi corroborado por D. Pio Alves no encerramento, com o alerta para a “tentação de irmos renovando os slogans e formas, sem que isso na prática vá renovando a nossa vida”.