Jesuítas estimulam a “reacreditar na vida”

“Entre medos e confiança, reacreditar na vida” é o tema da 10.ª sessão de estudos de espiritualidade inaciana que decorre de 29 de novembro a 1 de dezembro, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima. O evento ocorre de dois em dois anos e “pretende possibilitar um aprofundamento da espiritualidade inaciana”.

Numa breve entrevista, o padre Luís Maria da Providência SJ recorda que há dois anos participaram nesta iniciativa cerca de 600 pessoas e que “nunca a espiritualidade inaciana foi tão importante e necessária como nos dias de hoje”. “Esta é uma espiritualidade para a vida de todos os dias, a ser encarnada por pessoas comuns”, conclui.

 

O que motivou a realização destas sessões, que já vão na sua 10.ª edição?

As Semanas de Estudo de Espiritualidade Inaciana (SEEI) surgiram em 1991, quando a Companhia de Jesus, ordem religiosa de que fazem parte os padres e irmãos jesuítas, celebrava os 450 anos de fundação. Cabe aqui fazer um esclarecimento: de facto, este evento formativo, que geralmente ocorre de 2 em 2 anos, estende-se, não ao longo de toda a semana, mas ocupando apenas o fim de semana, de sexta à noite ao domingo de manhã. Pretende possibilitar um aprofundamento da espiritualidade inaciana aos leigos, religiosos e clero diocesano que nos sejam próximos, como também abrir para um público mais amplo, a sociedade em geral, todas as pessoas que porventura possam ter interesse e curiosidade. Há a possibilidade de se inscrever no fim de semana completo, ou em apenas um dos dias e as inscrições também podem ser feitas na altura.

 

Qual a importância do tema da sessão deste ano para a sociedade atual?

O tema será desenvolvido no sentido duma concretização crescente, passando por três níveis: primeiramente, será analisado no âmbito da espiritualidade inaciana; num segundo nível, será abordado segundo quatro perspetivas complementares: fé e cultura; e família (casa) e trabalho (praça); por fim, temos um terceiro nível, em que o tema será tratado em oito campos ainda mais específicos: ciência, juventude, política, compromisso social, arte, empresa, escola e ecologia. Neste terceiro nível, cada participante terá possibilidade de fazer o seu próprio percurso, isto é, proceder a escolhas em função dos seus interesses, e ser-lhe-á dada também a possibilidade de ter uma participação mais activa. O tema em si não poderia ser mais pertinente e atual, indo ao encontro das dificuldades com que a sociedade portuguesa tem vindo a ser confrontada nos últimos anos. Trata-se duma espiritualidade encarnada que vai ao encontro do sentir das pessoas e as ajuda a ver os acontecimentos segundo essa perspetiva positiva, mas não ingénua, que o Natal e a Páscoa da Ressurreição do Senhor nos abrem!

 

Que expetativas tem em relação à participação e às intervenções no evento?

Tal como no encontro de há dois anos, o padre Vasco Pinto de Magalhães é o principal responsável por este evento. As expetativas são altas, atendendo à qualidade e clareza dos conferencistas convidados, a que nos fomos habituando em anos anteriores.

Trata-se duma aposta na comunicação, procurando encarnar a espiritualidade cristã na nossa cultura, falando uma linguagem que é simultaneamente acessível e exigente em termos da profundidade com que o tema é tratado. A última SEEI teve mais de 600 participantes.

 

Qual a importância da espiritualidade inaciana para a nossa sociedade?

Diria que nunca a espiritualidade inaciana foi tão importante e necessária como nos dias de hoje. Numa primeira fase da conversão, Inácio de Loyola, o fundador dos jesuítas, vai beber à fonte da espiritualidade cristã, muito concretamente em mosteiros beneditinos e cartuxos. Posteriormente, já com 37 anos, encarou com seriedade os estudos, tendo concluído os estudos na Universidade de Paris, com 44 anos de idade. Trata-se duma espiritualidade radicada num profunda experiência de Deus e para ser vivida no coração das cidades, atenta à promoção da justiça e ao diálogo com a cultura, em colaboração com outros. Não é por acaso que S. Inácio refere a necessidade de “buscar, encontrar e amar a Deus em todas as coisas”, isto é em todas as realidades terrenas que constituem o tecido da vida quotidiana. Esta é uma espiritualidade para a vida de todos os dias, a ser encarnada por pessoas comuns que não se distinguem das outras, a não ser pelo simples facto de saberem colher a presença dinâmica de Deus antes de mais em si mesmas, mas também nas aparentes pequenas coisas de que é feita a vida, respondendo positivamente aos desafios que o Rei do universo lhes vai sucessivamente lançando. E isto faz toda a diferença, proporcionando todo um outro sabor e sentido de plenitude à existência!

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