Festa de Santo Agostinho celebrada com bênção da nova cadeira da presidência

A celebração contou com a participação de numerosos fiéis que enchiam a igreja.

Ontem, dia 28 de agosto, a Diocese de Leiria-Fátima celebrou a festa de Santo Agostinho, um dos seus padroeiros principais, juntamente com Nossa Senhora de Fátima. A Eucaristia festiva foi presidida pelo bispo diocesano, D. José Ornelas, na igreja de Santo Agostinho.

A celebração contou com a participação de numerosos fiéis que enchiam a igreja, incluindo sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos envolvidos na vida apostólica da diocese. Em particular, estiveram presentes aqueles que colaboram em serviços e conselhos diocesanos, movimentos e associações, refletindo o empenho e a dedicação à vida da Igreja local.

No início da celebração, foi benzida a nova cadeira da presidência. Este gesto simbólico destacou-se como um momento especial da celebração, sublinhando a ligação entre a comunidade e os seus benfeitores.

ÁLBUM FOTOGRÁFICO
http://l-f.pt/5u2R

Transcrição da homilia, proferida por D. José Ornelas

Caríssimos irmãos e irmãs,

Celebramos hoje a festa do nosso padroeiro, Santo Agostinho. Damos graças a Deus pela luz que ele representa e que tem iluminado a Igreja desde a sua vida, ao longo dos séculos, até aos dias de hoje. É sempre um prazer ler as suas reflexões sobre a fé, que se destacam por serem simultaneamente simples, profundas e claras. Ainda hoje, as suas palavras são de grande proveito para todos nós.

Santo Agostinho nasceu num tempo de grandes convulsões e mudanças. Apenas cerca de 40 anos antes do seu nascimento, a Igreja começou a ter a liberdade de professar a sua fé sem medo de perseguições, expulsões e repressões. Santo Agostinho relata que, nas comunidades cristãs, ainda havia muitas pessoas com sinais das torturas que sofreram por testemunharem a fé, e muitas famílias tinham mártires recentes. Era um tempo de reorganização das comunidades cristãs, que até então não podiam ter igrejas nem se organizar de forma livre.

VÍDEO
https://youtu.be/0NR_0C4Kmlg

Agostinho não foi o primeiro grande organizador da Igreja, mas destacou-se, juntamente com outros que já vinham refletindo sobre o mistério da Igreja e da fé, por expressar essas reflexões de forma que se perpetuaram pelos séculos até aos nossos dias. Eram tempos complexos, ainda marcados pelos mártires. As pessoas que faziam parte das comunidades cristãs sabiam que era perigoso ser cristão, com consequências muito sérias, como a prisão, a tortura, a condenação à morte ou ao degredo. Dizia-se que o sangue dos mártires era a semente dos cristãos.

No tempo de Agostinho, apenas 40 anos tinham passado, e mais pessoas aderiam às comunidades cristãs. Construíam-se igrejas, mas também se começou a relativizar a força e a consciência do martírio, que antes dava vitalidade à Igreja. Muitos começaram a levar vidas menos dignas da fé cristã. Além disso, havia quem tivesse dificuldade em expressar a fé e a doutrina de forma correta, surgindo ideias erradas. Agostinho, com uma linguagem clara e conciliadora, procurou explicar o verdadeiro sentido da fé. Ainda hoje, Santo Agostinho é lido como um dos grandes mestres da fé e continua a ser refletido e estudado, servindo como guia para o tempo em que vivemos.

Santo Agostinho preocupou-se primeiro com a reforma da Igreja a partir de dentro. A primeira leitura que ouvimos hoje, da carta de São João, é um dos textos mais comentados por Santo Agostinho, precisamente porque fala do amor de Deus. Agostinho foi batizado apenas aos 33 anos, após levar uma vida mundana, comum numa sociedade maioritariamente pagã. A sua mãe, Santa Mónica, que celebramos ontem, dedicou-se à oração e ao sofrimento para que a luz de Deus tocasse o coração do seu filho. Graças às suas orações, Agostinho converteu-se, e a partir desse momento, a sua vida mudou radicalmente.

Agostinho era um grande pensador e conseguiu expressar a fé não apenas com palavras suaves, mas também com a luz da razão, mostrando que a fé não é absurda, mas a maior sensatez que existe. Ele afirmou ter pesquisado e procurado em todos os caminhos da razão e chegou à conclusão de que Deus deve vir ao nosso encontro para que possamos verdadeiramente entender. Agostinho é um grande doutor na união entre ciência, razão e fé, mostrando que o cristão deve abrir os olhos, investigar e buscar a verdade, não se contentando apenas com crer sem questionar.

Agostinho também se dedicou à reorganização da sua diocese como bispo. Ele acreditava que quem preside não é um chefe, mas sim alguém que orienta e ajuda toda a comunidade a buscar o rosto de Deus. Presidir, para Agostinho, não significava ser servido ou idolatrado, mas sim orientar o povo de Deus, lembrando sempre que o único mestre e senhor é Cristo. Este sentido de presidência foi algo que ele cultivou com grande cuidado, incentivando a vida comunitária entre os presbíteros da sua diocese, pois sabia que a fé perde credibilidade se os líderes não vivem em fraternidade e não dão bom testemunho.

Hoje, quando falamos de uma Igreja sinodal e da transformação pastoral das nossas dioceses, o nosso padroeiro, Santo Agostinho, continua a ser uma enorme inspiração. Ele nos ensina a buscar uma linguagem que possa ser compreendida pelo povo de hoje, sem inventar nada de novo, mas expressando de modo claro e compreensível o que já é tradição da fé. Isso é essencial para que a Igreja possa transformar a vida das pessoas, viver a fé de forma plena e anunciar o Evangelho numa sociedade que tanto necessita.

A alternativa a essa vivência plena da fé seria a divisão, tanto dentro como fora da Igreja. Mas o que Deus nos propõe, e que Santo Agostinho exemplifica, é uma maneira de ser Igreja que acolhe o dom de Deus, que partilha entre todos nas comunidades, e onde cada um contribui para o projeto de Deus. A nossa Igreja, em Leiria e no mundo, deve abrir-se sempre ao mundo, procurando, como Agostinho, o rosto de Deus, para que Ele toque o coração dos homens e mulheres do nosso tempo com a mesma alegria, solidez, fraternidade e devoção que Santo Agostinho nos ensinou.

Que ele interceda por nós, para que possamos encontrar o rosto de Deus na sua Igreja, amá-la, servi-la, e fazer com que ela seja verdadeiramente missionária neste mundo em que vivemos. Amém.

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