Pego no meu caderno do Facebook, a meio tarde. Tarde de um dia em que, Deus me perdoe, sinto vontade de rir com a natureza, que parece querer brincar com pessoas e instituições pela inquietação que as envolveu, nas últimas horas, temendo uns o mau tempo, outros dispondo – se a uma resistência que, afinal, nada teve de heróico.
Dei uns dias de descanso aos meu amigos do facebook, não por falta de assunto – alguns esboços ficaram em embrião – não por falta de assunto, mas porque, apesar de estar livre de compromissos profissionais, de vez em quando assaltam-me outras prioridades.
Hoje pareceu-me que a falta de memória de que Jesus censura os discípulos, merecia uma atenção especial, até porque talvez haja muitas pessoas a lerem mal este episódio do Evangelho, precisamente porque não entendem bem, como os discípulos não entenderam, a primeira recomendação de Jesus.
– Tende cuidado com o fermento dos fariseus e o fermento de Herodes!
Como iam preocupados com as consequências do esquecimento em relação às provisões necessárias para a viagem, nem a admiração que nutriam poe Jesus os ajudou a pensar que certamente Ele iria aproveitar a oportunidade para lhes falar de outros cuidados, mais prementes para uma visão da vida que não fosse puramente horizontal, menos dependente das necessidades corporais.
Até porque, quanto a estas, se viesse acontecer tornarem-se insolúveis de outro modo, sabiam que o Mestre, como havia já feito, não deixaria de exercer o poder que tinha, em comunhão com o Pai.
Aí está algo de muito grave!
Que os outros, os que andam sempre distraídos, ou nem sequer se dão conta da passagem de Deus, pela vida dos homens, se eixem de tal modo afogar nos cuidados temporais, que até um simples apelo do benso senso lhes soa a censura, quando naã brinacdeiar de mau gosto, não espanta.
Mas os discípulos, mesmo aqueles que navegam com Ele, cumprindo as suas ordens, é inaudito. No entanto, se o Espírito Santo conduziu a pena do autor sagrado de modo a deixar-nos esta narrativa, não foi para ficarmos a saber como se comportavam os primeiros seguidores de Jesus.
A Igreja, todos e cada um de nós, fazemos uma viagem mais longa através de um mar mais irrequieto, sempre fazendo-se rogado na altura da pesca, e frequentemente agravando a ausência de provisões com a fúria das tempestades: a água que afoga e mata, será sempre mais perigodsa do que a fome e a sede, para as quais teremos o conforto de todas estas, a msi necessária,l de si mesmo imprescindível, é a fé.
E é precisamente da falta desta que Jesus censura os discípulos.
– “Porque estais a discutir que não tendes pão? Ainda não entendeis nem compreendeis? Tendes o coração endurecido? Tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis? Não vos lembrais quantos cestos de bocados recolhestes, quando Eu parti os cinco pães para as cinco mil pessoas?”
Mais uma vez, o mar!
O mar e a ordem de Jesus, que não nos quer presos a entusiasmos falazes, momentos de glória que podem fazer-nos esquecer de que o mundo real, aquele que Deus quer salvar connosco, está do outro lado; e se não nos apressamos, o inimigo, esse Satanás tão bem pintado pelo autor do livro de Jó, chega primeiro, com todas as seduções que, desde a tentação primordial, vai adaptando, a ver se consegue uma gargalhada definitiva contra o amor com que Deus nos criou e nos deu tudo.
Tudo, principalmente aquilo que temos frequentemente a ilusão de conquistar sem Ele, contra Ele.
Não devemos esquecer nenhuma das provisões necessárias para a extensão e periculosidade da travessia, incluindo o bom senso de não caitrmso nas ciladas do farisaísmo dos crentes sem fé e o oportunismo dos poderosos como Herodes.
Mas o que não pode nunca faltar-nos é a fé: esse abandono confiado no Timoneiro, que é Cristo, o qual, assim como matou a fome, antes que ela matasse quem O seguira, ansioso pela Sua palavra, também nos acudirá quando, para obedecer a essa palavra, cortámos as amarras, todas as amarras que pudessem de qualquer modo impedir ou diminuir o ritmo da marcha.
Sem provocar nada nem ninguém, há que dar este testemunho de uma fé que nos ajuda a estar no mundo, sem ser do mundo, mesmo correndo risco de nos acusarem de desinteresse pela sociedade.