Família, Paz e Reforma da Igreja

Homilia da Missa de Final de Ano 2014

 

 

Família, Paz e Reforma da Igreja

† António Marto

Santuário de Fátima

Missa de Final de Ano, 31 de dezembro de 2014

Ref.ª: CE2014B-013

Seguindo um belo costume reunimo-nos aqui em família e assembleia eucarística, nesta noite, para celebrar a passagem de ano. Saúdo fraternalmente todos vós que viestes a este encontro.

A última hora do ano tem um simbolismo próprio e uma densidade particular. De certo modo é como que a síntese de todas as horas do ano prestes a terminar. Nela recolhemos como num cesto todas as horas, os dias, as semanas e os meses que vivemos para oferecer tudo ao Senhor. Por isso, nesta celebração temos  motivos para dar graças a Deus pelos muitos dons concedidos pela sua bondade, pelas pequenas e grandes maravilhas da sua graça na vida de cada um, da Igreja e do mundo, pelo caminho pastoral percorrido pela nossa Igreja diocesana e pela Igreja universal. Salientarei apenas e brevemente três dons pela sua relevância e repercussão eclesial.

 

O Ano da Família

Antes de mais queremos agradecer ao Pai celeste com intenso fervor o ano pastoral dedicado à família. Com este ano  pastoral queremos suscitar no coração de cada crente, em cada comunidade cristã e na sociedade uma maior consciência da dignidade e do valor do matrimónio e da família, hoje tão esquecidos ou menosprezados. Trata-se do património mais belo, mais precioso e mais valioso da humanidade que exige o melhor cuidado. “A família torna-se bênção e graça para todos e cada um e boa nova para o mundo”(Papa Francisco).

A nível diocesano, a carta pastoral em ordem a descobrir “A beleza e a alegria de viver em família” e as correspondentes propostas pastorais  suscitaram uma significativa adesão. Com catequeses, celebrações, encontros formativos, campanhas, jantar de namorados, preparação de noivos, conferências…, foi grande o empenho para levar a saborear o dom precioso do amor, do matrimónio e da família.

A nível universal, o Papa Francisco convocou um sínodo dos bispos sobre “os problemas pastorais da família na perspetiva da evangelização”.  Procedeu a uma consulta prévia a todo o povo de Deus, que despertou interesse e envolvimento. Foi uma iniciativa pastoral muito corajosa de que se sentia verdadeira necessidade.

O Papa entregou agora a toda a Igreja o relatório final deste sínodo focado no Evangelho da família: a verdade e a beleza da família e a misericórdia com as famílias feridas e frágeis. Em anexo apresenta uma nova série de questões a aprofundar. Convida todos os fiéis a rezar para que o Espírito Santo ajude a Igreja no exercício de discernimento espiritual sobre estes problemas; e também a refletir individualmente e em grupo sobre as questões do documento de trabalho para o próximo sínodo sobre “ A vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Em breve confiaremos este documento às paróquias, aos movimentos e órgãos de consulta e pô-lo-emos à disposição de todos no site da diocese. Oxalá suscite o interesse e a participação dos fiéis.

A família merece este trabalho pastoral renovado para a felicidade dos seus membros e para o bem da sociedade. Como também requer uma viragem na política de apoio familiar. Colocar a família no centro da atenção e ação políticas é colocar no centro da política o presente e o futuro da sociedade.

 

A Paz: erradicar a chaga social da escravatura moderna

Com o tema da família está intimamente ligado o tema da paz proposto pelo Santo Padre para o primeiro dia do novo ano: “Não mais escravos, mas irmãos”. A família é o lugar primário da fraternidade e primeira escola de vida fraterna. A partir dela aprendemos e compreendemos a verdade básica da fé: em Deus não há lugar para a escravidão dos outros porque todos somos filhos do mesmo Pai celeste, irmãos em Cristo.

Hoje esta verdade continua a interpelar-nos perante novas formas de pobreza e de escravatura materiais e espirituais. “Hoje, milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de qualquer idade – são privadas da liberdade e obrigadas a viver em condições de escravidão: trabalhadores/as, mesmo menores, nos diversos sectores sem direitos inerentes ao trabalho digno; muitos migrantes obrigados a viver e trabalhar em condições indignas e sujeitos ao trabalho escravo; pessoas obrigadas a prostituir-se, entre elas crianças, autênticos escravos/as sexuais; menores e adultos objeto do escandaloso e abominável tráfico de pessoas,  de mercadoria para venda de órgãos humanos, arrolamento como soldados, atividades ilegais como produção ou venda de estupefacientes; redes de pornografia infantil; pessoas raptadas, torturadas ou mortas, por grupos terroristas”.

A escravatura é uma chaga social, um crime de lesa humanidade, uma vergonha da humanidade do século XXI, mas também chaga na carne de Cristo. Para a erradicar é precisa uma grande mobilização a nível local (famílias, escolas, paróquias) e a nível global da sociedade civil e das instituições dos Estados. Mas também é preciso que cada um saia da indiferença: “ Que fizeste do teu irmão, Abel”?

A paz exprime-se na fraternidade. Tem necessidade do nosso entusiasmo, do nosso cultivo quotidiano para aquecer os corações frios, sarar as feridas abertas, encorajar as almas desanimadas, iluminar com a luz do rosto de Cristo os olhos apagados, ver no outro um irmão a amar e a libertar de todas as cadeias de escravidão.

 

A reforma da Igreja e a santidade de vida

Recentemente, por ocasião do Natal e fim de ano, o Santo Padre dirigiu um discurso aos seus mais próximos colaboradores na Cúria onde enumera 15 doenças espirituais que podem afetar quem tem lugares de liderança na Igreja. A comunicação social deu-lhe um grande destaque apresentando-o como um catálogo de pecados da hierarquia e um puxão de orelhas. Mas o próprio Papa estende a exortação às comunidades, aos movimentos e organizações cristãos. Eu ousaria acrescentar que, mutatis mutandis, também cai que nem uma luva aos políticos que queiram servir o bem comum e não os interesses próprios, partidários ou de certos lóbis.

O discurso do Papa é verdadeiramente muito denso, forte e contundente como já há mil anos não se ouvia. Convida-nos sobretudo a um profundo exame de consciência, `revisão de vida pessoal e comunitária. Tem o seu núcleo no apelo a fazer memória do encontro com Cristo, a nunca esquecer a relação permanente com Ele, a evitar o Alzheimer espiritual, para que a Igreja saia de si e testemunhe Cristo vivo, o fascínio de Cristo e a alegria do Evangelho. No fundo, quer dizer que o coração da reforma da Igreja é interior, parte da conversão do coração, da santidade de vida para se estender à pastoral e às estruturas. Coloca-se assim na esteira do Concílio Vaticano II que afirma que “a Igreja necessita de uma purificação permanente” para refletir a luz de Cristo. Este apelo encontra eco particular no Ano da Vida Consagrada e no programa pastoral do nosso Santuário sob o lema “Santificados em Cristo”.

Na última noite do ano manifestemos também nós ao Senhor o sincero arrependimento e o pedido de perdão dos nossos pecados “por pensamentos e palavras, atos e omissões”: Senhor, tende piedade de nós! Livra-nos do mal que é o pecado, de todo o mal! A esperança de um mundo melhor também passa pela conversão e pelo perdão.

Ponhamos os nossos votos, anseios, necessidades e esperanças para o novo ano nas mãos de Maria, nossa terna mãe. Santa Maria, Mãe do Redentor, acompanha-nos nesta passagem de ano. Obtém-nos o dom da paz. Mãe de Deus, rogai por nós!

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