Este é o tempo da misericórdia: refazer um mundo que se está a desfazer

 

Homilia de final de Ano 2016

 

 

Este é o tempo da misericórdia:

refazer um mundo que se está a desfazer

† António Marto

Santuário de Fátima, 31 de dezembro de 2016

Refª: CE2016B-017

Despedimo-nos do ano 2016 com uma longa lista de problemas não resolvidos aos quais acrescem novas tensões, fraturas e conflitos, nomeadamente a chamada “terceira guerra mundial em episódios”. A dor do mundo parece que vai aumentando e as mortes de tantos “santos inocentes” parecem eclipsar as esperanças geradas pelos “nascimentos” de tantas iniciativas e gestos de solidariedade e de paz.

Verificamos, porém, que todo o drama humano suscita o aparecimento de pequenos ou grandes gestos de bondade, amor e solidariedade mesmo se não fazem notícia nos telejornais. Onde se gera um novo sofrimento, surge gente concreta que se solidariza com quem sofre, que partilha o que tem ou que arrisca o bem-estar ou a vida pelos outros e contra a injustiça. Pudemos ver isso no drama dos refugiados, nas situações de terrorismo, nos conflitos do Medio Oriente, no terramoto do Haiti ou aqui mais perto de nós por ocasião dos incêndios na Madeira…

É necessário refazer ou recompor um mundo que se está a desfazer, a descompor. Importa nunca desanimar. As leituras da Palavra de Deus são, ao mesmo tempo, ação de graças e invocação à misericórdia de Deus capaz de recompor o nosso mundo dilacerado, ferido, dividido. Nesta linha focarei dois aspetos mais marcantes de 2016, na Igreja universal e na Igreja em Portugal, e uma indicação sobre a paz para 2017.

O Ano Jubilar da Misericórdia

Foi um período muito importante e positivo para a Igreja e para o mundo. Em primeiro lugar, porque nos recordou ou descobriu todos os aspetos tão belos e ricos de um Deus misericordioso, que não se cansa de abrir, de par em par, a porta do seu coração de Pai, para nos repetir que nos ama, que está sempre pronto a acolher, a perdoar a libertar, a curar, a levantar, a renovar. Isto consolou muita gente e ajudou-a a aproximar-se de Deus. A mim fez-me muito bem escutar e meditar tudo isto sobre a misericórdia divina.

Em segundo lugar, porque nos mostrou outra imagem de Igreja: acolhedora, aberta, que não exclui ninguém, que não se separa de nada mesmo com o risco de se contaminar; uma Igreja que sai para as periferias e vai até ao último, ao mais afastado. “A Igreja não está no mundo para condenar, mas para permitir o encontro com aquele amor entranhado que é a misericórdia de Deus”, lembra-nos o Papa Francisco.

Não se pode conhecer Deus sem a misericórdia, nem um cristão que não seja misericordioso através das obras de misericórdia corporais e espirituais. São obras que mudam a qualidade de vida e promovem uma nova cultura do cuidado, da atenção, do apoio, do encontro, da inclusão: uma verdadeira revolução cultural!

O Papa Francisco soube conduzir muito bem este ano santo e a Igreja nos caminhos da misericórdia. Os seus textos tão atuais – a bula “O rosto da misericórdia”, a carta “A misericórdia e a fragilidade” e a exortação apostólica “A alegria do amor” nas famílias – e os seus gestos de ternura e de compaixão para com os pobres, os mais frágeis, os descartados, estão mudando o mundo pouco a pouco. Isto é muito importante para um mundo tão necessitado de novas esperanças, certezas e valores.

O Jubileu Centenário das Aparições

A proximidade misericordiosa de Deus manifestou-se de modo extraordinário nas aparições de Nossa Senhora em Fátima cujo jubileu centenário estamos a celebrar. Em Fátima, Nossa Senhora oferece-nos o seu coração e o seu olhar para contemplarmos e acolhermos a ternura e a misericórdia divina que se oferece como força e limite face ao poder devastador do mal nas barbaridades das duas guerras mundiais e como conforto à Igreja peregrina, ferozmente perseguida e ameaçada de aniquilação.

Em recente carta pastoral intitulada “Fátima, sinal de esperança para o nosso tempo”, os bispos portugueses olham para as aparições e para a mensagem como uma bênção de misericórdia e de paz para a Igreja e para a humanidade. Esta bênção é acompanhada por uma séria advertência à humanidade sobre o esquecimento de Deus e o desprezo da dignidade da pessoa e da vida humana; e pelo convite a cada um a acolher os dons de Deus e a colaborar com os desígnios de misericórdia e paz, a exemplo dos pastorinhos, através da conversão dos corações, da oração e adoração e da reparação do mal que corrompe e destrói o mundo. O povo fiel de Deus compreende que Fátima é mensagem e lugar de bênção, de conforto, de renovação espiritual e de esperança quando acorre em peregrinação. Deu um grande testemunho disso quando acolheu, em júbilo e com emoção, a visita da Imagem peregrina como símbolo da mãe que visita os filhos nas suas casas.

É verdadeiramente espantoso como Fátima irradiou e continua a irradiar, ao perto e ao longe, para todo o mundo e a tornar-se centro de atração, verdadeiro altar do mundo!

Estamos nós verdadeiramente conscientes do dom das aparições da Virgem Mãe em Fátima? Estamos dispostos e disponíveis a responder e a corresponder aos seus apelos?

Vamos, pois, viver o Jubileu do Centenário em ação de graças e como uma experiência forte de graça e de paz com a presença e o impulso do nosso querido Papa Francisco!

A cultura da não-violência ativa e criativa para a paz

Este ano celebramos uma outra efeméride digna de registo: o 50º aniversário da jornada mundial da paz, instituída pelo beato Paulo VI. Por esta ocasião, o Papa Francisco dirige-nos uma mensagem muito pertinente. Hoje estamos a assistir à exibição da violência cega, brutal e cruel nas mais variadas expressões, ao longe ou à beira das nossas casas, como sendo o modo normal de resolver conflitos, atritos ou controvérsias. Perante este cenário, o Papa alerta para a necessidade de uma nova cultura da não-violência ativa e criativa como estilo de vida, de convivência e de uma política para a paz. “Desde o nível local e quotidiano até ao da ordem mundial, possa a não-violência tornar-se o estilo caraterístico das nossas decisões, das nossas relações e ações, da política em todas as suas formas”. A cultura e as politicas de não-violência devem começar a edificar-se antes de mais no coração de cada um e no interior da família donde deve ser banida toda a violência doméstica que incrivelmente ainda hoje persiste.       

O Papa conclui assim a sua mensagem: “No ano de 2017 comprometamo-nos, com a oração e a ação, a tornar-nos pessoas que baniram do seu coração, das suas palavras e dos seus gestos a violência e a construir comunidades não violentas que cuidem da casa comum”.

Este é o tempo da misericórdia

Em síntese final podemos dizer com o Santo Padre: “Este é o tempo da misericórdia...

É o tempo da misericórdia para todos e cada um, para que ninguém possa pensar que é alheio à proximidade de Deus e à força da sua ternura.

É o tempo da misericórdia para que quantos se sentem fracos e indefesos, afastados e sozinhos possam individuar a presença de irmãos e irmãs que os sustentam nas suas necessidades.

É o tempo da misericórdia para que os pobres sintam pousado sobre si o olhar respeitoso, mas atento daqueles que, vencida a indiferença, descobrem o essencial da vida.

É o tempo da misericórdia para que cada pecador não se canse de pedir perdão e de sentir a mão do Pai, que sempre acolhe e abraça.

Sobre nós permanecem pousados os olhos misericordiosos da Santa Mãe de Deus. Ela é a primeira que abre o caminho e nos acompanha no testemunho do amor. A Mãe da Misericórdia reúne a todos sob a proteção do seu manto. Confiemos na sua ajuda materna e sigamos a indicação perene que nos dá de olhar para Jesus, rosto radiante da misericórdia de Deus”. Que Ela nos acompanhe com a sua bênção ao longo do novo ano!

 

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