Entrevista ao Padre Joaquim Domingos, diretor do Serviço de Animação Missionária.
O padre Joaquim Domingos Luís, da Congregação dos Missionários do Verbo Divino (SVD), assumiu funções como diretor do Serviço de Animação Missionária da Diocese no passado dia 16 de setembro. Na ocasião, o sacerdote manifestou-se grato pela missão que lhe foi confiada e empenhado em cumpri-la da melhor forma.
Em entrevista ao PRESENTE, o padre Joaquim Domingos falou do seu percurso, da Missão e dos objectivos que tem para o serviço diocesano.
Como assumiu as novas funções de diretor do Serviço de Animação Missionária de Leiria-Fátima?
O senhor Bispo pediu à SVD se poderíamos assumir o Serviço de Animação Missionária da Diocese, uma vez que o padre David Nogueira vai assegurar a geminação com a diocese do Sumbe, em Angola. O nosso provincial incumbiu-me desta tarefa, uma vez que já sou secretário das missões na nossa congregação. Vai dentro do nosso carisma, a nossa presença nas chamadas ‘igrejas da cristandade’, para manter vivo o dinamismo missionário.
Foi uma resposta pronta?
Tive que refletir um pouco, mas posso dizer que sim. Vai haver mais sobrecarga de trabalho, mas tudo se faz!
O que faz o secretário das missões da SVD?
Coordeno a animação das nossas comunidades e a angariação de fundos para as nossas missões.
Como foi o seu percurso?
Sou natural de Santa Catarina, de Caldas da Rainha e, aos 11 anos, vim estudar para o Seminário do Verbo Divino, em Fátima. Foi uma grande oportunidade de crescer num espírito aberto e com grandes educadores. Foi aqui que discerni sobre a minha vocação, sobretudo pelo testemunho de missionários da congregação que me ajudaram a perceber que era este o meu caminho.
Em que momento percebeu que estava a fazer caminho nesse sentido?
Quando terminei o liceu, fui fazer o noviciado, para o Seminário da SVD de Guimarães. Mais tarde, estive em Lisboa, onde completei dois anos de estudos de introdução teológica e filosófica, após os quais fiz um ano de estágio na animação missionária. No final deste período, pedi para fazer uma experiência fora do país. Fui estudar teologia para Inglaterra, para um instituto internacional, o Instituto Missionário de Londres, durante quatro anos, onde tive a oportunidade de contactar com outros jovens e missionários que vinham de África, América do Sul e Ásia, para fazerem um tempo sabático. No final deste período, fui ordenado sacerdote, em 1987.
O que veio fazer, no regresso a Portugal?
Primeiro, estive a colaborar como formador aqui, no seminário, enquanto aguardava por cumprir o serviço militar. Depois, estive como capelão militar na Base Aérea de Monte Real e das Irmãs Clarissas. Depois de terminado o serviço militar, o provincial da congregação pediu-me para ajudar na formação, em Guimarães. Passado um ano, estive seis meses em Paris para aprender francês, antes de partir em missão para o Benin, na costa ocidental de África, onde estive onze anos.
Que trabalho desenvolveu durante esse tempo de missão?
Para onde fui é uma zona de primeira evangelização, o que significa que o anúncio da Palavra é a principal tarefa. Apostámos muito na formação de catequistas e líderes de comunidade. A maior parte das minha atividades relacionavam-se com a formação, mas também colaborei na promoção humana, desde abertura de poços, apoio a estudantes, na área da saúde,… Fiz de tudo um pouco!
O que recorda desse tempo?
Sobretudo o amor do povo… Pessoas simples, das aldeias, para quem a nossa presença tem um grande significado e que têm um carinho muito especial pelos missionários. Quando íamos às aldeias e por lá pernoitávamos, as pessoas ofereciam-nos as melhores condições para que estivéssemos confortáveis. Outro aspeto que sempre me impressionou foi a alegria do povo, a maneira de celebrar a vida e a fé com dança, canto e uma participação ativa e entusiasmada.
Essa experiência deu-lhe uma imagem mais clara sobre a Missão…
Sem dúvida… No início, enquanto adolescentes e jovens, podemos ter uma visão um bocadinho romântica da Missão, da aventura em terras distantes e diferentes, mas, no terreno, percebemos que não é bem assim.
Como é, então?
A Missão tem de partir da nossa experiência do amor de Deus… O querermos partilhar com os outros a nossa fé no Deus que nos ama. Hoje em dia, dizemos que a Missão não é nossa, é de Deus. Uma das coisas que me impressionou foi precisamente a ação do Espírito de Deus. Estive em algumas comunidades em que havia apenas catecúmenos, que não podiam ser batizados porque tinham condições matrimoniais irregulares, mas o Espírito Santo agia através deles para avivar a fé e congregar as pessoas na celebração dominical da Palavra.
Outra dimensão importante é a da promoção humana e de anúncio da paz, sobretudo se estivermos em África, onde a grande missão da Igreja também passa pela reconciliação dos povos. Uma outra área fundamental, neste continente, é a promoção da mulher, porque, como um dos presidentes do Senegal disse, “educar uma mulher é educar um país”. Uma mulher bem formada não se submete ao machismo e forma e cria bem os filhos de uma nação.
E as dificuldades?
Nem tudo são facilidades: a adaptação ao clima, à língua e à cultura, à comida e sobretudo a doença, o paludismo que nos deixa bastante fragilizados, física e psicologicamente.
Como foi regressar após onze anos em Missão?
Não foi uma adaptação fácil. Quando voltei, trabalhei na pastoral universitária, em Guimarães, e notei muita indiferença no meio académico o que, tendo em conta a realidade de onde vinha, me deixou um pouco chocado. Mas avalio a experiência como positiva, sobretudo pelos laços que ficaram. Trabalhei também na animação paroquial e missionária.
Entre 2011 e 2014, fui para São Paulo, no Brasil, onde estive a estudar missiologia, período durante o qual colaborei na ação pastoral de uma paróquia, na região leste da cidade. Quando regressei a Portugal, assumi a função de secretário das missões da SVD e, mais recentemente, as funções de diretor do Serviço de Animação Missionária de Leiria-Fátima.
Neste curto espaço de tempo, o que já deu para conhecer?
Já conheci o grupo missionário diocesano Ondjoyetu e colaborei na organização, no ano passado, com o padre David Nogueira, e outros missionários a Semana Missionária, na vigararia da Batalha. Espero, nos próximos tempos, conhecer toda a realidade missionária diocesana, para podermos trabalhar em equipa.
Já tem algum objetivo para este serviço?
Gostaria que pudéssemos alargar o Serviço de Animação Missionária na Diocese, para que compreendesse todos os institutos e grupos de leigos missionários, criando uma rede de animação missionária, que possa avivar este espírito nas paróquias. A ideia é congregar todos os esforços para uma maior colaboração na animação missionária.
Não é fácil explicar a Missão a quem não viveu, pois não?
Podemos e devemos dar testemunho, mas é só indo lá que as pessoas podem experimentar o que é o acolhimento, a felicidade na simplicidade e uma maneira de viver muito diferente da nossa.
A Missão, hoje, mais que uma questão geográfica, é sobretudo a partilha da nossa experiência de fé com o outro. É um tu a tu, ou uma partilha da fé de coração a coração, como sublinha o documento dos bispos portugueses sobre a Missão “Como eu vos fiz, fazei vós também”.
Que sublinhados faz da mensagem do Papa para o Dia Mundial das Missões?
Em primeiro lugar, que a primeira missão da Igreja é anunciar a misericórdia, “no rosto misericordioso do Pai, revelado em Jesus”. Depois, o papel da mulher na Missão que, ao lado dos homens, põe em prática as características femininas do acolhimento, da atenção ao outro e do cuidar da vida, e ainda a missão das famílias. Por fim, o papel dos missionários em situações de conflito, de guerra e injustiça, na promoção da paz e da concórdia. São estes os pontos que considero mais importantes na mensagem deste ano.
O mais importante, é deixarmo-nos encontrar por Jesus. Quem se deixa encontrar, sente uma grande alegria e um desejo de a partilhar com os outros, sempre num espírito comunitário, porque ninguém é cristão sozinho. É a partir daí que a Missão começa!