Uma assembleia de cerca de 300 pessoas encheu o salão paroquial da Bajouca, na sexta-feira 27 de março, para participar no encontro vicarial de Monte Real com o bispo diocesano, D. António Marto.
As crianças filhas de casais presentes também tiveram o seu espaço e atividades próprias. “As fragilidades da família: sua prevenção e terapia” foi o tema abordado a várias vozes e bebido com máxima atenção e interesse.
O cântico inicial deu o tom e indicou o caminho para promover famílias fortes: “Deixa Deus entrar na tua própria casa, deixa-te tocar pela sua graça…” Mais adiante, Maria Acciaiuoli Barbosa Ducharne, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, que desenvolveu o tema em debate, indicou três pilares para a prevenção e terapia das fragilidades da família: a expressão e regulação emocional, a comunicação aberta e flexível e a supervisão do comportamento dos filhos por parte dos pais, sabendo definir limites e corrigir atempada e adequadamente os comportamentos inadequados.
Não há ninguém invulnerável, não há famílias perfeitas”
Maria Barbosa defendeu que a “família é construção” e abordou o tema na perspetiva da psicologia do desenvolvimento. Perguntando o que é uma família, apresentou as respostas de duas crianças. Uma diz: “somos todos os que vivemos lá em casa: a mãe, o pai, os manos, a avó…” E outra: “é onde vivemos, crescemos e morremos”.
Clarificou em seguida as funções a começar pela satisfação das necessidades básicas dos seus membros, estimulação cognitiva e de compreensão da realidade, socialização, fonte de afeto, confiança e segurança. Nesta linha, sublinhou a sua importância no desenvolvimento dos afetos e demais competências para enfrentar a vida e estabelecer relações seguras. Quando há ausência ou negligência dos pais, as crianças podem entrar em stresse, o que as pode levar a sentirem-se sem valor, inseguras, incapazes. As famílias passam por diferentes fases, experimenta múltiplas fragilidades, mas também descobre em si forças para crescer com elas e as superar.
Adotar é oferecer pais a crianças que deles carecem
Maria Barbosa referiu também a problemática das ruturas da família e da difícil situação das crianças sem pais permanentes, acolhidas em instituições ou por famílias adotivas. Às crianças adotadas é importante falar-lhes dessa sua condição desde o primeiro dia. A grande preocupação com a adoção não é tanto dar filhos a pais que os não podem ter, mas sobretudo dar pais a crianças que carecem deles. Daí que se devam escolher os pais que apresentem as melhores condições para amar e cuidar das crianças que lhes vão ser confiadas.
No diálogo, as questões versaram sobre a problemática educativa das famílias com um só filho, a maternidade e paternidade em idade mais madura, a adoção por pais homossexuais. Nas respostas, apontou a necessidade de os pais se prepararem para a sua missão, fazerem conviver os filhos sem irmãos com outros familiares ou crianças de famílias amigas, proporcionando-lhes relações próximas das fraternas. Por fim, Maria Barbosa denunciou as discriminações que se verificam nas escolas. Não há somente as de raça, há também crianças discriminadas por serem adotadas ou por pertencerem a uma família de orientação homossexual.
Reflexão preparatória nas famílias
A equipa vicarial de pastoral familiar distribuiu de casa em casa uma mensagem sobre o tema com questões para o debate. O casal Helena do Mar e Nuno Ventura apresentou de forma dinâmica os contributos recolhidos, destacando que o mais importante “foi que as famílias, pais e filhos, tivessem refletido juntos”.
Depois, indicaram as palavras mais pronunciadas. Quanto às fragilidades da família, foram mencionadas a falta de diálogo e de paciência, o stresse, a gestão do orçamento familiar e do tempo, não escutar… Quanto aos dons, encontram-se nela amor, fé, filhos, vida, saber escutar, alegria, paciência… À questão como curar os danos das fragilidades, apontaram: despertar para os valores mais importantes, acreditar todos os dias que Deus não nos dá dificuldades superiores às nossas forças, ser o primeiro a amar e amar como Jesus. Finalmente, para se fortalecer e evitar fragilidades, as palavras que mais aparecem são: amor, Deus, relação, família, perdoar, diálogo, juntos, verdade, oração, testemunho… E, sobretudo, “fazer o nosso melhor para confiar em Deus”.
“É a família que introduz a fraternidade no mundo”
Na oração inicial, comentando a exortação de S. Paulo aos Romanos sobre a missão do cristão no mundo, D. António Marto apelou ao anticonformismo e a não deixar corromper o próprio coração. Afirmou que “a família é chamada a ser alma do mundo”, infundindo nele amor, valores, ideais, vida, calor, espírito… Falando da missão da família, esta é que “introduz a fraternidade no mundo”, referiu. Mencionou também as várias dimensões abordadas nos encontros vicariais em toda a Diocese: a educação, o trabalho, as relações intergeracionais, as fragilidades na saúde, nos afetos, nos comportamentos morais e sociais, etc. Concluiu, afirmando que “se a família dá tanto à sociedade e à Igreja, tem direito a ser ajudada para cumprir eficazmente a sua missão: apoio de políticas favoráveis e ajuda pastoral por parte das comunidades cristãs”. Tendo condições para a sua missão, a família será então uma bênção para os seus membros, para a Igreja e para o mundo.
Apesar da hora adiantada, após os agradecimentos do vigário da vara, padre Alcides Neves, os participantes viveram ainda um momento de confraternização à volta da mesa, no clima de fraternidade que o encontro gerara.