Uma segunda-feira que procurou relembrar 94 anos de vida. O cortejo fúnebre por alma do padre Joaquim Rodrigues Ventura iniciou dia 12 de junho pelas 10h00 na Igreja do Juncal, sua terra natal.
Joaquim Ventura, nascido a 4 de fevereiro de 1929, foi um homem que existiu para servir. Serviu na Câmara Eclesiástica e no Santuário de Fátima, como pároco na Atouguia, como professor de Religião e Moral, Francês e História e, ainda, como capelão militar em Monte Real.
Acompanhou a elaboração e execução do projeto do Colégio de S. Miguel, em Fátima, tendo sido seu diretor durante mais de quatro décadas. “Amizade, Verdade e Exigência” – este é o lema do Colégio S. Miguel. São inúmeros os alunos que, por estes valores, estão gratos ao Colégio e, mais especificamente, ao ex-diretor, pela educação que receberam e que influenciou diretamente naquilo em que se tornaram hoje.
Neste sentido, foi o responsável diocesano do Departamento Pastoral da Escola Católica promovendo a criação da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular (A.E.E.P), entre a integração de inúmeras outras causas, nomeadamente na área da educação.
Foi o fundador da Arca da Aliança, instituição de solidariedade social, com o intuito de acolher crianças desfavorecidas e idosos, de onde nasceu a Aldeia Intergeracional. Pelas suas palavras, “o projeto da Aldeia Intergeracional nasceu como um rebento natural da árvore «Fundação Arca da Aliança», como uma das suas expressões mais marcantes, uma forma privilegiada da encarnação do seu projeto fundamental «existir para servir» no seio da comunidade e na vida das pessoas».
Estes são apenas alguns registos das suas grandes iniciativas, um homem de profundas e nobres convicções, que mais do que pensar, agiu. Lutou por um ensino de qualidade e para que o ensino particular e escolas católicas tivessem o reconhecimento e apoio públicos e da comunidade merecidos.
Na igreja do Juncal, o padre António Cardoso celebrou a missa com os familiares e amigos presentes. “Aos olhos dos insensatos parecem ter morrido; a sua saída deste mundo foi considerada uma desgraça, e a sua partida do meio de nós um aniquilamento. Mas eles estão em paz.” Fez-se ouvir na primeira leitura do livro da Sabedoria. A cada palavra, mais sentido a leitura fazia.
Às 11h30 o cortejo seguiu para a Aldeia Intergeracional da Fundação Arca da Aliança, em Fátima. Diferentes utentes do lar e pessoas amigas entravam e saiam para se poderem despedir uma última vez do corpo do padre Joaquim Ventura.
Por volta das 14h00, saiu da Aldeia em direção ao colégio S. Miguel, onde foi saudado com as palavras do atual diretor, Manuel Lourenço, pelo representante dos funcionários, Armando, por uma professora, Conceição Primitivo e pelo capelão, padre Varela. Após os discursos, foi cantado o Hino do Colégio e aplaudido demoradamente por todos os presentes.
Daqui, seguiu para a igreja paroquial de Fátima, local onde a Eucaristia iniciou às 16h00. A celebração começou com as palavras do padre Jorge Guarda que, após uma breve biografia, apresentou “condolências à família do padre Joaquim Ventura e a quantos mais sentem a sua inesperada e trágica partida, especialmente na Fundação Arca da Aliança”.
Foi um momento arrepiante, com pessoas queridas vindas de todo o lado, contou com as vozes de cerca de 40 padres da Diocese e, entre eles, o bispo D. José Ornelas, o bispo emérito D. António Marto e, ainda o bispo emérito de Portalegre e Castelo Branco, D. Augusto César. Antes da bênção final, demos ouvidos ao discurso da Associação de Escolas Católicas que relembrou o papel mobilizador que Joaquim Ventura teve em prol da liberdade de educação em Portugal. A sepultura realizou-se no cemitério local.
Uma vida de entrega aos outros, a Deus e à oração. Joaquim Ventura era sinónimo de mão amiga, solidariedade cristã, dedicado à arte e educação, à cultura e espiritualidade.
“Padre Ventura, este povo não imagina quanto lhe deve. Devia erguer-lhe uma estátua!” – as palavras do Senhor engenheiro Martins Correia, o autor do projeto da instalação da luz elétrica para a sede da freguesia da Atouguia. Projeto este que apenas ganhou pernas devido à iniciativa e persistência de Joaquim Ventura. A verdade é esta, talvez merecesse uma estátua, mas o padre Joaquim Ventura, enquanto servo do Evangelho, não esperava nada em troca para além da concretização das suas missões.
Será para sempre lembrado “no seu exemplo, determinação, capacidade de lutar e acreditar”, pelo “seu espírito de servir a comunidade e dar oportunidade aos mais desfavorecidos” – como disse José Alho, antigo aluno do Colégio S. Miguel. Foi, sem dúvida, um visionário com uma vontade firme de cumprir o seu objetivo de vida, uma missão que lhe foi confiada.
O padre Joaquim Ventura parte, mas as suas obras ficam. Entregando-se tanto à Diocese de Leiria-Fátima, partiu sem avisar ninguém, mas todos quantos conseguiram se reuniram para se despedirem e juntaram-se para o relembrar eternamente.