DO BRASEIRO FUMEGANTE À ESPADA DO SOLDADO

Talvez não seja de todo inoportuno, reflectir um pouco mais demoradamente sobre o conteúdo simbólico dos primeiros dezoito versículos do capítulo quinze do livro do Génesis, donde se extrai o texto da primeira leitura desta quarta-feira.

Não será inoportuno, antes, será oportuno, penso eu, por duas razões fundamentais.

Primeiro, porque segundo o nosso calendário litúrgico, a Santa Igreja, comunidade crente, que reza como crê e crê como reza, viveu ontem com particular devoção o nascimento daquele que o próprio Jesus classificou como o maior entre os filhos dos homens: os homens, que, no entanto, por não suportarem as suas admoestações, o fecharam numa masmorra, primeiro, e depois o decapitaram na orgia dos tiranos e devassos.

A segunda razão, dada a extrema variedade dos seus conteúdos, sintetizo-a assim:

“O São João”, na linguagem comum dos nossos dias, embora tendo como fundo a figura do calendário litúrgico, pouco ou nada tem a ver com ela; diríamos até que, em certos casos, a ofende espectacularmente.

Julgo as pessoas, nem rejeito o folclore, no que tem de bom, como aceito o desperto e qualquer outra manifestação de verdadeira cultura.

Só gostaria que a grande figura do decapitado da fortaleza de Maqueronte fonte mais respeitado pelso que invocam o seu nome.

Depois, coincidência, ou talvez não, ontem reuniram-se os mais altos dirigentes políticos do mundo, tentando e propondo, disseram eles, novos caminhos para a paz; caminhos que, como prova a história de muitos séculos, nunca fizeram senão agravar a guerra e os seus males.

Neste campo, o sonho de R. Schumann e seus companheiros, terá nascido da força criadora de outros valores, menos dependentes do orgulho e da ambição dos homens: eles queriam uma paz que fosse construída sobre o consenso generoso de povos irmãos e não sobre o medo das armas, que esmagam sempre quem é mais fraco: e quantas vezes o não será, precisamente por ser o que tem mais razão.

Contam-se por centenas, se não milhares, as alianças cujo desfecho foi sempre uma guerra pior que aquela a que supostamente se queria pôr fim.

E é da lembrança disto, de uma tão longa série de alianças efémeras, porque sempre construídas sobre a humilhação dos vencidos, que parto para uma breve e pessoalíssima reflexão sobre o texto bíblico que, seguindo Paulo e Mateus, o nosso missal manda repetir aos sacerdotes, no momento da consagração:

TOMAI TODOS E BEBEI: ESTE É O CÁLICE DO MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA E ETERNA ALIANÇA.

Qual aliança?

Se é eterna, não pode ser outra: nova quer dizer renovada, consumada pela realização plena da assinatura do proponente, simbolizada naquele braseiro fumegante que, como faziam, nesse tempo, as pessoas unidas em aliança, passou entre os animais esquartejados:

“Quando o Sol desapareceu, e sendo completa a escuridão, surgiu um braseiro fumegante e uma chama ardente, que passou entre as metades dos animais” (Gen 15, 17).

Leva-me o coração, contrito, mas ardendo em ternura pelo Senhor, a contemplar a última cena do Calvário que nos é transmitida pelo “discípulo que Jesus amava”.

Alguns dizem que é João e não sou eu que vou negá-lo; mas junto à Crus não há pessoas que não sirvam também de figuras da revelação divina. Sinasi com que Deus, que fez a sua aliança com Abrão (Abraão), mostra o verdadeiro sentido dessa aliança e como se lhe é fiel.

Jesus tinha proclamado que tudo o que tinha como herdeiro do Pai, era nosso e, depois de confessar a sua ânsia de Salvador, verificando que tudo estava consumado, entregou-nos com essa herança ao Pai, no dom do Espírito Santo, que nos haveria de reconduzir à plenitude da Aliança.

Claro, os defensores da normalidade legal têm muita pressa: uns por boas razões, que temos de compreender, mas a maioria talvez por achar que os acontecimentos estavam a ser demasiado duros para o seu comodismo. E nunca lhes falta a conivência dos detentores do poder.

“Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água” (Jo 19, 33-34).

Ainda uma vez, alguém que não cabe nos parâmetros da normalidade.

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