Diocese celebra 480 anos com Eucaristia e cantata dedicada a santo Agostinho

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A Diocese de Leiria-Fátima celebrou, no dia 22 de maio, os 480 anos da sua criação, com um programa festivo marcada pela memória, pela fé e pela música. A data, que coincide com o feriado municipal de Leiria, reuniu centenas de fiéis na catedral da cidade e no Teatro José Lúcio da Silva, em dois momentos distintos mas ligados pela identidade comum da Igreja local.

Ação de graças pela história e missão da Igreja diocesana

As comemorações iniciaram-se com a celebração solene da Eucaristia de ação de graças, presidida por D. José Ornelas, bispo diocesano, às 19h15, na catedral de Leiria. A celebração teve como principal intenção a evocação dos 480 anos de existência da diocese de Leiria-Fátima, fundada em 1545, numa época marcada por grandes mudanças e desafios para a Igreja.

Na introdução à celebração, D. José Ornelas destacou a importância do ato como momento de reencontro com as raízes da fé, realçando que a comemoração do aniversário da Diocese é comparável à celebração de um nascimento numa família: «É nesse sentido que hoje celebramos esta Mãe Igreja, que nasceu há 480 anos e que, através de tantas peripécias, aqui está, permanece entre nós.»

Durante a homilia, o bispo diocesano reforçou o valor da memória histórica não como um mero exercício de saudade, mas como reencontro com a identidade cristã e impulso para a missão presente: «Este olhar para o passado […] é também um apelo a que, neste tempo — o único que nos é dado viver — continuemos a missão de Jesus no mundo.»

VÍDEO
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Com base nas leituras do dia, o prelado sublinhou que a fidelidade à missão passa por uma constante adaptação às novas realidades, à semelhança do que sucedeu com a Igreja nascente. Referindo-se à atual reorganização pastoral em curso na Diocese, nomeadamente à criação de unidades pastorais e ao reforço da comunhão entre comunidades e presbíteros, apontou o caminho sinodal como essencial para uma Igreja em transformação.

D. José Ornelas recordou ainda o contributo decisivo do Papa Francisco para essa renovação e manifestou gratidão pela eleição do novo Papa Leão XIV, cuja primeira mensagem — «A paz esteja convosco» — evocou o tempo pascal e o espírito da Ressurreição.

Antes de concluir, expressou um agradecimento especial ao padre António Cartageno e aos seus colaboradores pela criação da cantata dedicada a santo Agostinho, uma iniciativa integrada no programa pastoral diocesano e apresentada na noite da celebração.

Música e espiritualidade no palco do Teatro José Lúcio da Silva

Às 21h30, o público encheu o Teatro José Lúcio da Silva para assistir à apresentação da cantata Santo Agostinho — O cantor da sede de Deus, composta pelo padre António Cartageno. A obra, de inspiração profundamente espiritual e teológica, retrata o itinerário interior de santo Agostinho — patrono da Diocese juntamente com Nossa Senhora do Rosário de Fátima — desde a inquietação da procura até à paz do encontro com Deus.

Executada por um elenco de excelência, a cantata contou com a participação do tenor João Sebastião, um coro de 70 vozes coordenado pelo maestro José Leite e a Camerata de Cordas de Leiria, sob a direção do maestro Alberto Roque. O evento teve o apoio das câmaras municipais de Leiria, Ourém e Batalha, entre outras instituições, e insere-se no atual projeto pastoral da Diocese, que destaca a vocação batismal de todos os cristãos.

Inspirando-se em textos das Confissões de santo Agostinho, a obra musical percorre três grandes momentos: a angústia da busca, o júbilo do encontro e o louvor do homem justo. Com uma linguagem musical exigente e emotiva, a composição ofereceu à plateia uma experiência de beleza espiritual, centrada na sede de Deus que marca toda a vida do bispo de Hipona. Frases icónicas como «Tarde te amei» e «O nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Vós» foram magistralmente integradas na narrativa musical, revelando a densidade teológica e existencial do percurso de Agostinho.

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Uma celebração alargada no território diocesano

A cantata terá continuidade com apresentações no Teatro Municipal de Ourém, a 23 de maio, e nas Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha, a 24 de maio, ambas às 21h30. Estas sessões visam envolver toda a Diocese nesta celebração alargada, que não só evoca a memória de 480 anos de história, mas convida à renovação da fé e do compromisso eclesial.

ÁLBUM FOTOGRÁFICO
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Introdução à celebração, por D. José Ornelas

Celebrar a Eucaristia é sempre uma ocasião de ação de graças. É também uma ocasião de reunião da comunidade. E é, sobretudo, uma ocasião para nos reencontrarmos com as nossas raízes de fé.

Hoje, celebramo-la com um motivo muito especial: recordamos o aniversário daquilo que somos. É como quando, numa família, se celebra o casamento dos pais ou o nascimento de um filho. É nesse sentido que hoje celebramos esta Mãe Igreja, que nasceu há 480 anos e que, através de tantas peripécias, aqui está, permanece entre nós.

Está aqui, espalhada por este território que é a Igreja de Leiria-Fátima. Damos graças a Deus por tudo isto. Sentimo-nos herdeiros de uma memória feita de tantas vicissitudes, de alegrias e de tempos difíceis — de guerras, de destruição — mas também de reconstrução e de recomeço com a força do Senhor.

É de tudo isto que fazemos memória, preparando-nos, precisamente, ao recordarmos cada um e cada uma de nós, e, sobretudo, ao recordarmos a nossa Igreja. Não somos sempre perfeitos, mas estamos sempre a ser recriados pelo Espírito eterno, pelo Espírito de Deus, que constantemente nos reconcilia consigo e entre nós, e que nos confia a missão de continuar a missão de Jesus.

Transcrição integral da homilia proferida por D. José Ornelas

Celebrar estes 480 anos de vida da nossa diocese é, antes de mais, um motivo de ação de graças a Deus. A Eucaristia é isso mesmo — como o próprio nome indica — uma ação de graças, celebrada em comunidade, com consciência da história que nos precede, mas também atentos ao hoje de Deus para nós.

Este olhar para o passado não é apenas um exercício de saudade, mas sobretudo um reencontro com a nossa identidade como filhos e filhas de Deus e membros desta Igreja. E é também um apelo a que, neste tempo — o único que nos é dado viver — continuemos a missão de Jesus no mundo: anunciar o Evangelho da salvação, que transforma os corações e o mundo.

As leituras que hoje escutámos enquadram-se bem nesta celebração. Olhar para trás não significa apenas recordar os 1.545 anos de história da Igreja até à fundação da Diocese. Olhar para trás é regressar ao essencial: à presença de Jesus no mundo, que é o verdadeiro fundamento da nossa identidade e da nossa missão.

É isso que Jesus diz aos discípulos: «Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu guardo os mandamentos do Pai e permaneço no seu amor.» O mandamento do Pai é o projeto de dar vida a todos os que o acolhem. É essa a esperança que nos move: a presença contínua de Jesus, que nos dá força, alegria e comunhão, e que nos impele a trabalhar pela transformação do mundo, para criar laços de paz e de fraternidade — como dizia o Papa Leão XIII — neste mundo que tanto precisa.

É o amor de Deus que nos transforma e nos envia a transformar. E fazemos isso em Igreja. Como ouvimos nos Atos dos Apóstolos, esta celebração remete-nos para o primeiro concílio da Igreja — a chamada “Grande Assembleia de Jerusalém” — que marcou uma mudança decisiva. A Igreja era jovem, mas já precisava de se adaptar. Não porque o passado estivesse errado, mas porque as condições tinham mudado.

Jesus, ao tomar forma humana, fez-se próximo de nós. Assim também a Igreja, ao chegar a outros povos e culturas, teve de sair do conforto da tradição judaica e abrir-se ao mundo. Hoje, não descobrimos um mundo novo, mas vivemos num mundo em constante transformação. E é nesse mundo que a Igreja é chamada a encontrar caminhos novos — como então, reunindo apóstolos e anciãos — para ser uma Igreja sinodal, sempre em discernimento, sempre em escuta, sempre em conversão pastoral.

É isso que procuramos fazer com as transformações pastorais em curso: com a criação de unidades pastorais, com o esforço de intensificar a comunhão, com comunidades e presbíteros que vivem em fraternidade. No próximo domingo, celebraremos o início oficial da unidade pastoral de Leiria, como já foi feito noutros lugares. Tudo isso nasce do diálogo e da escuta, da capacidade de acolher a diversidade e de discernir juntos.

O mundo é diverso e a Igreja precisa de homens e mulheres que pensem com essa diversidade, guiados pelo Espírito, enraizados no caminho feito com Jesus. Só deixando-nos transformar por Ele seremos capazes de transformar a Igreja e de contribuir para um mundo mais justo, fraterno e pacífico.

Neste momento da história da nossa diocese, damos graças a Deus. Damos graças também por um homem que tem sido fundamental neste processo: o Papa Francisco. Ao longo do seu pontificado, ele tem sido sinal de uma Igreja em movimento, que não se acomoda nem espera que as coisas mudem por si, mas que quer ser parte ativa da transformação do mundo.

Agradecemos também a eleição do Papa Leão XIV. Nas suas primeiras palavras, repetiu o anúncio do Ressuscitado: «A paz esteja convosco.» Foi eleito no tempo pascal, tal como os discípulos, que na segunda-feira de Páscoa começavam a compreender o que significava realmente a ressurreição de Jesus. É essa transformação que também nós queremos viver.

Esta é a nossa Igreja. Ele está vivo, está no meio de nós. É com essa esperança que partimos para esta missão.

Por fim, quero agradecer também ao Padre Cartageno e a todos os que com ele colaboraram na cantata que hoje será apresentada, em honra do nosso primeiro padroeiro, Santo Agostinho, bispo de Hipona. Num tempo em que a Igreja ressurgia após as perseguições, Agostinho ensinava-nos a pensar o “hoje de Deus” e a procurar, no tempo, o tempo de Deus. Que Ele encontre também um lugar no nosso coração. Que possamos dizer, como Santo Agostinho: «Tarde te amei, mas não descansei enquanto não te encontrei e te amei.»

Que o Senhor, por intercessão do nosso padroeiro, nos ensine a viver esta Igreja com paixão e com o ânimo do Espírito do Senhor Jesus.

Ámen.

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