Diaconado permanente avança na Diocese

Em julho do ano passado, D. António Marto instituiu, por decreto, o diaconado permanente na Diocese. Até à Páscoa, serão indicados pelas comunidades paroquiais os primeiros candidatos a este ministério, que depois de apresentados ao Bispo iniciarão o itinerário de formação, já definido. Ao Presente, o diretor do Serviço para o Diaconado Permanente, padre Pedro Viva, apontou o final de 2020 como data possível para as primeiras ordenações.

 

 

A 13 de julho de 2016, D. António Marto publicou o decreto de instituição do diaconado permanente em Leiria-Fátima, depois de auscultada a Igreja diocesana.

A decisão teve por base as orientações do pós-Concílio Vaticano II e “o benefício pastoral” do diaconado permanente na Igreja, em “comunhão e colaboração com o bispo e o presbitério, assim como o Sínodo Diocesano de 1995-2002, que observava uma “Igreja mais pobre” pela a falta deste ministério.

O processo para a identificação e escolha dos candidatos começou de imediato, nas comunidades paroquiais. Até à Pascoa serão apresentados ao Bispo e iniciarão, em setembro, o primeiro ano de formação.

 

O que é o diaconado?

O ministério eclesiástico, instituído por Deus, é exercido em ordens diversas por aqueles que, desde a antiguidade, são chamados bispos, presbíteros e diáconos”, lê-se no Catecismo da Igreja Católica. O diaconado é o “grau de serviço”. “Entre outros serviços, pertence aos diáconos assistir o bispo e os sacerdotes na celebração dos divinos mistérios, sobretudo da Eucaristia, distribuí-la, assistir ao Matrimónio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir aos funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade”.

Os diáconos, ao contrário dos sacerdotes, não podem celebrar a Eucaristia. No entanto, com todo o serviço que lhes pertence, constituem-se como uma ajuda preciosa à missão daqueles. Outra diferença prende-se com a questão do celibato. Enquanto aos sacerdotes são celibatários, os diáconos podem casar.

O diaconado permanente foi assim restabelecido como grau permanente do ministério ordenado com o Concílio Vaticano II, de acordo com a antiga Tradição da Igreja. Foram particularmente três as razões que presidiram a esta opção: o desejo de enriquecer a Igreja com as funções do ministério diaconal, a intenção de conceder a graça da ordenação diaconal àqueles que, de facto, já exerciam funções diaconais ea preocupação em prover de ministros sagrados as regiões que sofriam de escassez de clero.

Desde então, tanto a Santa Sé como numerosas dioceses em todo o mundo elaboraram normas para o discernimento da vocação, a formação e o exercício do ministério diaconal, que constituem já um enorme património documental.

Em Portugal, a pedido da Conferência Episcopal, o diaconado permanente foi restaurado em 1979 pelo Papa S. João Paulo II, tendo sido já estabelecido em quase todas as dioceses.

 

A formação

Prevista nas normas da Diocese para o diaconado permanente, a formação dos candidatos para este ministério tem em conta quatro dimensões: humana, espiritual, teológica e pastoral – e o itinerário proposto: do tempo propedêutico ao estágio e à ordenação diaconal, sem esquecer a formação permanente.

A *formação humana* acontecerá através de colóquios em grupo e nos diálogos pessoais. A formação espiritual far-se-á através das várias sessões formativas teóricas e práticas e concretizar-se-á na vida quotidiana, ao nível pessoal e comunitário.

A contribuir para a dimensão espiritual mais sólida estará também a *formação teológica*, fundamental para proporcionar ao candidato ao ministério diaconal um conhecimento aprofundado da Revelação, do Magistério da Igreja e da teologia cristã. Esta pode ser recebida através de um curso de teologia ou ciências religiosas, em estabelecimento reconhecido pela Igreja, como é exemplo o Curso Bíblia e Teologia Cristã, do Centro de Cultura e Formação Cristã da Diocese.

Após frequência com aproveitamento na formação teológica, o candidato inicia a *formação específica*, que inclui a compreensão do ministério e as diversas dimensões de ação pastoral, com vista ao exercício do ministério diaconal.

A formação compreende um tempo propedêutico (de preparação) e três anos de formação específica. Em cada ano, o candidato frequentará dez sessões formativas, que decorrerão uma vez por mês, ao fim de semana, de setembro a junho.

A *formação pastoral*, teórica e prática, faz-se durante o percurso formativo, monitorizada pelo pároco encarregue de acompanhar o candidato, e inclui os conteúdos da formação específica. A parte prática faz-se com a inserção e experiência paroquial, culminando com o estágio.

Todas as normas e a proposta de de formação estão disponíveis para consulta AQUI.

 

 

 

Entrevista ao diretor do Serviço para o Diaconado Permanente, padre Pedro Viva

Há ainda muito trabalho de sensibilização”

Para implementar a instituição do diaconado permanente na Diocese, foi criado o Serviço para o Diaconado Permanente (SDP), para o qual foi nomeado como diretor o padre Pedro Viva.
Ao Presente, este responsável falou dos passos já dados e do muito trabalho ainda a fazer na sensibilização para este ministério.

DCA com LMFerraz

 

Como resume o trabalho feito até agora pelo Serviço para o Diaconado Permanente?

Como qualquer projeto que se inicia, antes que se vejam os primeiros frutos há muito trabalho de bastidores. O Serviço para o Diaconado Permanente, nestes últimos dois anos, procurou criar as condições para que se dessem passos simples, mas decididos, em ordem à formação e futura ordenação de diáconos permanentes na Diocese. Depois da auscultação necessária, instituiu-se o Diaconado Permanente. Aprovaram-se as Normas e agora estamos a trabalhar no Plano de Formação, que está praticamente concluído. Desde julho que se iniciou a seleção dos candidatos e, em breve, iniciaremos um tempo propedêutico para os candidatos que Deus nos der em ordem ao discernimento dos próprios e da Igreja diocesana.

Sente que a Diocese está preparada para acolher este ministério?

É nosso trabalho, enquanto serviço da cúria diocesana, sensibilizar as pessoas e as comunidades para acolher este dom para a Diocese. Naturalmente que há ainda muito trabalho de sensibilização, dúvidas a esclarecer e mentalidades a abrirem-se ao novo. Mas sentimos que é por aqui que devemos ir e, aos poucos, vamos fazendo caminho.

Concretamente em relação ao clero, como vê que os padres encaram a futura existência de diáconos permanentes?

Os diáconos, como os presbíteros, fazem parte da hierarquia da Igreja. Ambos são colaboradores do bispo diocesano. Cada um com uma missão específica. Uns não vêm substituir os outros. A existência dos diáconos permanentes até pode ajudar a uma maior consciência da identidade e missão presbiteral. Poderão existir alguns receios, porque naturalmente terá de haver partilha de responsabilidades e missões. Mas estou certo de que os padres da Diocese desejam, e assim o expressaram, a existência de diáconos permanentes para a nossa diocese e veem nisso um facto muito positivo.

Quais julga serem os requisitos mais importantes num futuro diácono permanente?

De forma muito simples, direi que uma fé íntegra, uma genuína vontade de servir o Povo de Deus, uma fidelidade ao bispo e capacidade de diálogo com os outros ministros ordenados são condições necessárias para o exercício deste ministério.

O bispo indica a procura de candidatos “desde já”. Já estão identificados alguns deles? Já foram feitos alguns contactos nesse sentido? Como será feito esse trabalho de identificação de candidatos?

Sendo uma vocação pessoal, a Igreja terá sempre uma palavra a dizer no discernimento e na aceitação dos candidatos ao diaconado. Sem prejuízo de aparecerem alguns candidatos por si, necessariamente, pela especificidade desta vocação, ao pároco e à comunidade paroquial cabe um papel de identificação e de pronunciamento sobre os candidatos, antes da sua apresentação ao Bispo diocesano. Já recebemos de duas paróquias a indicação de três candidatos. Esperamos que, até à Páscoa, nos possam chegar a indicação de mais candidatos, que serão selecionados segundo as normas já aprovadas pela Diocese.

Há “voluntários” que se tenham já apresentado?

Naturalmente que as pessoas já indicadas se voluntariaram em aceitar fazer este discernimento. Mas não é possível uma pessoa se candidatar por si só a este ministério, à margem da sua comunidade cristã, ou sem que um padre se responsabilize pela sua apresentação ao Bispo diocesano. Sendo uma vocação pessoal, ela é também eclesial, no discernimento e na missão.

Prevê que os primeiros candidatos sejam celibatários ou homens casados?

Estou convencido de que os candidatos que nos aparecerem serão já homens casados. Embora casos de diáconos permanentes celibatários não sejam uma impossibilidade, é o caso de S. Francisco de Assis… Se nos aparecer um candidato nessas circunstâncias, terá de se perceber bem se não estamos perante uma vocação sacerdotal.

Há um número pensado como “ideal” para a constituição do primeiro grupo de candidatos?

Não temos um número fixo como mínimo ou como máximo. Mas o ideal seria um grupo entre os seis e os doze, porque permitiria um acompanhamento suficiente a todos os candidatos, suas famílias e comunidades, sem o prejuízo de ser um número tão reduzido que seria desanimador até para aqueles que aceitarem fazer este percurso.

Quando poderemos esperar a primeira ordenação?

Se iniciarmos o tempo propedêutico a partir desta Páscoa e o primeiro ano de formação a partir de setembro de 2017, respeitando o ritmo de cada um e as exigências canónicas, podemos apontar para o final de 2020 o tempo de celebrar as primeiras ordenações.

Há sectores concretos já identificados para o seu trabalho?

Os documentos da Igreja, baseados nas fontes bíblicas e no testemunho das Igrejas dos primeiros séculos, identificam já com clareza o campo de ação dos diáconos: Liturgia, Palavra e Caridade. Naturalmente que, depois, há que conjugar as necessidades da Diocese com as possibilidades de cada um dos diáconos, considerando as suas condições familiares e profissionais. Tudo será conversado ad casum.

Em seu entender, qual será o principal contributo dos diáconos permanente no contexto concreto da pastoral diocesana?

Não vejo, com sinceridade, a ordenação de diáconos permanentes como forma de compensar a falta de vocações sacerdotais. Estas continuarão a ser uma necessidade e temos de refletir sobre a razão de termos hoje tão poucas ordenações. Agora a existência da vocação diaconal vem trazer à Diocese, para além da variedade e riqueza de ministérios, uma maior consciência da sua missão para servir as pessoas, sobretudo os mais frágeis. P

 

 

2017-01-25 DIACONADO Vitor Cordeiro

Vítor Cordeiro, diácono permanente na Diocese de Portalegre-Castelo Branco

Uma missão de coragem, vivida em família

Vítor Cordeiro tem 58 anos e é diácono há já 20 anos, na diocese de Portalegre-Castelo Branco. É natural de Porto de Mós e frequentou o Seminário de Leiria. Ainda estudou no de Coimbra, mas não teve “coragem para continuar”.
Anos mais tarde, já casado e a viver em Montalvo, Constância, foi convidado pelo bispo de Portalegre-Castelo Branco a iniciar a formação para ser diácono permanente. Desta vez, disse um sim, com a mesma coragem com que incita aqueles que sentem o mesmo apelo.

Quando deixou o seminário, Vítor foi cumprir o serviço militar e por ali ficou, no exército, até se reformar. O trabalho levou-o até Abrantes. Casou, teve dois filhos e já tem duas netas. Foi morar para Montalvo, Constância, onde ainda vive e onde sempre teve uma presença eclesial ativa. Foi por essa participação que, aos 28 anos, foi convidado a ser ministro extraordinário da Comunhão.

Apesar de ainda ser muito novo, tinha a minha vida estabilizada e aceitei o convite. Poucos anos mais tarde, o bispo diocesano, D. Augusto César, depois de sondar os sacerdotes, convidou-me para iniciar o caminho para o diaconado permanente. Também achei que era novo, mas aceitei o convite com coragem, porque tenho para mim este lema: nunca digas que não a Deus.”

 

Um complemento à missão do sacerdote

Fez o percurso formativo necessário, durante três anos, e seguiu os passos exigidos até à ordenação diaconal. Agora, sente-se plenamente integrado, mas sentiu alguma dificuldade no início, por se tratar de uma realidade nova na diocese.

O principal desafio foi os padres compreenderem que um diácono permanente não é seu concorrente, mas um complemento, e que existem para os ajudar. Uma outra dificuldade que senti, mais à frente, foi a de conciliar a vida profissional e familiar com o serviço.”

Ultrapassadas as dificuldades, neste momento, “não há mãos a medir”. Está a trabalhar com o seu pároco e com o da paróquia ao lado, e visita as comunidades de quatro paróquias, onde celebra a Palavra, em alternância com os sacerdotes, e colabora na administração de sacramentos. Para além deste serviço, assume ainda, na Diocese, o cargo de diretor do Apostolado da Oração.

 

Esposo, pai e diácono

Nesta exigência contínua, lembra-se com frequência das palavras do bispo que o convidou para o serviço: “primeiro são esposos e pais, só depois diáconos permanentes… E o desafio é conseguir complementar tudo isto”.

Vítor faz questão de valorizar o papel central da família na concretização do serviço para que foi ordenado.

A minha esposa aceitou muito bem e acompanha-me sempre que pode. Quando não vai comigo, fica em casa a fazer o que for preciso para que eu possa cumprir a minha missão. A compreensão e estabilidade familiar são essenciais para seguir o diaconado permanente. Nós deixamos de estar com a família muitas horas, mas é também em família que o fazemos, com alegria para todos.”

Diocese que não tenha diaconado permanente, está coxa, enferma”, diz Vítor, para sublinhar a importância atual deste ministério na concretização da ação apostólica, como complementaridade ao serviço dos sacerdotes.

Nós temos a experiência da vida familiar de uma forma que o padre não tem. E isso dá-nos uma compreensão do sentido das famílias e do viver dos filhos que serve de complemento a toda a missão que os sacerdotes têm.”

Aos que sentem o apelo para o diaconado permanente, deixa uma mensagem de coragem. “Não tenham medo. Não é fácil, mas a gratidão que sentimos, no final de cada dia, quando nos empenhamos nesta missão, supera qualquer dificuldade que possamos encontrar. 

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