A Igreja Católica aponta anualmente as missões como uma das intenções para o mês de outubro. Em especial esta semana, em que se prepara o Dia Mundial das Missões, a comemorar no próximo domingo 19.
Como ajuda para a reflexão e vivência deste tema, apresentamos a mensagem do Papa Francisco, as iniciativas que a Diocese irá promover, e alguns testemunhos de quem faz da missão a sua vida.
“Ainda hoje há tanta gente que não conhece Jesus Cristo”. Esta é frase com que o Papa Francisco inicia a sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, apresentada no domingo de Pentecostes, em junho deste ano. Sublinhando a “grande urgência” da missão em que “são chamados a participar todos os membros da Igreja”, o Santo Padre lembra que “a Igreja nasceu «em saída»”, pelo que é por natureza missionária. Assim, este dia deverá ser “um momento privilegiado para os fiéis dos vários continentes se empenharem, com a oração e gestos concretos de solidariedade, no apoio às Igrejas jovens dos territórios de missão”.
O Papa parte do episódio bíblico do envio dos 72 discípulos para lembrar que “regressaram cheios de alegria”. Esse “traço dominante desta primeira e inesquecível experiência missionária” deverá sê-lo também hoje, pelas verdadeiras razões. “Os discípulos estavam cheios de alegria, entusiasmados com o poder de libertar as pessoas dos demónios”, mas Jesus diz-lhes que devem alegrar-se “pelo amor alcançado”, por lhes ter sido “concedida a experiência do amor de Deus e também a possibilidade de o partilhar”. Essa é uma experiência escondida daqueles “que se sentem demasiado cheios de si e pretendem saber já tudo (…) cegos pela própria presunção e não deixam espaço a Deus”. Também nos nossos dias, “os «pequeninos» são os humildes, os simples, os pobres, os marginalizados, os que não têm voz, os cansados e oprimidos, que Jesus declarou «felizes»”.
A exemplo de Maria, José, os pescadores da Galileia e os discípulos, a verdadeira alegria do nosso anúncio tem de brotar do facto de Deus ter decidido “amar os homens com o mesmo amor que tem pelo Filho”. Num mundo de “múltipla e avassaladora oferta de consumo”, de “tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho”, a humanidade precisa de descobrir essa alegria e de “discípulos que se deixam conquistar mais e mais pelo amor de Jesus e marcar pelo fogo da paixão pelo Reino de Deus, para serem portadores da alegria do Evangelho”, aponta o Papa Francisco.
Dos bispos às comunidades
O apelo a esta Igreja missionária é para todos, a começar pelos bispos, “primeiros responsáveis do anúncio”, que “têm o dever de incentivar a unidade da Igreja local à volta do compromisso missionário, tendo em conta que a alegria de comunicar Jesus Cristo se exprime tanto na preocupação de O anunciar nos lugares mais remotos como na saída constante para as periferias do seu próprio território, onde há mais gente pobre à espera”. Mas, até para o suscitar de vocações ao sacerdócio e à vida consagrada, cabe a todas as comunidades e grupos “viverem uma intensa vida fraterna, fundada no amor a Jesus e atenta às necessidades dos mais carecidos”.
A mensagem papal termina com a indicação do “dever moral” de participar na missão, também pela contribuição monetária pessoal, como “sinal de uma oblação de si mesmo, primeiramente ao Senhor e depois aos irmãos, para que a própria oferta material se torne instrumento de evangelização de uma humanidade edificada no amor”. E um último pedido: “Não nos deixemos roubar a alegria da evangelização!”.
Paixão por Jesus e por todos
Partindo desta mensagem do Papa, a Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização (CEMNE) da Conferência Episcopal Portuguesa elaborou um guião para o trabalho pastoral durante este mês, com o título “Missão: uma paixão por Jesus e por todos”. No texto de apresentação, defende-se que também Portugal e a Europa “precisam de pessoas que, tal como nos primeiros tempos do cristianismo e da época dos Descobrimentos, saibam «abalançar-se» na propagação da Palavra de Deus e dos seus valores”. O guião sublinha a necessidade de “tomar a iniciativa”, mesmo que as condições não estejam totalmente reunidas ou que faltem estruturas para o fazer.
D. Manuel Linda, presidente da CEMNE, afirma: “Primeiro está a obra missionária e só depois é que vêm as estruturas de cristandade. Não o contrário. Se os Apóstolos se propusessem começar por criar as estruturas ‘indispensáveis’ em Jerusalém, ainda hoje não teriam de lá saído”. Assim, o desafio é de saber escutar os sinais dos tempos e as necessidades do mundo, “mesmo dos que pensam de maneira diferente”, e ir ao seu encontro.
Deus tinha este plano para mim
Testemunho de Celine Marques (Jovens Sem Fronteiras)
Passaram seis anos desde que cheguei à Guiné-Bissau, parece que foi hoje. Sentir na pele todas as imagens, cores, sorrisos, sons e cheiros que tinha imaginado, mas que nunca tinha realmente experimentado.
Querer fazer uma experiência de voluntariado foi algo que nasceu dentro de mim, um chamamento que fui escutando e entendendo melhor e que se clarificou com a entrada para o movimento dos Jovens sem Fronteiras. Deus tinha, de facto, este plano para mim. E, Deus, obrigado (como dizem os guineenses) por isso!
Poder perceber como vivem outros povos, poder entrar na sua maneira de viver e encarar as dificuldades é uma experiência muito enriquecedora que nos permite aprender, entre muitas outras coisas, a relativizar os problemas do nosso pequeno mundo.
Estive envolvida nos trabalhos da Cúria Diocesana de Bafatá, na coordenação e supervisão de dois projetos de intervenção: Maternidade sem Risco (com grávidas em situação de risco) e Centro de Recuperação Nutricional (com crianças desnutridas) e noutros trabalhos que foram surgindo durante aquele ano de 2008 em que lá estive.
Muitas foram as experiências, muitas são as histórias. O sentimento é de ter feito muito pouco. No entanto, quando a nossa motivação passa por nos darmos sem esperar nada em troca, o resultado assume sempre grandes dimensões: as pessoas com quem me cruzei questionavam muitas vezes o porquê de estar ali; a resposta podia não ser verdadeiramente compreendida, mas os sentimentos de entrega e partilha foram transmitidos.
Ainda hoje mantenho contacto com algumas dessas pessoas e entendo agora de outra forma as palavras de D. Pedro Zilli, bispo de Bafatá, em relação aos voluntários. Ele costumava dizer que não concordava com a afirmação de que se recebe mais do que se dá, pois, embora possa não se mudar nada no concreto, nós estamos ali e ficamos. Fica a nossa presença, o nosso testemunho de nos darmos aos irmãos, deixando a nossa família, casa, amigos, para nos dedicarmos a quem não conhecemos, para nos dedicarmos a levar-lhes algum bem estar, a mostrar-lhes outras formas de ver e fazer as coisas, a levar-lhes um sorriso compreensivo, acolhedor e empático, com os nossos braços e coração abertos, quando mais nada parece trazer paz para eles – que nos acolhem – e para nós – que queríamos na realidade era poder mudar o mundo todo.
A missão é o milagre do encontro
Testemunho da irmã Graça Lameiro (Missionária da Consolata)
Acolher um mandato missionário é algo extraordinário. É firmar uma folha em branco. É deixar que outros decidam onde vais viver e o que vais fazer. De ti depende somente eleger o modo, a cor e a música que caracterizam a tua existência. Esta é a minha vida! Não pedi e nunca sonhei ir partilhar o que sou e a minha fé nessas longínquas terras do sul da Colômbia. Não sabia que existia um Puerto Leguizamo. Nunca tinha ouvido falar de Kichwas, Secoyas, Koreguajes, Uitotos o Sionas. Mas… a missão é o milagre do encontro, da descoberta de Deus que se revela em cada povo, em cada língua e em cada história. Hoje, agradeço ao Senhor porque alguém em Seu nome me enviou para essa maravilhosa e desafiante terra. São já alguns anos que vivo na Amazónia colombiana, compartindo os sonhos, os desafios e as imensas dificuldades dos povos que a habitam. Navegando horas, dias e semanas pelos rios e riachos e assim poder chegar até ás comunidades sedentas do anúncio e da celebração do amor e misericórdia de Deus. Uma missão itinerante, porque não podemos ficar em casa quando, lá longe, há irmãos e irmãs que anelam conhecer e amar mais a Jesus. Uma itinerância não só geográfica, mas principalmente cultural, porque em cada momento sou chamada a sair de mim, dos meus esquemas e modo de pensar para entrar dentro de uma outra cosmovisão, um outro modo de ver o mundo, as relações e a espiritualidade.
Agradeço ao Senhor por ter-me enviado a Puerto Leguizamo – Putumayo, porque é aí que descubro quão grande é o seu Amor pela humanidade e que ainda hoje continua a sussurrar aos nossos corações que deseja ser acolhido como um Deus que ama, salva e perdoa.
É importante partilhar as experiências missionárias
O mês de outubro é, essencialmente, um tempo de recordarmos a consciência missionária de cada cristão. Conseguimos mais facilmente este objetivo confrontando o nosso ser e o nosso agir com testemunhos e vivências missionárias que nos ajudem a refletir o quanto Cristo continua vivo e ativo através dos membros da Igreja. Também a oração pela causa missionária é privilegiada durante este tempo.
A nossa diocese tem em si uma grande diversidade de testemunhos missionários, dentro e fora dos seus limites. São muitos os missionários que partiram de várias paróquias e estão espalhados pelos quatro cantos do mundo, numa ação silenciosa mas muito produtiva. Não é fácil podermos contar com os seus testemunhos pelo isolamento em que alguns se encontram e, talvez, pelo pouco hábito de partilhar o bem que se realiza. Talvez também o receio de algum mediatismo ou imodéstia possam estar por detrás dessa dificuldade.
No entanto, é preciso partilharmos o que vamos fazendo para nos animarmos uns aos outros na missão que é confiada a cada um. Um testemunho de um missionário que anda lá longe pode dar coragem ao cristão que dentro da diocese busca o seu lugar.
Iniciativas
Neste sentido e dentro do espírito do outubro missionário, vamos realizar uma vigília missionária no dia 17, na igreja do Espírito Santo, com início às 21h00. Durante essa vigília, contaremos com alguns testemunhos missionários. Na semana seguinte, nos dias 24 a 26, poderemos contar com o testemunho dos 15 anos de atividade missionária do Grupo Ondjoyetu. Na sexta-feira, dia 24, contaremos com uma tertúlia e, durante todo o fim de semana, poderemos acompanhar a exposição fotográfica e outros elementos missionários. Esta iniciativa culminará com as “sopas missionárias”, no domingo, dia 26, a partir das 12h30.
Cada um destes momentos, neste mês em “dinâmica missionária”, poderá ser um reforço de coragem para todos os que queiram viver bem este tempo e deixar-se animar para abraçar melhor a cruz, manifestando desse modo a sua “paixão por Jesus e por todos”.
P. David Nogueira Ferreira Diretor do Serviço de Animação MissionáriaLeigos para o Desenvolvimento apelam ao voluntariado missionário
A associação católica Leigos para o Desenvolvimento irá promover oito sessões, em várias cidades do País, entre 22 de outubro e 5 de novembro, para apresentação de uma proposta de voluntariado de longa duração. Sob o lema “Deixa a Tua Marca”, tem como destinatários os potenciais interessados numa experiência missionária em África, preferencialmente pessoas entre os 21 e 40 anos com formação académica ou experiência profissional, que queiram dar um ano ou mais da sua vida em prol do desenvolvimento.
Nestas sessões, serão também apresentados os projetos desta Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento e partilhadas experiências de voluntários que chegaram de missão, bem como esclarecidas dúvidas sobre o voluntariado missionário. A mais próxima de nós será em Coimbra, no Centro Universitário Manuel da Nóbrega, no dia 30 de outubro, às 21h00.
Mais informação em www.leigos.pt.
“Mostra-nos a tua missão” em vídeo
O Instituto Missionário da Consolata irá comemorar, no próximo dia 26 de outubro, pelas 15h00, a entrega do prémio relativo à 2.ª edição do concurso “Faz o teu vídeo, mostra-nos a tua missão”.
O evento decorrerá no espaço do auditório do Museu de Arte Sacra e Etnologia dos Missionários da Consolata, em Fátima. Com entrada livre, terminará com lanche partilhado.