Desafio para as férias: procurar a realidade invisível

Nem precisas de sair de casa: não é verdade que também aí podes descobrir alguma “realidade invisível”?

No site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (3.8.2021), li um artigo do escritor indiano Pankaj Mishra em que afirma que o Papa Francisco veio derrubar o pensamento que torna a realidade invisível. Considera que o discurso atualmente predominante “sobre o mercado, a democracia, a globalização” é “pobre do ponto de vista quer moral quer intelectual”. Julga-se que, “o intelectual já não se deve ocupar das grandes questões que dizem respeito à vida boa, os limites do crescimento, o dano ambiental, a relação entre os seres humanos e o mundo da natureza: ai dele se ousa falar de valores éticos ou espirituais.” Neste contexto cultural, “o Papa Francisco fez-nos perceber uma nova possibilidade. Ampliou as fronteiras daquilo que pode ser dito, ensinado e compreendido. Na arena internacional não havia uma voz tão poderosa desde os tempos da luta anticolonial, uma voz que rejeita as narrações seculares do progresso contínuo espalhadas pelas classes dirigentes dos EUA e Grã-Bretanha.” E Pankaj Mishra conclui: “O Papa Francisco parece-me comprometido precisamente nessa tarefa: abater aquelas estruturas de pensamento que tornaram a realidade invisível a muitos de nós.”

Fixei-me na expressão “realidade invisível”. Foco a atenção sobre aquela em que não reparamos no nosso dia a dia: no ambiente por onde circulamos, nas pessoas com quem lidamos, no mundo em que vivemos ou simplesmente em nós mesmos e no nosso espírito. Por que não aproveitar então as férias para descobrir a realidade invisível. É invisível a água que circula no interior da terra e se torna visível nas nascentes que dão origem a fontes, cascatas, lagos, riachos, ribeiros ou rios. São invisíveis aos nossos olhos muitas realidades da natureza até que, num determinado momento, reparemos nelas e fiquemos admirados e curiosos. É por vezes invisível, ou pelo menos incompreensível para nós, a autêntica beleza da arte que os nossos observam. É invisível o nosso espírito, enquanto não entramos no nosso íntimo e descobrimos que está nele a fonte e a força que nos faz viver. É invisível o que há no coração daqueles com quem vivemos, trabalhamos ou nos encontramos, enquanto o amor, a confiança mútua e a relação não nos tocarem e abraçarem uns aos outros. É que, como diz o Principezinho, “só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”. Os olhos são as janelas por onde se contempla a realidade visível. O coração é o espelho onde se reflete, brilha e vibra a realidade invisível.

Oportunidades para contemplar a realidade invisível

Nem precisas de sair de casa: não é verdade que também aí podes descobrir alguma “realidade invisível”? Por exemplo, alguma virtude, dom ou talento inadvertido de quem vive contigo.  Nas palavras, gestos ou comportamentos das crianças, quanta surpresa podes ter! Nos objetos, no recanto da tua casa ou dos arredores, quanto tens ainda que descobrir? E isso enriquece-te humanamente.

No teu ambiente ou naquele para onde fores gozar as férias, repara na natureza, no nascer ou por do sol e nos pequenos detalhes: nos animais minúsculos ou no esvoaçar das aves, numa flor impressionante, no movimento do mar ou na sua quietude, no curso das águas de um ribeiro ou nas raízes de uma árvore…

Procura sítios desconhecidos ou provoca novos encontros com pessoas. Escuta com interesse e respeito o que te contam, antes de avançar com as tuas curiosidades, e pergunta com real desejo de conhecer mais. Observa demoradamente, olha e presta atenção ao espetáculo maravilhoso que a natureza nos proporciona, porventura no lugar onde menos esperavas. Aconteceu-me há dias na observação da flor de maracujá. Que construção e disposição dos vários elementos que a compõem! E a variedade e harmonia das cores e da estrutura! Que encanto! A realidade estava lá onde eu já passei dezenas de vezes, mas nunca a tinha visto. Até àquele dia era invisível aos meus olhos.

Repara bem nas pessoas que te rodeiam, passam por ti ou com quem te encontras. É preciso não se apressar a julgar ao primeiro olhar. Contempla as mãos dadas de casais de várias idades, o movimento das crianças, o olhar, cuidado, ternura, jeito de brincar ou de dar espaço ao movimento dos filhos por parte dos pais… A sensibilidade, talento e profissionalismo das pessoas no seu trabalho: que jeito para lidar com os outros e servi-los com simpatia e agrado para eles! 

Para descobrir a realidade invisível não basta observar e escutar. É preciso também cheirar, tocar, saborear e sentir. E agir. Por isso, anda, brinca, joga, passeia, diverte-te. Tudo isso te faz experimentar e ter emoções. Elas são também veículo de conhecimentos e descobertas. Aproveita também o tempo para ler ou ver algum filme ou documentário que te faça explorar novas dimensões da realidade ou da ficção. Desenvolve a inteligência, o conhecimento e a sabedoria. Pensa, pensa, pensa, a partir da realidade que já conheces para descobrir a que ignoras e te alargará o horizonte mental e a alma.

No teu mundo interior, espiritual, experimenta formas diferentes de meditar, contemplar e rezar. A partir da natureza ou das pessoas, como já referi. Deixa brotar dentro de ti expressões de espanto e de encanto. Pensa no Criador e na beleza e sabedoria com que fez todas as coisas. Não te preocupes com as palavras, goza do momento que estás a experimentar. Se queres usar palavras, usa frases curtas para bendizer ou louvar como fazem os salmos. Ou usa estes, que são de grande variedade e beleza. É a experiência da intimidade com Deus que acende no teu íntimo uma luz interior, a fé, e te permite caminhar na vida, à semelhança de Moisés, como se visses o Invisível (cf Heb 11, 27).

Normalmente, é no visível que se vê o invisível, como refere o monge Enzo Bianchi:

“Gosto muito da interpretação da transfiguração de Cristo provida pela espiritualidade oriental cristã. Segundo alguns autores, não foi Jesus a transfigurar-se, mas foram os olhos dos discípulos que conheceram um processo de transfiguração, e assim foram capazes de ver nele aquilo que antes não viam: Ele era carne frágil como eles, mas, ao mesmo tempo, Filho de Deus, imagem do Pai invisível. Sim, nós precisamos de transfiguração para perceber a verdadeira beleza, para ver o invisível no visível. (https://www.snpcultura.org/a_beleza_ver_o_invisivel_no_visivel.html)

Boas férias, procurando “ver o invisível no visível” que os teus olhos alcançam e o teu coração sente.

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