Reinauguração da igreja da Golpilheira, paróquia da Batalha
Dedicação da Igreja de Nossa Senhora de Fátima
† António Marto
Bispo de Leiria-Fátima
Golpilheira, 29 de maio de 2016
Ref. CE2016B-009
De todo o coração me associo à grande festa que aqui nos reúne, presidindo a um acontecimento tão significativo como é a dedicação da vossa igreja reconstruída para o culto divino e o serviço da comunidade cristã da Golpilheira, tendo como titular Nossa Senhora de Fátima.
Finalmente tendes uma igreja acolhedora e funcional; uma igreja bela que favorece o recolhimento e suscita a alegria de poder celebrar dignamente a presença do Senhor e proclamar a sua palavra; uma igreja bem visível e atrativa que quer ser apelo constante a uma fé sólida presente no mundo.
Vivemos hoje uma jornada que coroa os esforços, as fadigas, os sacrifícios e o empenho da comunidade para erguer este edifício. É dia de alegria e de emoção!
Permiti que vos saúde e dê os vivos parabéns a todos os que contribuíram, de vários modos, para a realização deste belo projeto. Saúdo de modo particular o Pároco, o Conselho administrativo e pastoral, a comissão da igreja da Golpilheira, as excelentíssimas autoridades e os demais convidados.
A celebração de hoje é muito rica de palavras e de símbolos que nos ajudam a compreender e interiorizar o significado e o valor profundo da dedicação da igreja. Selecionei três pensamentos da Palavra de Deus que foi proclamada.
1. Sinal visível da presença de Deus invisível
A primeira leitura narra um momento chave da história do Povo de Deus: a festa da dedicação do templo de Jerusalém totalmente reconstruído por Salomão. Dentro do templo foi de novo colocada a arca da aliança que continha as dez Palavras (mandamentos) da aliança de Deus com o seu povo. Aí Salomão eleva uma comovente oração ao Deus fiel e misericordioso, Deus amigo dos homens que a todos quer bem, defensor dos pobres e dos prófugos rejeitados.
A esta luz não é difícil compreender que o edifício da igreja existe como sinal visível que convida a levantar o olhar e o coração para o mistério de Deus, da sua presença como Deus connosco e da beleza do seu amor misericordioso que não abandona o seu povo: sinal visível da presença de Deus invisível.
Isto é de grande significado numa época como a nossa em que se vive um “eclipse cultural de Deus”: um ocultamento do sentido da sua presença nas consciências, na cultura e na sociedade, em que se vota Deus ao esquecimento, se põe à margem como supérfluo ou se vive como se Ele não existisse. Com a consequência de que os homens sem Deus ficam mais sós, mais confusos e desorientados, mais tristes, divididos e violentos, menos solidários.
Esta é a grande tentação e o risco de sempre e de hoje de que Nossa Senhora nos veio advertir em Fátima. O próprio exemplo dos Pastorinhos é interpelador: eles dão-nos o testemunho de fascinados pela beleza de Deus e do seu amor em que se sentiam abraçados: “Oh como é Deus! Gosto tanto de Deus”! – exclamava o Francisco. Também nós devemos redescobrir o encanto, o gosto e o gozo de Deus amigo dos homens!
2. Sinal da Igreja comunidade de fé e de amor
A segunda leitura mostra-nos que Deus quer habitar no meio de nós num templo de pedras vivas e não de pedras mortas. De nada vale erguer templos de pedra, se não há lugar para Deus no templo vivo do nosso coração.
A Igreja de pedras vivas é construída sobre a única pedra angular que dá solidez e coesão ao edifício espiritual: Jesus Cristo. Uma comunidade cristã viva existe onde reconhecemos Jesus como Senhor e Salvador e o seguimos na vida; edifica-se onde se escuta e lê o Evangelho de Cristo, se celebram os sacramentos do seu amor e se vive o amor fraterno. Não é uma Igreja de pedras mortas, uma estação de serviços religiosos, mas uma comunidade de fé, de esperança e de amor.
Nesta perspetiva, o edifício da igreja existe para que nele se possa celebrar a festa da comunhão de Deus connosco e a alegria da comunhão fraterna. É esta beleza da comunhão que nos une e reúne na Eucaristia e nos leva a exclamar: ”Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”! Amor que supera todas as diferenças e barreiras entre nós e faz de nós membros de um só Corpo de Cristo.
Daqui resulta a forma de ser e o testemunho da comunidade cristã: igreja de portas abertas para acolher a todos; onde cada um é apoio de todos e todos apoio de cada um, partilhando as alegrias e as dores, com atenção particular aos pobres e necessitados.
Mostrai que a fraternidade é possível! Não deixeis que vos roubem o ideal da comunidade e do amor fraterno!
3. Sinal da Igreja em saída ao encontro das feridas da humanidade
Os dons de Deus que celebramos e recebemos na igreja, não são para ficarem encerrados dentro dela, mas para serem comunicados aos outros. Entrando um dia numa pequena igreja dos Alpes italianos li sobre o pórtico esta inscrição que me impressionou: “Aqui entra-se para adorar a Deus; daqui sai-se para amar os homens”! Por isso, as nossas celebrações terminam com um envio em missão: “Ide em paz; o Senhor vos acompanhe”.
Ide para o mundo. É lá a vossa missão. O Senhor acompanha-vos para anunciardes e levardes o seu amor misericordioso a todas as periferias humanas: para cuidar dos feridos da vida e curar as suas feridas; para promover a cultura do encontro face à da indiferença e da exclusão; para levar a luz do evangelho aos afastados; para trabalhar em prol da fraternidade, da justiça e da paz e renovar o mundo.
São Pedro, na carta que ouvimos, exorta-nos a viver em santidade no mundo, não nos deixando contagiar pelo cancro da corrupção que estende as suas metástases e mina as consciências e a sociedade. Sejamos pois plenamente cidadãos dignos do Evangelho de Cristo. Não deixemos que nos roubem o entusiasmo missionário!
Caros irmãos e irmãs, pedimos a Jesus que ilumine e guie a vossa comunidade, a faça crescer na fé convicta e alegre, na comunhão fraterna e no testemunho da alegria do Evangelho. Confiamos esta nossa prece às mãos maternas de Maria, Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Ela mostra-nos o que é a Igreja de pedra vivas. Mostra-no-lo com um simples sim da fé e do seguimento de Jesus. Tomemo-la como modelo; invoquemo-la como Mãe que vela por nós: Vela por nós, filhos teus,/Mãe de Jesus, nosso bem;/Tu podes, és Mãe de Deus,/Tu queres, és nossa Mãe!