A celebração da noite de Natal na Sé de Leiria teve este ano uma especial beleza pela participação das crianças no coro. Elas cantaram e encantaram pelas suas vozes e entusiasmo.
A Missa da meia-noite foi presidida pelo bispo diocesano D. António Marto, que, saudou de modo especial as crianças presentes e, no final, exortou os fiéis a levarem a todos a alegria vivida na celebração mediante gestos de misericórdia e ternura para com cada próximo na vida quotidiana. Concluída a Missa, beijou a imagem do menino Jesus, saiu em direção ao adro, ficando à porta com os concelebrantes para cumprimentar as pessoas e lhes desejar festas felizes, à medida que abandonavam o templo para regressarem a suas casas.
*“No menino Jesus é a ternura de Deus que nos fala”
Na sua homilia, D. António Marto convidou a viver o Natal “na perspetiva da revelação da ternura e da misericórdia do Pai”: E explicou: “Na contemplação da ternura do menino, juntamente com Maria sua mãe, descobrimos que a nossa vida é visitada e habitada por um mistério de amor que excede toda a nossa imaginação, todas as nossas previsões, pretensões e expectativas: a presença de Deus próximo na nossa carne humana, Deus misericordioso, Deus de bondade e de ternura que nos olha com os olhos cheios de afeto, que aceita os nossos limites e a nossa miséria, Deus enamorado da nossa pequenez.” Uma vez que Deus se manifesta assim para nós, sugeriu a cada um a pergunta: “Permito-lhe que me queira bem, que toque o meu coração com a sua bondade humilde como tocou o coração de Maria?”
E sobre Maria disse que, com ela, “aprendemos como a ternura e a misericórdia são capazes de fazer maravilhas com pouca coisa, com pequenos gestos e atitudes.” E que, em todo o Natal, ela está sempre presente como Mãe “para nos ajudar a reforçar os laços da ternura e do afeto que nos devem unir a todos como filhos e irmãos”.
Por fim, afirmou que, “num mundo de rancor, de amargura e de vingança”, é preciso dar espaço ao perdão. Os cristãos têm a missão de tornar “visível aos homens de hoje a ternura de Deus e a sua misericórdia por toda a criatura, mas particularmente pelos pobres, pelos mais frágeis, os sós, os mais desprotegidos, todos os necessitados.” Como o podem fazer? Através “de atitudes, de gestos e ações concretas, capazes de criar relações calorosas de presença, de proximidade física e proximidade do coração, de cuidado do próximo ferido, de partilha das alegrias e dores, de consolação dos tristes e aflitos, de perdão entre os desavindos, de fraternidade e solidariedade”. Foi esse o desafio que a todos deixou no final da celebração, desejando um “Santo Natal de ternura, de alegria e de paz e Novo Ano abençoado para todos vós, para as vossas famílias e para todos os diocesanos.”
O músico diante do presépio
O célebre compositor austríaco do século XIX, Anton Brukner, foi o organista numa celebração da missa da noite de Natal, na catedral de Viena. No final da celebração toda a gente saiu e o sacristão fechou as portas da catedral. No dia seguinte abriu-as para a missa das sete da manhã. Qual não foi o seu espanto ao encontrar o célebre músico ajoelhado junto ao presépio. Aproximando-se dele exclamou: “Ainda aqui a esta hora, maestro?”. “Sim, porque me tinha esquecido que Ele tinha incarnado”. Também a nós pode acontecer o mesmo: esquecer o protagonista principal da festa, esquecer que o Natal é antes de mais a santa festividade do Deus que se faz Dom.
D. António Marto, Homilia na Missa de Natal.