“Não quero morrer em sofrimento. Cuidas de mim?” Este foi o sugestivo nome de uma conferência promovida pelo Serviço Diocesano de Pastoral da Saúde e pela Associação Católica de Enfermeiros e profissionais de Saúde (ACEPS), no passado dia 22 de junho, no Seminário de Leiria. A restante orientação temática era dada em subtítulo: “De uma cultura do descarte a uma cultura do cuidado”.
O tema foi desenvolvido por Manuel Luís Capelas, professor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa e codiretor do Observatório Português dos Cuidados Paliativos, e teve como comentadores três membros da Equipa Intra-hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar de Leiria.
Num auditório composto por centena e meia de participantes, muitos deles profissionais de saúde, depois de um momento musical assinado por um aluno de viola do Orfeão de Leiria, fez-se um percurso por conceitos que tantas vezes são escutados na comunicação social, mas cuja explicação fica por dar, tais como eutanásia e distanasia, suicídio medicamente assistido, sofrimento insuportável, desejo de morrer, compaixão ou cuidados paliativos.
Com uma comunicação viva, linguagem simples e apoio multimédia, o orador defendeu que, depois do chumbo na Assembleia da República de quatro propostas legislativas que visavam a legalização da eutanásia, o que está em causa é, no fundo, que sociedade queremos construir: Uma sociedade que não sabe ser compassiva, que não sabe lidar com o sofrimento e, por isso, opta pelo caminho mais fácil de abreviar o processo de morrer; ou uma sociedade compassiva, que promove uma cultura de cuidado integral. Neste sentido, procurou desenvolver o conceito de cuidados paliativos indicado pela Organização Mundial de Saúde: “Cuidados que melhoram a qualidade de vida dos doentes afetados por problemas de saúde que ameaçam a vida, e sua família, através da prevenção e alívio do sofrimento pela compreensão e identificação precoce, avaliação e controlo da dor e outros problemas físicos, psicológicos, sociais e espirituais”.
Com a esperança média de vida a aumentar em todo o mundo, mais urgente se torna pensar e programar que apoio podemos dar à população mais idosa e mais vulnerável. Para que a decisão de cada um seja o mais consciente possível, a pessoa tem direito à informação, direito ao consentimento, direito à liberdade de escolha e a não ser empurrada para uma única opção. Nesse sentido, muito há a fazer para tornar acessíveis a todos os cuidados paliativos que, de longe, são a melhor resposta para eliminar o sofrimento evitável.
No final da conferência, houve ainda tempo para algum diálogo com o painel de comentadores, que frisaram a necessidade de maior informação das populações sobre esta temática, bem como de envolver mais as famílias no processo do cuidar. Foi referido, por fim, que, desde o início de funções desta equipa específica para os cuidados paliativos no Hospital de Leiria, “nunca um doente pediu para morrer, sinal de que, quando cuidamos com dedicação, procuramos aliviar os sintomas de desconforto e dar carinho, jamais alguém se sentirá um peso e pedirá a antecipação da morte”.
P. Pedro Viva