Congregação de S. José de Cluny

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Grandes provações geram grandes respostas. Foi o caso da perseguição religiosa pela Revolução Francesa de 1789, que motivou um renovado fulgor evangelizador naquele país e o aparecimento de diversas novas congregações. S. José de Cluny, fundada em 1806, é uma das que tem aí a sua raiz.

 

 

 

 

 

 

 

Estar onde houver bem a fazer e sofrimento a aliviar

Quando estalou a revolução, Ana Maria Javouhey tinha dez anos, idade com que fez a primeira comunhão. Filha de camponeses abastados (o pai era administrador municipal) e também ricos de fé, a pequena Ana teve uma infância feliz e tornou-se uma jovem muito ativa na comunidade. Perante as perseguições aos padres e religiosos, o saque a igrejas, a proibição do culto, ela saía à rua com um tambor a chamar as crianças para a catequese, acolhia os padres que se refugiavam em sua casa e conduzia-os durante a noite até ao leito dos doentes e moribundos.

A sua desenvoltura era elogiada por muitos e ela orgulhava-se disso, ao ponto de se tornar um pouco vaidosa e viver alguns romances à conta da popularidade. No entanto, foi mais forte a voz de Deus e o exemplo do padre Ballanche, que arriscava a vida para evangelizar e celebrar Missa clandestinamente (ajudado por ela, aliás). Deixando os “encantos fúteis” da adolescência e lutando contra a resistência do pai, que temia pela sua segurança, decidiu consagrar-se totalmente a Deus aos 19 anos, arrastando nessa decisão as suas duas irmãs.

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Fez uma experiência nas Irmãs da Caridade e outra nas Irmãs da Trapa, mas das duas vezes em que estava para tomar o hábito, sentiu que não era esse o caminho. Era a ensinar crianças pobres e a acolher os órfãos que se sentia bem e foi isso que começou a fazer, dependendo da providência e por vezes na penúria total. Quando o Papa Pio VII foi a Paris sagrar o imperador Napoleão, Ana Javouhey conseguiu um encontro com ele e recebeu a sua bênção: “Coragem, minha filha, Deus realizará, por teu intermédio, muitas coisas para a sua glória”.

O seu exemplo foi arrastando outras jovens e o pai acabou por ceder parte da casa para que pudessem dedicar-se a ensinar e a acolher os mais necessitados. A sua regra foi aprovada pelo imperador em 1806 e, no ano seguinte, fizeram votos as primeiras nove Irmãs de S. José, que em 1821 iriam ter a primeira casa-mãe em Cluny, fixando-se então o nome da congregação.

 

Rápida e vasta expansão

O carisma e missão que assumiram e mantêm é anunciar a Boa Nova e promover a dignidade da pessoa. O lema “estar em toda a parte onde houver bem a fazer e sofrimento a aliviar” cumpriu-se quase de imediato, com uma expansão rápida por todo o mundo. Quando Ana Javouhey morreu (1851), havia já 142 casas e 1220 irmãs nos cinco continentes – quando foi beatificada por Pio XII, em 1950, tinham já triplicado.

Em 1881, é pedida à congregação o envio de missionárias para trabalhar em Angola com os Padres do Espírito Santo. Para a sua formação, chega a Lisboa um pequeno grupo de irmãs. É a primeira comunidade de várias que rapidamente proliferam por todo o País. Como todas as outras, a congregação é expulsa pela República de 1910, mas regressa em 1922 e voltam a crescer as comunidades.

Chega também à diocese de Leiria-Fátima, em 1946, instalando-se em Fátima a Comunidade da Imaculada Conceição, que acolhia irmãs em peregrinação ou formação. Esta comunidade foi encerrada em 1997, mas mantém-se a do Coração Imaculado de Maria, ali chegada em 1983 para ocupar o edifício construído de raiz para Casa Provincial. A sua atual missão é sobretudo de acolhimento permanente de irmãs idosas e doentes e temporário das que estão de passagem em cursos ou retiros. Além disso, algumas colaboram na ação pastoral da paróquia e do santuário.

 

Associados e Jovens Cluny

O carisma e missão das irmãs é partilhado pelos Associados Cluny, pessoas que querem viver o seu compromisso batismal e crescer na fé, aprofundando e consolidando a sua vocação laical. O mesmo se passa com os grupos de Jovens Cluny. Além de aprofundarem a sua formação cristã e vocacional, participam em encontros de oração e convívio e integram projetos de voluntariado social e missionário da congregação.

 

Testemunho Vocacional

“Sou feliz, na medida em que percebo que os outros também o são”

2015-05-13 sopra3A irmã Maria dos Prazeres Cardoso é a superiora da comunidade de Fátima há 3 anos. Natural de Proença-a-Nova, diocese de Portalegre / Castelo Branco, tem 73 de idade e 47 de vida religiosa. Pedimos-lhe que partilhasse connosco a história da sua vocação.

Nasci numa família numerosa, quarta de nove irmãos, em ambiente cristão onde a tradição tinha muito peso. Rezava-se o Terço todos os dias, mesmo depois de um dia de trabalho, e ao domingo não havia desculpa para ficar sem Missa, mesmo tendo de fazer 14 quilómetros a pé. No fim da Missa, passávamos pela sacristia para o senhor vigário assinar o cartão do Movimento Eucarístico. Os meus pais tinham pouca instrução, mas muita sabedoria, transmitindo aos filhos os valores do respeito, da lealdade, do amor ao trabalho, da confiança, da amizade, do valor da palavra dada…

Ao domingo rezava o Terço na capelinha de S. Luís Rei de França, padroeiro da minha aldeia, ansiosa pelo bailarico que se seguia. A sua festa era a 25 de agosto e gostava muito de ouvir o sermão de um padre que ia lá todos os anos contar a vida deste Santo, que admirava por ser rei e amigo dos pobres. Também a devoção mariana em maio e outubro me diziam muito.

Lembro-me, desde muito nova, de pensar no casamento como o “fechar num pequeno mundo”, que não me permitiria dedicar-me a muitas pessoas, como desejava. A minha mãe dizia que, se eu tivesse tantos filhos como ela, já era um bom grupo. Mas eu via algumas raparigas que até eram catequistas e, depois de casar, quase não tinham tempo para ir à Missa. Pensava muito nisto e, quando ouvia falar nos “pretinhos” de África que não conheciam a doutrina, atraía-me a ideia de partir para as missões.

Uma vez disse ao meu confessor que gostava de ser freira, mas ele não me incentivou muito e disse que continuasse a ser catequista que também era um serviço necessário na aldeia. Mas aquela ideia continuava e ficou mais forte quando, certo dia, ouvi uma rapariga vizinha falar das Irmãs de S. José de Cluny. Comecei a corresponder-me com a madre Teresa Assis, do Patronato de S. Sebastião da Pedreira, que me foi aconselhando… até que decidi entrar na congregação.

Estive em colégios e escolas, trabalhei na pastoral paroquial e acabei por nunca ir para África, mas, como Ana Maria Javouhey, sou feliz por fazer a Vontade de Deus. Antes de vir para Fátima, estive oito anos no Casal Ventoso, uma experiência maravilhosa onde pude viver em cheio o meu desejo de dedicação aos mais carenciados… de tempo, atenção, orientação, amizade e compreensão.

Em todas as tarefas, penso que tenho contribuído para a felicidade das pessoas que vivem comigo. Sou feliz, na medida em que percebo que os outros também o são.

Irmã Maria dos Prazeres Cardoso

 

Números

No mundo

Casas: 416

Membros: 2.656

Em Portugal

Casas: 22

Membros: 188

Na Diocese

Casas: 1

Membros: 20

Mais nova: 32 anos

Mais velha: 96 anos

Média etária: 75 anos

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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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