Como é belo ser ministro da Misericórdia e do Perdão de Deus

Homilia da Missa Crismal

 

Como é belo ser ministro da Misericórdia e do Perdão de Deus

† António Marto

Bispo de Leiria-Fátima

Sé de Leiria, 24 de março de 2016

Refª: CE2016B-005

Como é belo e consolador escutar neste dia, da boca de Jesus, o anúncio do Ano Jubilar com toda a sua grandeza de graça e misericórdia de Deus que vem em ajuda dos dramas e das feridas dos homens de hoje.

Nesta manhã de Quinta feira Santa é particularmente belo e consolador para nós, padres e bispos, tomarmos consciência de que somos ministros da misericórdia e do perdão de Deus por pura graça do seu amor, em virtude da ordenação sacerdotal de que hoje fazemos grata e alegre memória.

Neste contexto do Ano Jubilar da misericórdia saúdo a todos os presentes e, de modo especial, todo o presbitério e os sacerdotes que durante este ano celebram o jubileu da sua ordenação. Lembramos também na comunhão dos santos, o P. Júlio Vieira que terminou o seu percurso junto de nós.

Hoje desejaria meditar convosco sobre o sacramento da penitência e da reconciliação como o lugar precioso e privilegiado para fazer experiência da misericórdia de Deus.

Todos nós sabemos as dificuldades que este sacramento  muitas vezes encontra. Mas também sabemos que o Senhor quis fazer este dom à Igreja para nos dar a certeza do amor do Pai. “Como é belo encontrar no sacramento da reconciliação o abraço misericordioso do Pai, descobrir o confessionário como lugar da misericórdia, deixar-se tocar por este amor misericordioso do Senhor que perdoa sempre” (Papa Francisco, JMJ 2016). Por isso é importante que descubramos a beleza do sacramento a partir desta perspetiva, salientando determinados aspetos que requerem maior e melhor cuidado espiritual e pastoral.

  1. Sacramento de cura e de alegria

Antes de mais, na catequese e na pastoral deverá tornar-se evidente que se trata de um sacramento de cura e, por isso, de alegria: a alegria do perdão, da reconciliação com Deus e com os irmãos, da cura das feridas interiores; a alegria de reencontrar e aprofundar o gosto do bem, de avançar no caminho da conversão e da vida nova, de readquirir a serenidade e a paz interior.

O Evangelho não fala só do perdão; fala também da festa para o filho que regressa à casa do Pai. A festa faz parte do sacramento como diz tão expressivamente o Papa Francisco: “toda a absolvição é, de certo modo, um jubileu do coração que alegra o fiel mas também e sobretudo o próprio Deus”.

É uma alegria que não pode ficar escondida no coração mas deve ser partilhada e deve irradiar na vida quotidiana, nos outros, no ambiente e nas estruturas.

Infelizmente tem-se posto o acento mais naquilo que o penitente deve fazer, esquecendo que o mais importante é o que Deus realiza em nós: a sua iniciativa de vir a nós com a graça do perdão que torna possível levantar-se, recomeçar, avançar no caminho da conversão e da cura.

 À luz do seu amor misericordioso, nós veremos melhor as nossas recusas, infidelidades, traições e omissões, os nossos egoísmos; mas ouviremos repetir sempre a palavra de Jesus à pecadora: “Tem confiança! A tua fé te salvou. Vai em paz”(Lc 7, 50). Sim, no sacramento da reconciliação experimentamos a compaixão de Deus do modo mais pessoal, mais direto, mais imediato, mais íntimo e mais concreto ao recebermos o dom do perdão quando em nome de Jesus nos é dito: “Os teus pecados estão perdoados”, com a fórmula da absolvição.

A este propósito, o Papa Francisco conclui: “Todos deveriam sair do confessionário com a felicidade no coração, com o rosto radiante de esperança, mesmo se por vezes banhado pelas lágrimas da conversão e da alegria”!

  1. Acolher com coração misericordioso

Para que o sacramento da reconciliação possa ser experiência alegre de perdão e de cura é indispensável o acolhimento do Pai que vem ao encontro e abraça o filho que regressa “para não morrer à fome”.

As situações pessoais daqueles que vêm confessar-se são as mais diversas: desde os que ainda não amadureceram um verdadeiro arrependimento até aqueles que reduzem o gesto sacramental a um hábito de rotina.

Todos devem porém encontrar acolhimento misericordioso da parte do confessor. É atual a advertência de Santo Afonso Maria de Ligório, padroeiro dos confessores: “Será certamente grande e segura a salvação dos bons confessores que se empenham na saúde dos pecadores… Mas a Igreja chora ao ver tantos filhos seus perdidos por falta de bons confessores”. Acrescenta ainda que a  primeira atitude do confessor deve ser a de um pai que acolhe também aqueles que se encontram em situações difíceis.

O acolhimento misericordioso concretiza-se na “arte de escutar que é mais que ouvir”: na escuta  cordial, compassiva, paciente e respeitadora da dignidade e da história pessoal de cada penitente. Só assim permite “despertar o desejo do ideal cristão, o anseio de corresponder plenamente ao amor de Deus e o anseio de desenvolver o melhor de quanto Deus semeou na sua própria vida”(EG 171). Quanta delicadeza, paciência e capacidade de discernimento são precisas ao bom confessor!

  1. A pedagogia da misericórdia no processo de conversão e de cura

À pessoa frágil e fragilizada pelo pecado e pelas suas feridas é necessário ajuda-la a abrir-se à verdade na luz do amor misericordioso de Deus e a ver que a verdade do evangelho é sempre medicinal, capaz de curar e de dar nova energia. Mas para curar é necessário reconhecer a doença!…

É pois missão do confessor ajudar a incarnar  na vida concreta do penitente a verdade que salva, tendo em conta as possibilidades concretas e sempre com a misericórdia de Cristo. Como no campo da saúde, não basta que determinado medicamento corresponda à doença; também é necessária uma posologia que corresponda ao estado e às forças da pessoa doente, não vá ele morrer da cura!

O Papa Francisco recorda esta pedagogia: “Sem diminuir o valor do ideal evangélico, é preciso acompanhar com misericórdia e paciência as possíveis etapas de crescimento das pessoas que se vão construindo dia após dia”.

Assim será possível que o confessionário não seja um tribunal de condenação, uma lavandaria da sujidade, um caixote do lixo, nem “uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor que nos incentiva a praticar o bem possível. Um pequeno passo no meio de grandes limitações humanas pode ser mais agradável a Deus do que a vida externamente correta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades. A todos deve chegar a consolação e o estímulo do amor salvífico de Deus que atua misericordiosamente em cada pessoa para além dos seus defeitos e das suas quedas”(EG 44).

Meus caros irmãos padres, ponde o melhor da vosso zelo e da vossa criatividade pastoral na busca dos horários melhores e de novas formas de proporcionar aos fiéis o sacramento da reconciliação. A iniciativa das “24 horas para o Senhor” trouxe-nos sinais positivos. Não podemos pois limitar-nos a fazer o que é costume! Nós próprios devemos renovar a consciência de que também somos pecadores penitentes necessitados de recorrer ao sacramento do perdão.

Através de catequeses, celebrações e outros atos pastorais oportunos,  eduquemos os fiéis para a misericórdia; deixemo-nos também educar para a misericórdia pela experiência pessoal do sacramento, e guardemos sempre um olhar sobrenatural sobre o  sacramento como dom de Deus de que somos ministros não por mérito próprio, mas por pura misericórdia de Deus. Esta atitude nos tornará mais humildes e misericordiosos.

Confiemo-nos a Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia e Refúgio dos pecadores: que ela nos guie, acompanhe e ampare no exercício do ministério da reconciliação e do perdão à maneira de Cristo, rosto da misericórdia do Pai.

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