Cerca de 170 crianças e 60 adolescentes deram corpo aos três turnos da Colónia de Férias organizada pela Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima, neste verão, na casa da Praia do Pedrógão. Com a coordenação de Rita Garcia, 44 jovens monitores deram o seu tempo, alegria e saber para fazer desta iniciativa uma experiência única de divertimento e de enriquecimento pessoal.
Para muitas destas crianças, trata-se da única oportunidade que têm para poder passar uns dias na praia e estar em convívio com outros. Na sua maioria, vêm de famílias carenciadas, sem recursos sequer para a comparticipação simbólica que lhe é pedida (desde 35 euros para 10 dias de “tudo incluído”). É também importante, por isso, a ajuda dos “padrinhos de férias felizes” que anualmente ajudam esta causa. Em 2017 foram 36, este ano apenas 18…
Mas os números são o que menos conta, quando o importante é a experiência de felicidade que cada um pode viver. Sara Fernandes é já adolescente e atingiu este ano o limite de idade para participar (16 anos). Na hora da despedida, recorda o dia em que ficou “rendida à magia daquela casa, àquela alegria que transbordava no ar”, há uma década. Voltou sempre e, ao longo de 9 verões, reviveu sempre o “espírito feito de amizade, entreajuda, alegria, aprendizagem a todos os níveis e, claro, muita cantoria à mistura”. Era como “entrar noutro mundo e até esquecer algo que não esteja tão bem”, comenta, com o sentimento de quem regressa “com uma lágrima no olho e quase sem voz”, mas também “com o coração cheio de coisas boas para depois estarmos outra vez preparados para enfrentar o dia a dia o resto do ano”.
O seu testemunho integral pode ser lido mais abaixo, tal como o de duas monitoras que se estrearam este ano.
Rita Leirião partiu com muitos receios na bagagem, mas o ritmo “a 200%” desde o primeiro minuto não lhe deu tempo para medos e “magia”, “alegria” ou “felicidade” foram palavras que rapidamente aprendeu. “São dias muito intensos e cansativos e é preciso muita ginástica física e mental para levar este barco”, conta, mas no fim só queria mesmo “ficar mais um bocadinho”, porque partilhar da felicidade destas crianças “não tem preço”.
Também Eduarda Gil fez pela primeira vez esta experiência de voluntariado “algo esgotante tanto física como psicologicamente”. Ainda assim, uma experiência “das melhores que tive em toda a minha vida”, refere, resumindo-a como tendo vivido “numa bolha de amor, completamente desligada do mundo, num lugar mágico e especial que tem o dom de fazer qualquer um sentir-se em casa”. Sensibilizou-a ter encontrado crianças “que nunca tinham, sequer, provado uma bola de berlim”, mas o que leva consigo é “cada olhar ternurento, cada abraço apertado e cada beijo sentido eternamente no meu coração”. E também saudades, já…
Luís Miguel Ferraz
Testemunhos
Amor, amor e mais amor!
O que senti nos últimos 10 dias da minha existência? – Amor, amor e mais amor!
A experiência como monitora na colónia de férias do Pedrógão foi “só” das melhores que tive em toda a minha vida e não podia estar mais grata e feliz pela oportunidade que me foi dada! Não nego que seja algo esgotante tanto física como psicologicamente, mas tenho a certeza de que a felicidade estampada no rosto de cada uma daquelas crianças compensa tudo! Irei guardar cada olhar ternurento, cada abraço apertado e cada beijo sentido eternamente no meu coração!
Cresci imenso, percebi o porquê de nem tudo ser um mar de rosas. Deparei me com histórias de vida difíceis e com crianças que nunca tinham, sequer, provado uma “bola de berlim”… Vivi 10 dias numa bolha de amor, completamente desligada do mundo, num lugar mágico e especial, que tem o dom de fazer qualquer um sentir se em casa.
Ainda agora chegou ao fim e já sinto falta da rotina, do cheiro a miúdos, da música que surgia aos primeiros raios de sol, do sabor a mar, dos banhos, dos serões todas as noites. Irei, sem dúvida, voltar…
Eduarda Gil, monitora do Turno 1
– Valeu a pena? – Cada minuto!
Decorria uma manhã normal do mês de agosto quando se abriram as portas da Casa Amarela e, pouco a pouco, foram chegando os protagonistas desta história. São mais de 80 crianças que trazem consigo uma mala cheia de expectativas para umas férias incríveis.
Para os receber, estamos 15 monitores, cada um nervoso à sua maneira. No meu caso, é a primeira vez que embarco nesta aventura que é a Colónia de Férias. Anseio por ver as caras das crianças que serão a minha família nestes dias, mas na minha cabeça ecoam muitas perguntas: “Será difícil?” “Saberei como agir?” “Serei capaz?”.
Não tive tempo para refletir nas respostas. Na Casa Amarela não se pensa, vive-se! E é a 200%!
As paredes deste sítio têm algo de místico e transportam-nos a todos para uma outra realidade onde não há espaço para tristezas nem angústias, aqui impera a felicidade! Cada criança que entra nesta casa abandona por 10 dias as suas tormentas e é convidada a viver umas férias mágicas.
E é para isso que cá estamos nós, monitores. Vimos para dar tudo de nós a estas crianças e proporcionar-lhes os melhores dias do ano. Desengane-se quem pensa que é uma missão fácil. São dias muito intensos e cansativos e é preciso muita ginástica física e mental para levar este barco. Ser a família destas crianças é estar lá para elas 24 horas por dia, e da família não e tiram folgas. Mas dizem que quem corre por gosto não cansa, e se ao 5.º ou 6.º dia já nos sentimos exaustos, quando chega o último sentimo-nos capazes de ficar mais um bocadinho. Mais do que isso, queremos ficar mais um bocadinho!
Acho que é este o encanto de ser monitor nesta casa, desafiar-nos a chegar ao coração de cada uma destas crianças, desde as mais sossegadas às que dão mais dores de cabeça, sentir calorosamente cada abraço, guardar na memória o som de cada gargalhada. É extraordinário o poder que as crianças têm de nos transformar. Vamos para dar e saímos mais completos do que entrámos, porque partilhar da felicidade de 80 crianças não tem preço.
Olhando agora para trás, já tenho algumas respostas para as minhas dúvidas:
– Se foi difícil? – Foi.
– Se soube sempre o que fazer? – Não, mas é aí que está o grande desafio.
– Se fui capaz? – Acho que sim, à minha maneira.
E a pergunta chave:
– Valeu a pena? – Cada minuto!
Rita Leirião, monitora do Turno 2
Encher a alma de coisas boas
Lembro-me da primeira vez que entrei na Casa Amarela, era eu uma menina de seis anos que mal sabia o que me esperava. Fiquei logo rendida à magia daquela casa, àquela alegria que transbordava no ar. Fiquei tão rendida que voltei no ano seguinte, no outro e no outro… E agora cá estou eu, a Sara de dezasseis anos, acabada de sair do seu último turno na Colónia da Cáritas.
No total, foram nove anos de Casa Amarela, nove turnos diferentes, cada um especial à sua maneira. Mas nesses nove turnos nunca faltou o espírito que se vive naqueles dez dias, ou cinco, no caso dos mais crescidos. Um espírito feito de amizade, entreajuda, alegria, aprendizagem a todos os níveis e claro, muita cantoria à mistura. É esse espírito que nos envolve desde o adeus aos nossos pais até o voltar a casa, que nos faz entrar noutro mundo e até esquecer algo que não esteja tão bem. É esse espírito que nos faz querer voltar todos os anos àquela casa (como que uma rotina) e que nos faz retornar a casa, a cada fim de turno, com uma lágrima no olho, com o coração cheio e quase sem voz.
De facto, a colónia é uma experiência bastante enriquecedora a todos os níveis, onde há o respeito por todos, onde treinamos intensivamente a nossa imaginação, e até onde aprendemos a saber lidar com a nossa responsabilidade, que eu própria notei aumentada à medida que os anos passavam.
Já dizia um monitor neste último turno que a colónia, apesar de tudo, serve para nos encher a alma de coisas boas, para depois estarmos outra vez preparados para enfrentar o dia a dia o resto do ano. Não podia estar mais de acordo. Tudo o que vivemos naquela casa, naquela praia, ainda que a brincar, vai com certeza ajudar-nos nos outros momentos, aqueles a sério.
Para terminar, não podia deixar de falar dos monitores que nos acompanham, turno após turno, esses voluntários que dispensam as suas férias para passar uns dias connosco, recebendo apenas os nossos sorrisos em troca. Voluntários que muitas vezes se tornam nossos amigos, sempre carregados de palavras amigas, sorrisos para dar e vender, boa disposição, e contrariando o cansaço, sempre cheios de energia. A todos eles, à D. Saudade, à D. Fátima e à D. Paula, um obrigado pelos nove turnos que me proporcionaram, por toda a alegria, todas as brincadeiras e pelas lágrimas de alegria e saudade.
E como um obrigado não chega, até já, Casa Amarela…
Sara Fernandes, participante no turno juvenil