Na catequese familiar, são os pais os primeiros educadores na fé dos filhos, um papel do qual se têm afastado nos últimos anos. O modelo combina catequese de crianças e de adultos e vive da relação entre pais e filhos.
Na Diocese, algumas paróquias já oferecem a catequese familiar no primeiros três anos. No apoio à implementação desta proposta, tem estado o Secretariado Diocesano da Catequese, com apresentações e ações de formação.
Quem participa, fala de um experiência enriquecedora, que faz da família um verdadeiro espaço de crescimento na fé.
A catequese familiar surgiu de experiências pastorais pontuais feitas na América Latina, Ásia e África que, anos mais tarde, foram experimentadas também na Europa. Há cerca de oito anos, deram-se os primeiros passos no sentido da estruturação da catequese familiar no nosso país, pelo Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC). É com base numa proposta deste serviço que o projeto está a ser lançado ao nível nacional, conta-nos o padre José Henrique Pedrosa, diretor do Departamento Diocesano de Educação Cristã.
“O SNEC aproveitou a reflexão internacional que vinha sendo feita sobre esta proposta e ainda um estudo concreto feito pelo padre Vasco Gonçalves e publicou um livro sobre catequese familiar (ver caixa), que viria a despertar ainda mais interesse sobre o este tema.”
Como funciona?
Depois de uma sistematização da proposta, foi feito um guia do animador familiar, para o catequista que acompanha os pais e um guia para estes, para além do catecismo das crianças e respetivo guia do catequista. Estas ferramentas são utilizadas segundo um itinerário estruturado por etapas, que decorre entre os meses de outubro e julho, articulada em quatro momentos (ver caixa).
“É feito um caminho com os pais, para que depois, em casa, eles possam acompanhar os filhos no programa da catequese. Tudo com a ajuda dos guias e catecismo que orientam os pais e os catequistas, através de um método pedagógico, durante todo o programa”, refere o responsável diocesano pela catequese.
Porque o caminho proposto é feito essencialmente com os pais, é imprescindível um acolhimento positivo da sua parte, lembra o sacerdote. Daí que o primeiro passo para a implementação da catequese familiar, numa paróquia, seja uma reunião introdutória, a realizar antes do início da catequese, onde é apresentada a proposta aos pais.
Se os pais assumem um papel de maior acompanhamento do itinerário de fé dos filhos, já o catequista, para além de fazer uma síntese dos conteúdos, é responsável pela integração das crianças em grupo e na comunidade.
Vantagens e dificuldades
“A primeira vantagem desta proposta é que envolve toda a família, graças a aposta na formação de adultos que faz dos pais os primeiros educadores na fé dos seus filhos. Por outro lado, potencia a integração da família numa participação mais ativa na comunidade”, ressalta o padre José Henrique Pedrosa.
A principal dificuldade é o “receio de muitos pais em acolher a proposta, por não se sentirem capazes”, contrapõe o sacerdote.
“Um dos aspetos que achei mais preocupante nas apresentações que fiz da catequese familiar, foi ouvir pais dizer que não têm tempo para fazer isto com os filhos. Ainda há a ideia de que a educação na fé dos filhos é da responsabilidade da comunidade, o que faz com que não haja disponibilidade interior dos pais.”
A ideia de que a catequese familiar implica um maior envolvimento de recursos é outro aspeto que dificulta a implementação da proposta nas comunidades, uma vez que são necessários dois catequistas, um para acompanhar as crianças e outro para os pais.
“Há que perceber que se trata de uma aposta a médio e longo prazo. Se conseguirmos investir no acompanhamento dos adultos, com mais facilidade teremos recursos adultos, fruto do envolvimento feito na caminhada com os pais”, lembra o responsável da catequese na Diocese.
“Este, é o caminho!”
Na Diocese, a catequese familiar está a ser lançada há cerca de cinco anos. O Serviço de Catequese tem procurado, desde o início, divulgar o modelo nas comunidades: junto dos párocos, nos encontros e na escola de catequistas, em apresentações e em ações de formação.
Belmira de Sousa, do Serviço de Catequese, é quem dá a formação, nesta área, na Escola Diocesana Razões da Esperança.
“No geral, os catequistas confiam no projeto, mas noto que existe algum receio em desenvolvê-lo na respetiva paróquia. O modelo está bem feito, mas exige preparação, competência, trabalho e dedicação e, às vezes, não existe disponibilidade para tudo isso”, disse a formadora, ao Presente Leiria-Fátima. O facto do catequista ter de dar catequese aos pais gera algum “medo em lidar com a situação”, acrescenta.
Alguns dos temas exigem uma maior “bagagem teológica e pastoral”, sobretudo quando abordados com os pais, mas através da formação, dos guias disponíveis e de alguma dedicação, é possível ultrapassar o receio inicial e desenvolver o projeto na comunidade, refere Belmira de Sousa.
“Quem acolhe o modelo fica satisfeito com a decisão e as crianças ficam com uma estrutura mais sólida da catequese. Primeiro, porque ela lhes é transmitida num ambiente familiar e, depois, porque é solidificada na comunidade, no encontro com o catequista. Este trabalho entre adultos e crianças estava a faltar, principalmente para os pais sentirem que são os primeiros educadores na fé dos filhos. Este, é o caminho!”
Um modelo que fortalece a relação familiar
Em Monte Redondo, foi o casal Helena Pedrosa e Ivo Viegas que assumiram a implementação da proposta da catequese familiar. O grupo, onde também estão os filhos, está agora no 2.º ano.
“No início do 1.º ano, fizemos uma reunião, com todos os pais, onde explicámos o modelo e procurámos interessados em integrá-lo. Surpreendentemente, houve 20 pais que avançaram connosco.”
A par desta proposta, manteve-se a da catequese regular, para que não “viessem para a catequese familiar obrigados”. O casal assumiu os encontros com os pais e convidou dois jovens para assumirem a catequese com as crianças (ver testemunho de Vanessa Domingues).
Na dinamização das reuniões com os pais, Helena fala de alguma dificuldade no cumprimento do plano proposto, durante a hora e meia disponível.
“No início, os pais ainda se retraiam um pouco, mas agora é difícil cumprir o plano, uma vez que grande parte do tempo é dedicado à partilha sobre como correu a catequese em casa.”
Enquanto mãe, Helena reforça a ideia de que este modelo fortalece a relação familiar.
“Se não estivéssemos na catequese familiar, não fazíamos ideia do que se estava a ensinar, nem dedicaríamos este tempo aos nossos filhos, a conversar sobre os temas que são propostos. Esta aposta na relação entre pais e filhos é um dos aspetos mais positivos deste modelo. Esta opinião não é só minha, mas de muitos pais que integram o grupo.”