Estou aqui, frente ao Santíssimo Sacramento, em adoração, e gostava, gostava muito, meu amigo, que andas afastado de Deus, que aqui estivesses comigo também.
Não, não te quero convencer de nada, quem sou eu, pobre de mim, para o fazer, mas quero dizer-te como é bom estar aqui, como é bom estar com Deus.
Também eu andei afastado de Deus muito tempo, e parecia-me que a vida que levava era muito boa, que tinha quase tudo o que precisava para ser feliz, sobretudo quando corria tudo bem, mas a verdade é que quando as dificuldades apareciam, tudo se desmoronava e nada tinha a que me agarrar.
Os prazeres que tirava da vida eram muitos, mas chegava sempre à conclusão que tinham apenas presente e nunca tinham futuro, mais ainda, que mal o efémero prazer passava, havia uma quase frustração, porque nada continuava.
E eu tinha tido todo o ensino das coisas de Deus, e até o testemunho fiel de meus pais, mas o tempo, o comodismo, a preguiça, o “deixa andar”, acabaram por me afastar inexoravelmente de Deus.
E começaram a chegar aqueles momentos em que a ausência de um futuro, e pior do que isso, uma quase previsão de um abismo, começaram a fazer-me perceber que não era por ali o caminho.
E comecei à procura d’Ele, e Ele, quando O procuram, logo Ele se faz encontrado!
Mas não é um encontro intempestivo, cheio de recriminações ou conselhos, mas sim apenas uns braços abertos, que nos acolhem, nos apertam e nos enchem de amor.
Mas também não é aquele amor efémero, um amor de um momento, é um amor que permanece, que nos enche de paz, que nos traz uma serena alegria, e nos faz sentir que seja em que momento for, Ele está sempre connosco, até mesmo quando nos afastamos d’Ele.
E depois, sabes meu amigo, tudo isto se reflecte no nosso dia a dia e, à medida que O vamos conhecendo melhor, cada vez mais Ele se faz presente, e nos proporciona momentos em que O percebemos incrivelmente presente em tantas coisas que vemos, dizemos, sentimos e vivemos.
Deves agora já estar a pensar que isso é demais, que é uma presença que até pode ser incómoda, mas não, meu amigo, Ele é o Mestre do “bom senso” e, por isso, nunca se impõe, nem colide com a nossa total liberdade.
E aqui, frente a Ele, (sabes bem que acreditamos firmemente que Jesus Cristo está verdadeiramente presente na Eucaristia), ainda mais este amor toma conta de mim e me faz perceber que a vida com Ele tem todo o sentido, apesar de todas as provações e dificuldades.
E sabes, meu amigo, não é preciso saber muitas coisas, não é preciso saber falar muito bem, não é preciso dizer coisas muito inteligentes ou teológicas, mas apenas olhá-lO e dizer-lhe com todo o amor que nos for possível: Aqui estou, Senhor! Faça-se em mim a Tua vontade.
Depois, meu amigo, depois abandonamo-nos a Ele, deixamos que o amor do Pai nos envolva, entregamo-nos ao Espírito Santo e deixamos que Ele nos conduza, às vezes no silêncio, outras vezes no olhar o Santíssimo repetindo interiormente o nome de Jesus, outras vezes ainda deixando que as palavras saiam do nosso coração e se tornem numa oração que Ele entende e aceita cheio de amor.
Ah, e sabes, as palavras até podem ser importantes, mas muito mais importante é a intenção do nosso coração, porque é o nosso coração que Ele conhece como nós não conhecemos.
Então o amor, a paz, a serenidade, a confiança, a esperança, tomam conta de nós e podemos viver a vida com tudo o que ela contém, porque acreditamos que Ele está connosco em todos os momentos.
Por isso, meu amigo, gostava muito, muito que estivesses aqui comigo, para estarmos os dois com Ele.