No dia 8 de dezembro de 2024, dia da Imaculada Conceição, a comunidade dos Barreiros, da paróquia de Amor, reuniu-se para uma celebração histórica: o centenário da dedicação da sua igreja, integrada nas festividades em honra de Nossa Senhora da Conceição. Este evento marcou não só um momento de recordação e homenagem, mas também a consagração de uma nova etapa com a dedicação do novo altar, símbolo da renovação da fé e da união da comunidade.
A tarde começou com a recolha de andores e oferendas às 13h30, acompanhada pela Filarmónica das Chãs, que trouxe solenidade ao momento. À medida que os fiéis se reuniam, a atmosfera transbordava de reverência e alegria, refletindo o espírito de uma comunidade enraizada na sua fé.
Homenagem aos pioneiros e descerramento das lápides
Às 14h45, as celebrações concentraram-se no descerramento de duas lápides comemorativas. O primeiro momento, conduzido por Célia Roda, da Comissão da Igreja, prestou homenagem aos dinamizadores da construção do templo: Evaristo Serrano, Manuel Gaspar Ribeiro, Manuel Esperança e António Esperança. Na sua apresentação, sublinhou o esforço coletivo que ergueu o templo como símbolo de união.
O presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, depois de descerrar a primeira lápide, destacou o papel da igreja como ponto de encontro e espaço de alegria. “Este espaço é muito mais do que uma igreja. É um testemunho da força desta comunidade”, afirmou.
A segunda lápide foi descerrada por D. José Ornelas, bispo da Diocese de Leiria-Fátima. Albertino Rainho, também da Comissão da Igreja, introduziu o momento com palavras de gratidão pelas bênçãos recebidas ao longo do século. A sua intervenção e a do próprio prelado reforçaram o compromisso da comunidade em continuar a caminhada de fé. “A renovação desta igreja e a construção do novo altar são um símbolo dessa dinâmica, um testemunho de uma comunidade que não se detém no passado, mas que se lança com esperança no futuro”, assinalou D. José Ornelas.
Um novo altar, mais próximo da assembleia
Pelas 15h00, teve início a missa solene, presidida por D. José Ornelas. Antes do cortejo de entrada, o arquiteto Humberto Dias apresentou o novo altar e o mobiliário litúrgico, fruto de uma reforma inspirada pelas orientações do Concílio Vaticano II. O arquiteto explicou como a intervenção valorizou o retábulo do século XVIII, reorganizou as imagens de devoção e aproximou o altar dos fiéis, simbolizando a união entre a humanidade e o divino.
O altar foi desenhado como um bloco de pedra maciça, composto por três elementos que formam a mesa eucarística. Ao centro, um círculo vazado simboliza a plenitude divina e o ventre materno de Maria, perfeito e imaculado, que acolheu Jesus. Esta forma, acentuada por um arco lunar na base, remete para a iconografia da Imaculada Conceição, padroeira da igreja. O círculo, cortado por uma linha vertical, reforça a ideia da ligação entre o céu e a terra, um mistério que se concretiza no momento da Eucaristia. O altar é, assim, não só um espaço físico, mas também uma expressão simbólica do mistério cristão.
Ao lado do altar, o ambão destaca-se pela continuidade simbólica com o altar, utilizando a mesma linguagem de formas simples e geométricas. Inspirado no círculo central do altar, o ambão apresenta uma abertura em arco, simbolizando a descida da Palavra de Deus ao encontro dos homens. Este elemento sublinha a centralidade da proclamação da Palavra na vida da comunidade eucarística, estabelecendo um elo entre o mistério divino e a caminhada humana.
O mobiliário litúrgico inclui ainda os bancos da presidência e a cadeira do presidente da celebração, trabalhados em madeira de carvalho francês. A simbologia do círculo, presente também no espaldar da cadeira, reflete a missão terrena de quem preside à celebração, representando Cristo na sua condição humana. As formas simples e os materiais nobres conferem um equilíbrio visual e espiritual, reforçando a ligação entre tradição e modernidade.
“A simplicidade das formas e a nobreza dos materiais traduzem-se numa linguagem espiritual que enriquece a experiência de fé desta comunidade”, afirmou o arquiteto.
O rito da dedicação do altar
Na homilia, D. José Ornelas exaltou o mistério da Imaculada Conceição e o papel de Maria como “Cheia de Graça”. “Esta igreja, renovada hoje, é um reflexo do amor de Deus por esta comunidade. Que Nossa Senhora continue a iluminar o vosso caminho”, concluiu.
Seguiu-se-lhe o momento mais significativo do dia: o rito de dedicação do novo altar. D. José Ornelas conduziu os ritos de unção, incensação, revestimento e iluminação do altar, cada um carregado de significado. A unção tornou o altar um símbolo de Cristo; o incenso representou as orações que sobem ao Céu; o revestimento destacou o altar como mesa da Ceia do Senhor; e a iluminação lembrou que Cristo é a luz do mundo.
O rito da dedicação de um altar é um evento único e marcante na vida de uma igreja. Quando um altar é dedicado, ele torna-se um símbolo de Cristo, o “Ungido” por excelência, e um local sagrado onde o mistério da Eucaristia se realiza. Este momento representa não apenas a consagração de um objeto, mas também a renovação do compromisso da comunidade de fé em viver e testemunhar os mistérios de Deus. A dedicação do altar é composta por vários ritos, cada um carregado de um profundo significado espiritual.
O momento começa com a aspersão do altar com água benta, que simboliza a purificação do espaço e a preparação para os momentos sagrados que ali se desenrolarão. A água benta recorda o Batismo, o sacramento que inicia a vida cristã.
Um dos momentos mais solenes é a unção do altar com o santo crisma, um óleo reservado para os sacramentos mais importantes. Com a consagração do altar, o espaço torna-se um símbolo de Cristo, que é “Ungido” pelo Espírito Santo. A unção sublinha o papel central do altar na vida litúrgica da comunidade, como o local onde o sacrifício de Cristo é perpetuado na Eucaristia.
Em seguida, o bispo queima incenso sobre o altar, um gesto que evoca a elevação das orações dos fiéis ao trono de Deus. O incenso, com o seu aroma suave e a sua ascensão para o céu, é um sinal visível da presença divina e do sacrifício agradável a Deus que ali é oferecido.
Após a unção e a incensação, o altar é revestido com uma toalha branca, símbolo da dignidade e pureza da mesa do Senhor. Este momento destaca a dupla função do altar como lugar de sacrifício e mesa da Ceia do Senhor, onde os fiéis se reúnem para partilhar o Corpo e o Sangue de Cristo.
O rito culmina com a iluminação do altar, quando foram acesas velas que simbolizam Cristo, a “Luz do mundo”. Este gesto recorda que o altar é o local onde a luz de Cristo brilha para iluminar toda a comunidade e, através dela, o mundo.
Olhar para o futuro
Ao encerrar as celebrações do centenário da igreja dos Barreiros, D. José Ornelas dirigiu palavras de reconhecimento e esperança à comunidade, marcando com profundidade o significado do momento vivido. Com o altar renovado e a igreja embelezada, este marco de 100 anos foi um testemunho da história e da fé que sustentam a vida espiritual dos Barreiros.
Também dirigiu um agradecimento sincero a todos os que contribuíram para a renovação da igreja, fruto de um trabalho que resultou as intervenções que merecia.
“Esta igreja é testemunha do caminho percorrido por tantas gerações ao longo deste tempo. Nós somos filhos e filhas desse esforço, herdeiros desse legado”, afirmou, sublinhando que a história do templo é inseparável da história da comunidade que o construiu e cuidou ao longo dos anos. Este reconhecimento foi também um convite a valorizar o que foi recebido, mantendo vivo o espírito de serviço e união.
D. José Ornelas enfatizou que as celebrações do centenário não são apenas uma recordação do passado, mas um momento de renovação espiritual e de compromisso para o futuro. Num mundo cheio de desafios, mas também repleto de oportunidades, o bispo encorajou a comunidade a continuar a sua caminhada com fé e determinação, trabalhando juntos na renovação da Igreja.
“Hoje, renovamos para o nosso tempo as graças que recebemos e pedimos ao Senhor que nos conceda vida e força para continuarmos a trabalhar juntos na renovação da Sua Igreja”, declarou. Este apelo à unidade e à ação deixou claro que a celebração não termina com o evento, mas se prolonga na vida da comunidade, que é chamada a ser testemunha viva do amor de Deus no mundo.