AS DUAS FRASES MAIS BELAS

O nosso Directório Litúrgico indica para hoje, como é habitual nos sábados disponíveis, a memória facultativa de Santa Maria no Sábado.

Tradição muito antiga do Missal Romano, aproveito-a frequentemente para celebrar a missa votiva de algum dos títulos de Nossa Senhora – e são realmente muitos – por que nutro especial devoção.

Desta vez lembrei-me de Nossa Senhora da Graça, tendo presente a súplica da ladainha que, em latim, diz: Ora pro nobis, Mater divinae gratiae;

O Missal Romano, na tradução do Secretariado Nacional de Liturgia, chama-lhe Virgem Maria, Mãe e Medianeira da Graça, designação que esconde mal os restos de um certo pudor, criado há várias décadas, pela polémica entre maximalistas e minimalistas, quanto a mim, uns e outros mais indiscretos do que devotos de Nossa Senhora.

A Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias celebra hoje a solenidade da sua Padroeira principal, com o título de Virgem santa Maria das Vitórias.

Penso que não me levarão a mal que aproveite a oportunidade para homenagear estas Irmãs, membros de um instituo religioso, nascido em Portugal há pouco mais de um século, pelo bem que me fez o seu exemplo de trabalho e oração, quando as exigências do estudo me levaram a passar vários meses no Pontifício Colégio Português, em Roma.

Mas, para além desta feliz coincidência, o que me fez pensar com particular atenção, neste instituto religioso foi a verificação de que o texto do Evangelho da sua festa era o sugerido pelo missal geral, e que é precisamente o que, em meu entender, nos introduz de modo mais profundo no mistério da relação de Maria com Cristo Redentor.

O concilio Vaticano II, pela primeira vez na história destas assembleias ecuménicas, dedica expressamente a Nossa Senhora, um capítulo completo, inserido na constituição dogmática sobre a Igreja; capítulo intitulado: A Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no Mistério e Cristo e da Igreja (Lumen Gentium, 52-69).

Sem pruridos de exegeta nem de teólogo, animado unicamente pela fé e a paixão que ela me inspira, contemplo, num misto de alegria e inquietação, o quadro desenhado pelo hagiógrafo, ou a tradição que ele recolhe, logo no início do quarto Evangelho:

É uma festa de casamento; nada de especial, porque se trata de um tópico das narrativas que se ocupam particularmente dos acontecimentos em que se festeja a criação de vínculos interpessoais, como era o caso do casamento.

Acontece, porém, que aqui, o autor sagrado, sem indicar os protagonistas principais da festa, que seriam os noivos, começa a sua narrativa:

“Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda”.

Deixo de lado a referência ao terceiro dia, apesar do seu profundo significado teológico, e centro-me em Maria, que é mencionada, significativamente, como “a mãe de Jesus”, como os convidados, o mesmo Jesus, e os discípulos, que, diz o texto, “também foram convidados para a boda”.

É verdade que temos ainda os serventes e o arquitriclino (“o chefe da mesa”, na tradução litúrgica oficial); mas, analisando bem o quadro, diríamos, numa linguagem técnica, que não passam de figuras planas, sem qualquer transcendência, na viragem que, a certa altura, se opera na festa. Viragem surpreendente, porque não é qualquer vinho que surge para que ela se salve. O texto diz claramente, pela boca do arquitriclino, que é o “vinho bom”; não o melhor, como dizem algumas traduções, incluindo a nossa litúrgica oficial.

Pormenor fundamental no conteúdo teológico do texto, mas que passo adiante para escutar as palavras da mãe de Jesus.

“Não têm vinho!” E, depois da resposta de Jesus, que só aparentemente será negativa, aos serventes, para que façam o que devem, mas como Jesus mandar: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

Pessoalmente, considero as duas frases mais belas de Maria, aliás as únicas guardadas pelo Evangelho, que alguns exegetas dizem ser o mais mariano dos quatro evangelhos.

A virgem Santíssima, figura da Igreja, da qual é também Mãe e Filha, está com todo o seu mistério indissoluvelmente ligado ao de Cristo, que é, na perspectiva joanina, o “vinho bom” que faltava na festa; e é como tal que pronuncia estas duas frases, que, na mesma perspectiva, serão, de um modo ou de outro, a síntese mais perfeita do discurso que a Igreja não pode deixar de repetir por toda a parte, até ao fim dos séculos, porque ela é a presença do mistério de Cristo na história dos homens.

A Igreja no seu todo e cada um dos seus membros, na porção da história humana que lhe calhou viver: levar até Deus as necessidades reais da festa das núpcias do Cordeiro e dizer aos homens, sem hesitações, mas com a serenidade que lhe advém do Esposo divino, o que têm de fazer, para que a festa se salve verdadeiramente.

Não têm vinho!

Fazei tudo o que ele vos disser.

Na boca de Maria, dada a grandeza do seu mistério, em Jesus Cristo, estas são as duas frases mais belas alguma vez proferidas no seio da humanidade; e não será por acaso que é uma mulher que as profere.

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