Ando à procura de Ti, Senhor…

…pelos caminhos vazios da vida. Assim começa uma música do cancioneiro juvenil que todos teremos já cantado. E que retrata uma das características mais intrínsecas da condição humana.

A procura de Deus, muitas vezes encoberta na procura de si mesmo, do sentido da vida, das razões da existência do universo, da verdade, é um exercício que começa no íntimo de cada um e se estende ao próprio objeto da filosofia ou da investigação científica. É essa questão que abordamos no destaque da edição desta semana do Presente Leiria-Fátima (28.08.14).

O que leva tantas pessoas a porem-se ao caminho, a pé, durante dias e dias, com grande esforço e sacrifícios, sozinhos ou em companhia, para se dirigirem a santuários como Fátima, Santiago de Compostela, ou a outros lugares sagrados? Ou o que move muitas outras a viajarem para Taizé, Terra Santa, Roma, Assis, Lurdes, ou variados centros de peregrinação? Ou ainda, o que leva tanta gente a pegar na sua Bíblia ou em outros livros espirituais e a ler sofregamente à procura da resposta para situações ou dúvidas que a angustia? Outros entram simplesmente numa igreja e ali ficam, por vezes demorada e repetidamente, em silêncio, à espera de luz ou de uma palavra esclarecedora e animadora para as sombras, sofrimentos e questões que inquietam a sua vida.

E os sinais de procura poderiam continuar. De muitas formas, por diferentes caminhos, de modo explícito ou encoberto, os homens procuram Deus na sua vida.

 

Um desígnio permanente

Podemos dizer que procurar Deus é o desígnio que Ele colocou no nosso coração, até que o encontro se realize no tempo, pelas formas mediadas em que tal possa acontecer e, por fim, na eternidade de modo claro e direto. Esta procura é um exercício permanente que pode ser concretizado em diferentes formas de perguntar e em diversas maneiras de procurar respostas.

De forma mais sistemática, a filosofia antiga partiu à procura de soluções para questões tão insolúveis como: quem sou, de onde venho, para onde vou? E, ao longo da história, esse mesmo exercício atravessa, de forma mais ou menos evidente, todas as ciências, desde as humanas às mais empíricas. E a procura continua.

Também as religiões surgem como formas de colocar a mesma pergunta pela divindade, centrando na relação do ser humano com ela o sentido da existência. Novas espiritualidades, sobretudo com origens nas tradições orientais, propõem a mesma resposta centrada na descoberta de si mesmo como centro de relações com o restante universo. E, infelizmente, há também quem apenas procure explorar a fragilidade de quem se sente perdido, com soluções mágicas, feitiçarias ou espiritismos fantasiosos.

A nível pessoal, a mesma sede de descoberta perpassa toda a vida. Há quem tente ignorá-la ou negar-lhe importância, quem responda com a negação de existência de um sentido que valha a pena procurar, mas também quem aproveite todas as pistas e oportunidades para uma tentativa de solução.

 

Caminhos de procura

São muitos os caminhos que podem ser percorridos nesta demanda da “procura de Deus”. Seja a nível mais íntimo, através da leitura, da meditação ou da oração pessoal, seja a nível mais público e exteriorizado, como pela participação em peregrinações, romarias a santuários, retiros ou exercícios espirituais, essa pergunta de fundo permanece, ainda que oculta sob outras perguntas. Ou mesmo sem noção da existência de uma pergunta, como tantos que encontram sentido para a vida na prática do voluntariado, em ações de solidariedade ou no dedicar da vida em prol de uma causa que os “preencha”.

Na última edição do jornal Presente, publicámos exemplos disso nos relatos de quem procura “férias diferentes”, que sirvam para acrescentar algo mais às rotinas do dia a dia, especialmente quando são dedicadas a melhorar a vida dos que mais precisam, como é o caso dos missionários. E também nos testemunhos dos jovens que rumaram a Taizé, para uma experiência mais forte e profunda de relação com Deus e uns com os outros.

 

Locais de encontro

De facto, há locais e ocasiões que ajudam a esse encontro. Pode ser uma paisagem deslumbrante, um local propício ao silêncio, o contemplar uma obra que nos enleve pela sua beleza estética ou iconográfica. E há os que, carregados de outros sentidos e sinais do divino, são ainda mais especiais, como um mosteiro, um templo, um santuário. Neles, muitas vezes após uma peregrinação solitária, concentram-se multidões de indivíduos que carregam intimamente uma procura pessoal de Deus, que esperam encontrar na solução de um problema específico que os aflige.

Para exemplificar isso mesmo, pedimos um testemunho a duas pessoas que se disponibilizaram a partilhar connosco a sua experiência.

Tal como eles, muitos de nós terão histórias parecidas e semelhantes questões por responder. Neste caminho feito de procura, o cristão sabe que pode contar com Deus, que é o primeiro a fazer o percurso de vir ao nosso encontro. Por isso, completando a estrofe da canção com que começámos, não deveremos esquecer-nos de Lhe pedir: “à noite escura dos sem amor, vem, ó Senhor, dar luz e vida”.

Luís Miguel Ferraz | Presente Leiria-Fátima

 

 Santiago: procurar Deus dentro de nós

Há histórias que começam com uma simplicidade divina.

Em março de 2012 fiquei desempregado, em circunstâncias diluídas pelo tempo que passa, como a areia escapa entre os dedos das mãos. Num desses dias de trauma do desempregado, um amigo e camarada de profissão sugeriu-me que parasse para pensar, para reorganizar a vida, que tivesse calma. E sugeriu-me que fizesse o Caminho de Santiago de Compostela.

Essa ideia ganhou forma e, no dia 1 de maio seguinte, parti de Fátima. Caminhei entre oito e dez horas por dia, quase sempre sob chuva. E entrei na Catedral de Santiago de Compostela a 13 de maio, no momento em que, no Altar do Mundo, 300 mil pessoas celebravam a primeira aparição.

Às vezes perguntam-me se fui por fé. Costumo responder:

– Por alguma razão não fui a pé a Madrid, mas ainda não sei qual é.

No final da viagem escrevi a reportagem “Alguma dor cura a alma”, que conta em 13 capítulos a história dos Caminhos de Santiago e a minha experiência. Em 2013 voltei a Compostela, pelo Caminho do Interior (Viseu), e este ano percorri a pé o triângulo Santiago de Compostela/Muxia/Finisterra.

Há milhares de razões para partir. O caminho pode ser um percurso iniciático, místico ou esotérico, que reúne crenças e cultos druídicos, celtas ou cristãos.

Eu vou pelo património, pela natureza, sobretudo pelas gentes do/no caminho. Mas mais. Hoje, o Caminho de Santiago é uma necessidade periódica de reencontro comigo próprio. É uma caminhada interior, uma tentativa de descoberta do meu eu mais profundo. É como fazer uma triagem cíclica da vida.

Se isto é buscar Deus, então busco Deus.

Carlos Ferreira, jornalista

 

Oportunidades para Deus, na correria da vida

Sinto muitas vezes a necessidade de parar para refletir, de encontrar um momento de silêncio, de introspeção, de encontro comigo próprio, de confronto com a minha dimensão espiritual e da minha relação com Deus.

Na sociedade em que vivemos, temos tudo para andarmos distraídos e distanciados do diálogo com Deus e não é fácil dar espaço à nossa realidade espiritual. Todos temos um projeto para a vida e queremos tirar o máximo partido dela, escrevendo a nossa própria história. Mas, como diz o nosso Papa Francisco, precisamos de deixar que seja Deus a escrever a nossa vida. E se não deixarmos ouvir a sua voz, o silêncido do vazio pode ser ensurdecedor.

A verdade é que os muitos silêncios sem Deus, na apatia entediante da correria da vida, nunca me trouxeram a paz de espírito, o verdadeiro sentido da felicidade. Tive a necessidade de me interrogar permanentemente, de traçar um caminho de reencontro com as minhas raízes, de ir à procura de um sentido para a vida.

Por isso, procuro oportunidades de fazer retiro, por exemplo, para além de participar regularmente na vida da minha comunidade e de aplicar parte do meu tempo em projetos comunitários.

Também por isso, um grupo de seis casais amigos reunimo-nos para a discussão de temas que nos ajudam a redesconbrir os nossos ideais cristãos, em clima de oração. É também um momento para o convívio, para os aperitivos e para um fim de semana de descompressão, partilhado entre quem comunga os mesmos ideais. Experiência muito gratificante.

Ainda que todos dias cometa erros e experimente alguns vazios, a minha experiência da procura de Deus é esta : acreditar que não posso desistir NUNCA e que a minha história não é aquela que eu quero, mas aquela que Ele me concedeu como Dádiva.

Carlos Monteiro, vereador

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