AMAR O QUE DEVE SER AMADO – Resiliência e resistência

Estava aqui a pensar nas vicissitudes por que passou a segunda evangelização da Inglaterra, nos finais do século VII, desde o primeiro envio de Agostinho, jovem monge da abadia beneditina de Monte Célio em Roma, com 40 companheiros, até à sua fixação como Arcebispo e Primaz da Inglaterra, em Cantuária. Pregação do Evangelho, com êxito parcial, vencidas as primeiras resistências, dos missionários e das populações, que se guerreavam por razões políticas e étnicas.

Vicissitudes que, bem vistas as coisas, mais pormenor, menos pormenor, são iguais às de toda a verdadeira missionação – ou, de uma forma mais neutra, à pregação do Evangelho, desde Jesus Cristo -, em todas as épocas e todos os lugares.

Qualquer biografia nos informa que Agostinho precisou de coragem, tanto para aceitar o convite do Papa, resistindo ao apego da paz monástica, a vida serena do mosteiro onde, apesar de jovem ainda, gozava já de grande prestígio como sábio e como santo ; tanto para isso, como para ultrapassar as barreiras que se erguiam no seu caminho de fidelidade à vontade de Deus.

Ou, se quiséssemos, ainda que de modo um pouco formal e talvez inadequado, dar nome a cada um dos dois aspectos do que estamos habituados a analisar como gesto único, acentuado os aspectos negativos de qualquer renúncia, diríamos que Agostinho, como todo o missionário e, no fundo, todo o discípulo que descobre a felicidade na opção da resposta radical ao chamamento do Mestre, é exemplo vivo de resistência e resiliência.

Resistência e resiliência, duas palavras que nos últimos anos a nossa comunicação social, com o seu hábito de repetir sem espírito critico o que muitas vezes a ignorância de certos personagens públicos sugere como novidade inteligente, têm andado baralhadas, sobretudo com sacrifício da primeira, que tem o “defeito” de ser mais antiga no uso comum.

Resisto à tentação de entrar em discussões de ordem etimológica, mas nos autores clássicos que acompanharam a minha formação literária, o termo “resiliência” significava, não direi exactamente o oposto, mas algo que o termo “resistência” não sugeria ou foi perdendo a pouco e pouco. O pior é que o regresso de “resiliência” ao uso corrente, nos deixou ainda mais pobres, porque, pelo que tenho ouvido, ele aparece agora como sinónimo de resistência.

Deixemos então de lado as etimologias e procuremos aprofundar as razões do desencanto com que aquele homem, desejoso de encontrara a felicidade que não sentira no cumprimento da Lei, se retirou triste de junto de Jesus, que, segundo o evangelista, o olhara com amor (o termo original diz mais do que simpatia).

Em primeiro lugar, já o cumprimento da Lei, tão minucioso desde a juventude, diz aquele homem, se não lhe dava a felicidade, era porque lhe faltava um dimensão essencial: precisamente aquilo a que poderíamos talvez chamar resiliência, impulso a favor, cultivo do que era tomado como expressão da vontade de Deus. Limitar-se-ia ao não queiras isto, não aspires a isto, não queiras aquilo…

Era, digamos, uma luta demasiado resistente; a resiliência estava aplicada noutra coisa, porque, diz ainda o evangelista, ele tinha muitos bens.

Talvez Jesus, que, como seria de esperar, olhou com muito amor, apetece-me dizer, muita ternura, para aquele coração atribulado, tenha querido oferecer-lhe um objectivo mais radical para a tal resiliência, mostrando como poderia libertar-se definitivamente de tudo quanto construía no seu íntimo uma muralha de resistência a ideais superiores.

“Vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me”.

Não é lícito, em caso nenhum, nem sob qualquer pretexto, truncar o Evangelho: o seu conteúdo divino mais profundo vale para todas as épocas e destina-se a todos os homens; mas, por isso mesmo, precisamos de o ler e meditar sempre com o coração aberto à luz do Espírito Santo, porque se é a palavra de deus viva, para o homem vivo, cada um tem de encontrar nela, no contexto da fé comum, o que essa palavra encerra de específico para si.

Esta frase de Jesus é para todos: nela temos o essencial da existência cristã. Os bens deste mundo, que podem ser espirituais, materiais e temporais, na mediada em que são bens, têm de ser sempre amados pelo discípulo de Cristo; mas amados como Deus quer, porque Deus quer e para o que Deus quer: porque são d’Ele e para Ele.

O Cristão não tem propriamente uma vocação de renúncia, de negação ou abandono:

Tem sim, de cultivar a resiliência na divinização da sua humanidade e resistir ao que, na sua vida, porventura se oponha a essa resiliência.

São Josemaria chamou ao celibato apostólico “afirmação gozosa”; se o interpreto bem, isso pode dizer-se de toda a vida cristã.

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