Albano, o homem bom que serviu a comunidade e a Igreja na Ortigosa

525 visualizações

Foi sepultado no passado dia 15 de outubro o nosso amigo Albano. O seu nome completo, Albano Eugénio Dinis Pedro, tinha 79 anos e vivia na Ortigosa.

Esta imagem não tem texto alternativo. O nome do ficheiro é: Albano-o-homem-bom-que-serviu-a-comunidade-e-a-Igreja-na-Ortigosa.jpg

Partiu serenamente no final da semana passada, depois de uma vida preenchida e dedicada aos outros. Viveu para a família, para a comunidade e para a Igreja. Costumava dizer: “Sem nunca ser político, assumi o cargo de tesoureiro da Junta de Freguesia; sem saber dar um chuto na bola, fiz parte da direção do grupo desportivo” e, como dizia o padre Alcides, na celebração do seu funeral, deu-se ao serviço da Igreja e da comunidade em tudo o que pôde. Conheci este senhor nos anos 80, quando eu, ainda muito jovem, participava em muitas atividades da pastoral juvenil e ele já liderava muitas atividades na paróquia da Ortigosa.

No CPM

O casal Albano e Irene foi um dos casais que, no início do ano 2000, aceitou o desafio de fazer uma preparação para formar uma equipa de CPM (Centro de Preparação para o Matrimónio) na Vigairaria de Monte Real. Foram quase dois anos de caminhada juntos, de conhecimento mútuo e de preparação para esta aventura que já dura há 23 anos.

Quando nos preparávamos para realizar o nosso primeiro encontro de CPM, o casal Irene e Albano recebeu a notícia que ninguém quer receber: o filho mais novo, “a flor mais nova do nosso jardim”, como diziam no seu testemunho, foi diagnosticado com um cancro que em poucos meses o levou. Foi uma fase muito difícil para o casal e para a equipa. Esperámos por eles, fizemos o luto com eles e no ano seguinte realizámos o nosso primeiro encontro de CPM, onde a Irene e o Albano falavam do “Amor ao longo da Vida”, um testemunho escutado com encanto e emoção por centenas de casais de noivos. Estiveram connosco nesta equipa cerca de 15 anos. Ninguém ficava indiferente à maneira como nos transmitiam a sua história de vida, que terminava sempre com a história comovente da partida precoce do filho. Diziam: “Aqui estamos de mãos dadas diante de Deus e de olhar bem posto no Céu… um do outro e os dois de Deus”.

Uma história de amor “incrível”

Esta história de amor não é um conto de fadas; é uma história à prova de tudo, dos maiores desafios que se possa imaginar, que só o amor pode superar. Irene veio parar à Ortigosa, vinda de uma aldeia raiana, Malhada Sorda, a mais de 300 quilómetros daqui. Professora recém-formada, o nosso Albano não lhe ficou indiferente. Dizia muitas vezes a brincar, como só ele sabia: “Não me escapas”… Lá teve coragem para escrever uma carta, só que no final escreveu “dinheiro” e era “Pinheiro”…! Com a direção corrigida, a carta chegou ao destinatário e lá começou esta linda história de amor.

A lambreta

O Albano costumava contar uma história hilariante: “Pouco tempo depois de conhecer a Irene, um dia lembrei-me de ir a Malhada Sorda, conhecer um pouco do ‘património’ e ver como estavam as pesetas. Foram mais de 500 quilómetros de viagem, ida e volta. No fim, até me doía o assento!” E ainda perdeu a roda suplente.

Os filhos

Desta história nasceram três filhos, dos quais diziam com orgulho: “Tentámos que os nossos filhos estudassem em boas escolas para que, mais tarde, pudessem fazer as suas escolhas com sabedoria e cultura”. Como disse antes, no ano de 2001, o filho mais novo, acabado de entrar na universidade, acabou por falecer vítima de um cancro fulminante. Costumavam dizer no seu testemunho: “Durante vários meses, estivemos no hospital de Coimbra a acompanhar o nosso filho. O capelão do hospital perguntou-nos: ‘Há quanto tempo estão casados?’ Respondemos: ‘Há cerca de 30 anos. Somos muito amigos e, para isso, temos uma vitamina que se chama oração’.”

No Céu

Imagino o nosso amigo no Céu a contar as suas histórias com o sentido de humor que só ele tinha. Certamente a lembrar-se da sua amada, a “pequena” Irene, uma mulher de um coração enorme e generoso, como só as pessoas boas e humildes têm.

Os casais que passaram pela equipa do CPM e que puderam conviver com ele de perto estão-lhe muito gratos pelo muito que nos ensinou. Não é que falasse muito; os gestos e os olhares diziam tudo. Normalmente, nestas alturas, inventam-se virtudes que as pessoas nunca tiveram. No caso de Albano, não é preciso: basta dizer que, acima de tudo, foi um homem bom. E isto resume tudo.

Até um dia, Albano.

Partilhar

Leia esta e outras notícias na...

Receba as notícias no seu email
em tempo real

Pode escolher quais as notícias que quer receber: destaques, da sua paróquia