A PERGUNTA (Distinguir para unir)

Pessoa amiga, em conversa também amiga, perguntou-me um dia, se eu estava contente com o meu patrão.

Reagi com cara de espanto, porque, em contexto tão simples, sem sombra aparente de polémica, e dado o carácter extremamente polissémico da palavra, não percebi, de facto, onde queria chegar o meu interlocutor.

A princípio, limitei-me a frisar que a minha condição de sacerdote, totalmente entregue ao exercício do respectivo ministério, que, só como metáfora, em contexto de vida espiritual e ascética, pode considerar-se profissão, este facto me isentava de ter outro patrão que não fosse o próprio Deus, em Jesus Cristo, cabeça da Igreja, seu Corpo Místico.

Neste sentido, talvez ele estivesse a pensar no meu superior hierárquico imediato, no meu bispo ou no Papa; mas acontecia que, com tal significado, todos estes, sobretudo o bispo e o Papa, eram, de certo modo, também seus patrões.

A conversa tornou-se mais clara, amiga e positiva, quando o meu interlocutor, sorrindo a um ligeiro nervosismo que adivinhara na minha primeira resposta, disse claramente que estava a pensar no Papa.

Aproveito o facto de celebrarmos hoje a instituição do ministério apostólico, confiado por Jesus a Simão Pedro e seus sucessores, de confirmar os irmãos na fé – ministério dito petrino, que os nossos livros litúrgicos designam por Cadeira (Magistério) de São Pedro –, aproveito esse facto para oferecer aos meus amigos do Facebook, uma síntese, aliás, mesmo muito sintética, daquilo que ocupou a nossa conversa, durante largos minutos.

É uma oferta generosa, mas sem qualquer pretensão; apenas espero ser claro, não cometer nenhum erro contra a fé, e que me perdoem se ocupo este espaço com um tema, hoje, infelizmente, tanto mais confuso, quanto maior é o espaço que se lhe dá nos falares públicos e privados.

Em primeiro lugar, o ministério apostólico confiado por Jesus a Simão Pedro e seus sucessores, refere-se exclusivamente à missão específica da Igreja, como presença do mistério de Cristo na história dos homens.

Exerce esse ministério, por inerência, o bispo de Roma, porque foi como tal que morreu Simão Pedro. Prova fundamental, o facto de todas a gerações cristãs, desde o início até hoje, aceitarem que só ele garante a sucessão apostólica, desde Pedro.

Como bispo, o Papa é igual a todos os outros bispos, ou equivalentes, responsáveis máximos pela porção do Povo de Deus que lhe está confiada.

Claro que aparecem cedo na Tradição, referências dos padres e autores eclesiásticos a Roma, como instância suprema nas questões de fé: mas todos sabemos que este nome, em tais contextos, se refere ao ministério petrino.

E podemos dizer que o modo como, ao longo dos séculos, foi exercido este ministério, às vezes misturando-o com outras funções, gerou muitos equívocos, uns evitáveis, outros não. Tal como acontece ainda hoje, dando origem a graves confusões, das quais o povo crente se salva sempre com o instinto da fé.

Dito isto, o Papa, como Papa, não é patrão de ninguém, nem chefe da Igreja Católica, como às vezes o classificam os jornalistas. A Igreja só tem um chefe: Jesus Cristo, que disse que vinha para servir e não para ser servido.

O detentor do ministério petrino, como homem de fé e cultura, terá opiniões pessoais em todas as áreas, abrangidas por ambas: no que se refere à teologia, ao direito canónico e â pastoral, será acolhido com respeito pelos crentes; mas indiscutíveis serão apenas as decisões dogmáticas, que toma como cabeça do Concílio Ecuménico, ou, fora desse caso, exprime com um formulário adequado, em que invoca solenemente a sua missão de confirmar os irmãos na fé.

De qualquer modo, será sempre a infalibilidade da Igreja que está em questão.

A liturgia recordava ontem a figura de São Pedro Damião, nascido em Ravena, na segunda metade do século XI, que, feito cardeal e bispo da diocese que ainda hoje é titular do Decano da Sacro Colégio, na sua pregação pela reforma dos costumes, não hesitava em apontar ao próprio Papa o perigo da condenação eterna.

Ainda que pareça o contrário, a existência de opiniões no interior da Igreja, sobre o que é verdadeiramente opinável, será o único meio de promover a verdadeira unidade entre os cristãos: essa unidade que Jesus pediu ao Pai, na chamada Oração sacerdotal (João 17).

Esta unidade pertence ao mistério da Igreja: não é táctica nem consensual. Torna-se cada vez mias profunda, na medida em que cada um se identifica com Jesus Cristo, que não pode servir de bandeira para ninguém ou para o seja o que for.

Pelo contrário: reúne todas as bandeiras que não sirvam de apoio a guerras contra a verdade do mundo e do homem, por amor da qual morre na Cruz.

Outro tipo de unidade pode ter algumas vantagens, mas não será nunca a que Cristo quer no horizonte militante dos seus discípulos.

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