Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz
A Comissão Nacional Justiça e Paz quer, através desta nota, chamar a atenção para a oportunidade da mensagem do Papa para o 53º Dia Mundial da Paz (celebrado a 1 de janeiro de 2020), mensagem que tem por título: A Paz como Caminho de Esperança: Diálogo, Reconciliação e Conversão Ecológica.
Assim, queremos destacar, em especial. alguns aspetos dessa mensagem
– A paz autêntica, sólida e duradoura, não é um simples equilíbrio de forças, nem pode assentar na dissuasão, na desconfiança, na ameaça ou no medo de retaliações. A segurança que possa decorrer da dissuasão nuclear, do chamado “equilíbrio do terror” (assente no medo que decorre do perigo e ameaça de uma aniquilação total e recíproca) será sempre ilusória. As expectativas de superação da corrida aos armamentos surgidas com o fim da “guerra fria” não se têm concretizado. Daí que a Santa Sé, tal como as Comissões Justiça e Paz europeias e norte-americana, tenham saudado o Tratado internacional que, sob a égide da O.N.U., visa a abolição total da posse de armas nucleares. Aspirar a essa abolição total, o que supõe um desarmamento multilateral e controlado, não pode ser uma utopia, porque é uma exigência de segurança e de paz autêntica.
– A paz supõe a reconciliação, a todos os níveis, o das relações pessoais, como o das relações entre grupos e povos. A reconciliação implica «romper a espiral da vingança e empreender o caminho da esperança». Tal significa que: «O outro nunca há de ser circunscrito ao que possa ter dito ou feito, mas deve ser considerado pela promessa que traz em si mesmo».
– A paz assenta na justiça e «nunca haverá paz verdadeira se não formos capazes de construir um sistema económico mais justo». Relembrando a encíclica Caritas in Veritate, do Papa Bento XVI, a mensagem afirma que a justiça do sistema económico exige «a progressiva abertura, em contexto mundial, a formas de atividade económica caracterizadas por quotas de gratuidade e comunhão».
– Para a construção da paz contribui a conversão ecológica. Os resultados da cimeira de Madrid, sobre o combate às alterações climáticas, a muitos dececionaram, desde o secretário-geral da O.N.U. às organizações da sociedade civil (incluindo as católicas) que se dedicam a essa causa. Tal significa que a necessária mudança de mentalidades que a conversão ecológica supõe ainda não chegou a muitos responsáveis políticos. Essa conversão deve partir da vida quotidiana de cada um de nós. A conversão ecológica de que fala a mensagem decorre, para os crentes, de uma visão alargada do amor a Deus e ao próximo. Um amor que reconhece a bondade dos dons da criação e a solidariedade para com as gerações futuras. Afirma a mensagem, nessa linha: «os recursos naturais, as numerosas formas de vida e a própria Terra foram-nos confiados para serem “cultivados e guardados” (cf. Gn 2, 15) também para as gerações futuras, com a participação responsável e diligente de cada um. Além disso, temos necessidade duma mudança nas convicções e na perspetiva, que nos abra mais ao encontro com o outro e à receção do dom da criação, que reflete a beleza e a sabedoria do seu Artífice». A conversão ecológica «leva-nos a uma nova perspetiva sobre a vida, considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à jubilosa sobriedade da partilha».
A mensagem contém um vibrante apelo à esperança: «Não se obtém a paz se não a esperamos. Trata-se, antes de mais, de acreditar na possibilidade da paz, de crer que o outro tem a mesma necessidade de paz que nós. Nisto, pode inspirar-nos o amor de Deus por cada um de nós, amor libertador, ilimitado, gratuito, incansável.»
É este apelo à esperança que também a CNJP quer dirigir a todos neste início do ano de 2020.