Não me importo de confessar, que celebrei a Santa Missa eta manhã, pelo meu bispo e os seus mais próximos colaboradores, primariamente os ministros sagrados, como diz o nosso missal.
A minha diocese, que nasceu, como a maioria das circunscrições eclesiásticas desse tempo, por uma colaboração, discutível , mas que deu muito bons frutos, do poder político com a Igreja, celebra hoje os 480 anos e está desde a sua criação, sob uma protecção especial de Nossa Senhora: foi sua primeira catedral a igreja de NS da Pena, dentro da própria muralha do castelo, donde se transferiu provisoriamente – enquanto se construía a nova catedral, agora dedicada, de raiz, à Assunção de Maria, invocação a que eram dedicadas, então, quase todas as grandes catedrais da Europa.
Dada a ligação dos Agostinhos com o próprio território da diocese, não admira que o seu primeiro Padroeiro fosse precisamente o santo bispo de Hipona.
Até que a Santa Sé permitiu que Santo Agostinho ficasse como Padroeiro equi-principal, com NS do Rosário de Fátima, mudando, mais tarde, o nome de Diocese de Leiria, para Diocese de Leiria-Fátima.
O que, em meu entender, que vale o que vale, pelo que depois se seguiu, talvez o Santuário, no essencial da sua missão, tenha ficado menos ligado à diocese do que se pensa.
Da passagem dos Agostinhos por Leiria, ficou-nos a primeira grande tentativa de urbanizar a margem esquerda do rio Lis, com a construção do convento e respectiva igreja, que o jacobinismo do século XIX transformou em regimento de infantaria, com o templo usado como cavalariça.
Neste, uma vez restaurada, já a meados do século XX, reestabeleceu-se o culto, cada vez mais condicionado, pela sua própria arquitectura e trabalhos de adaptação realizados dentro e fora do próprio templo.
Nesta igreja conheci uma imagem da Santa Rita, que me causava uma impressão que fui compreendendo, à medida que conhecia os pormenores da sua biografia.
Descobri que foi mais uma das grandes figuras femininas do tão caluniado século XV – 1480 a 1557, 76 anos a consumir-se por ser fiel à sua paixão por Cristo, cuja obediência radical à vontade do Pai, imitou em todas as circunstâncias – mulher que mereceu passar à tradição popular como a santa dos impossíveis, porque toda a sua vida, foi um sinal de como é verdade o que Jesus diz no Evangelho desta manhã.
“Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11).
E que coisas terá dito Jesus aos discípulos?
Em síntese, que por O seguirem e na medida em que O seguirem, para cumprirem com Ele, a vontade do Pai, serão amados pelo mesmo amor com que se amam o Pai e o Filho; mas serão também perseguidos e atribulados, pelo mundo: e diz ainda, “tende confiança, Eu já venci o mundo!”
Que me perdoem os meus amigos, todos, mesmo os que não acreditam como eu: há uma hermenêutica de interpretação dos textos bíblicos que não se salva apenas com evitar um vocabulário que o uso recheou de conotações pobres, às vezes até negativas.
É necessário que os vocábulos alterativos, salvando integralmente a etimologia – “verdade original” – do discurso, não reduzam, nem deturpem o conteúdo original da expressão bíblica.
Quanto à “obediência” do Verbo encarnado – latim, “oboediens factus est”/ grego, “hypékoos méchri thanátou” – ainda não foi possível, que eu saiba, chegar a um acordo entre as soluções propostas pelos diferentes etimologistas.
Mas há algo comum, relativamente fácil de detectar entre as várias hipóteses: partindo do prefixo, tanto no grego como no latim, a atitude humana assinalada primitivamente pelo termo, não seria tanto de uma sujeição humilhante: há autores que lhe dão inclusivamente o sentido de piedade; ou mesmo quem faça derivar “obedire” de “obediscere” (aprender, fazer-se discípulo).
Não tenho qualquer competência para discutir o tema nos termos científicos adequados, que exigem também, quando se trata de estudar a evolução do vocábulo na SE, não podem prescindir das línguas e das culturas subjacentes aos autores do Antigo Testamento.
Não tenho competência; mas o instinto da fé diz-me que, apesar da aparente dureza do texto paulino da Carta aos Filipenses, a chamada “kenose” do Verbo, não pode de modo nenhum significar o esmagamento de um EU perante outro EU.
Não pode, porque aqui há apenas um EU: o de Deus, que sem deixar de ser Deus, se faz integralmente homem, para que o homem n’Ele resgate a relação amorosa do Filho que escuta sem omitir nada, a Palavra do Pai.
“Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15, 11).
Como ouvi um dia, um jovem da televisão belga, que, entretanto feito cardeal, o mais novo dos então nomeados, como tal, disse aos alunos da sua antiga universidade, na homenagem que lhe prestaram:
Na Igreja, na família e no mundo, quem obedece mais é sempre quem ama mais.