Há muito que a música, tocada, cantada e dançada, constitui uma das formas de cultura e recreio das populações. O nosso povo, desde as origens mais remotas da nossa nacionalidade, teve a paixão pela poesia e pela música, através dos trovadores medievais, dos poetas e músicos com as suas cantigas de amigo e de amor, as quais vieram dar, mais tarde, algumas das maiores maravilhas da literatura portuguesa.
É neste contexto que se enquadram o folclore e as bandas filarmónicas, que aparecem em meados do século XIX no meio rural, como forma de criar alternativas ao trabalho rude e monótono da vida rural. É através do folclore e das bandas filarmónicas que se vão criando os grupos e as associações, com a finalidade de educar, ensinar e inserir a cultura musical no povo. Elas, ainda hoje, são autênticas escolas de formação integral para muitos daqueles que as frequentam.
O concelho de Leiria é rico em ranchos folclóricos e em bandas filarmónicas; só estas são onze, e todas elas ativas e com muitos executantes das mais diversas condições de género, idade e escolaridade. A Filarmónica de S. Tiago de Marrazes está a celebrar o seu aniversário: faz precisamente no dia 28 de setembro 144 anos de existência sem qualquer interrupção, mas como todas as instituições, com altos e baixos. Nasceu a 28 de setembro de 1880, pelas mãos do padre Manuel da Silva e também do rico proprietário, empreendedor e amante da música que vivia no Arrabalde de Além, Joaquim Soares de Cêa Simões.
“No dia vinte e oito de setembro do ano de mil oitocentos e oitenta, apresentaram-se em Leiria, no escritório do tabelião João José Gomes, um bom grupo de homens, dos lugares Marrazes, Arrabalde de Além e da Gândara; todos da freguesia de Marrazes, para, na presença de testemunhas qualificadas, se constituírem em sociedade, para formarem uma filarmónica, com o nome de «Fhylarmónica de S. Tiago dos Marrazes».”
Nasceu assim, nesse dia, e logo nele batizada, a personagem mais categorizada da nossa Terra, que, hoje de cabelos brancos, mas sempre viva e ativa, festeja os seus 144 anos, onde se destaca a sua presença, desde a sua origem, na romaria do Senhor dos Milagres, em Milagres. A maioria das filarmónicas nasceu com a proteção da Igreja e, por isso, têm como patronos os seus Santos.
O Papa Francisco, em recente encontro com músicos, deixa esta mensagem: “Que as vozes, instrumentos musicais e composições continuem a expressar, no contexto atual, a harmonia da voz de Deus, levando à ‘sinfonia’, à ‘fraternidade universal’.”
Parabéns à Filarmónica de S. Tiago de Marrazes, nas pessoas dos seus executantes, sócios e gestores, e que continue sempre com o mesmo dinamismo e atividade que lhe são reconhecidos.