AS FRAGILIDADES DA VIDA HUMANA.

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Ao retomar a escrita, nesta manhã em que a liturgia oficial portuguesa celebra a memória de São Bartolomeu dos Mártires, cuja vida inspirou a Frei Luís de Sousa o texto em que a nossa língua, na sua forma clássica, atinge a máxima perfeição, ao retomar a escrita quero, antes de mais, pedir desculpa ao meu amigo, o ilustre autor do editorial de “A Voz da Fátima” deste mês de Julho, por escolher para as minhas reflexões, um título que aparentemente corrige o do seu texto.

Alguém poderá até insinuar que contradiz o seu conteúdo.

Afirmo que não, até porque se refere a iniciativas que, sem fazerem parte do essencial da especificidade de Fátima, em meu entender, cabem perfeitamente no âmbito da sua pastoral, que tem de englobar, na medida do possível, todos os aspectos da pastoral da Igreja de Cristo.

E, já agora, explico que o uso o termo “Igreja de Cristo”, em vez de “Igreja Católica”, não por distinguir uma da outra, mas porque, habitualmente, na linguagem comum da comunicação social, este último termo se usa, sem qualquer discriminação, para designar instituições e factos que pouco – às vezes mesmo nada – têm a ver com a Igreja que os crentes sabem ser o mistério de Cristo na história dos homens.

Mas voltemos ao tema central das minhas reflexões:

Não será preciso explicar a quem saiba um pouco de português, que não é o mesmo dizer que se aprecia a dedicação nos médicos e que se parecia a dedicação nos médicos.

Claro que quando não se pensa nisso, parece que é a mesma coisa: no entanto, é muito diferente apreciar a dedicação, sem especificar qual. E apreciar um médico que é dedicado… o que implicitamente significa que se admite a existência de médios que, de facto, não são ou podem não ser dedicados.

Ora, é exactamente a partir daqui que me parece urgente falar, não das fragilidades na vida humana, mas das fragilidades da vida humana.

Pensando bem, o texto do meu caríssimo amigo Carlos Cabecinha, ilustre Reitor do Santuário e Director do respectivo jornal, A Voz da Fátima, implicitamente e com certeza sem se dar conta disso, assenta e cultiva a mentalidade comum de quem considera as fragilidades como excepções… o que, de alguma maneira, está já no uso do plural.

Questões de linguagem, diz-se muitas vezes, também com alguma leviandade.

Talvez; mas o signo linguístico, apesar do seu carácter convencional, não existe por acaso, e é o conteúdo que lhe dá a categoria de signo

Da vida humana dizem os poetas e os antropólogos, que é a mais frágil de todos os seres que existem sobre a terra. Ninguém contesta tal afirmação, mas poucos reparam que ela tem implícita a noção de que o termo “vida” não se usa para o homem e os outros seres em sentido unívoco: porque, ao contrário dos outros, o homem é um ser pessoal, criatura com um sopro divino (Cfr Gen 2, 7), relacional, que, desde o primeiro instante da sua existência, depende dos outros, para crescer n sua capacidade de dar-se e acolher.

Poderíamos dizer que esta dependência está na raiz de todas as suas deficiências; e talvez o maior erro cometido por milhões de educadores, ao longo dos séculos, tenha sido permitir que se criasse a ideia de que a fragilidade humana, é algo, directa ou indirectamente desumano.

Erro antropológico e teológico, de consequências gravíssimas, na vida social e política; e também, o que é mais inquietante, em determinados conceitos morais, na ascese cristã e na actividade pastoral.

Gostaria de repetir que não ponho em dúvida nenhum dos muitos discursos que e fazem a favor dos doentes, nem a sinceridade e vantagem das iniciativas – e são mais ainda – para ajudar, como se diz agora, as pessoas portadoras de deficiência e respectivos familiares.

Ao meu caríssimo amigo Carlos Cabecinhas diria apenas que, como acontece com essa profusão de discursos e iniciativas, se o Santuário se ocupasse apenas dos que menciona no sei editorial, deixaria de lado a grandíssima maioria dos que o visitam, talvez até esquecendo o núcleo central do recado trazido ali, segundo o testemunho dos videntes, pela Virgem Santíssima.

Sei muito bem que não é isso o que se passa, e o teu artigo serve-me apenas de pretexto para falar do que devia inspirara mais a vida pastoral da Igreja, porque a sua função especial é tornar presente, em cada tempo e espaço, abrangendo todas as gerações, o mistério do Verbo Encarnado: Deus feito homem, para recriar o homem.

É também por isso que te peço licença para terminar, transcrevendo a parte final do teu texto:

“No dia 15 deste mês começa a primeira semana do «Vem para o meio». Agradecemos aos voluntários, sempre incansáveis na sua generosidade, mas agradecemos também aos seus participantes por nos lembrarem a nossa condição frágil e a nossa responsabilidade. Que eles nos ajudem a vencer a cómoda indiferença e nos ensinem a lutar contra a ditadura de uma suposta perfeição, diariamente propalada pela publicidade e pelas redes sociais.”

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