9 – Petições pela não extinção da Diocese

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Tendo sido extinta a Diocese de Leiria, quer a população, quer os eclesiásticos, quer os políticos, assinaram, aprovaram e propuseram inúmeros textos com o fim de apoiar a sua reinstalação.

Como escreve o Cónego Dr. Luciano Cristino no “Órgão Oficial da Diocese de Leiria-Fátima”, em agosto de 1995 (ver também os 3 artigos publicados em 1993), “durante pouco mais de 35 anos, os antigos diocesanos de Leiria não ficaram surdos às diversas tentativas que foram surgindo para reconstruir o seu humilde, mas respeitado bispado. Pode dizer-se, portanto, que a restauração da diocese de Leiria se deve ao inconformismo de todo o seu povo”, mas que só vem a ter lugar em 1918.

O preâmbulo do projeto de Lei que, em 1882, o deputado, lente de medicina em Coimbra, Prof. Doutor Adriano Xavier Lopes Vieira, casado com Ana Barbara Charters Henriques de Azevedo, apresentou na Câmara de Deputados para reverter a Lei que tinha extinto a diocese de Leiria tinha o seguinte teor: “É geralmente sabido, conquanto não conste ainda por documento oficial do domínio público, que o governo, que esteve à testa dos negócios do país desde junho de 1879 até março de 1881, usando da faculdade que lhe conferia a lei de 20 de abril de 1876, organizou, de acordo com a cúria romana, uma nova circunscrição das dioceses do reino, com redução de algumas delas. Em virtude da nova circunscrição virá a ser suprimida a atual diocese de Leiria, assim como a de Pinhel, Aveiro, Castelo Branco e Elvas, e anexada às que lhe são limítrofes. Razões ponderosas, que passo a expor-vos, me levam, porém, a pugnar pela conservação da diocese de Leiria”. No entanto, a exposição não teve resultado, nomeadamente porque o Papa aceitara já a nova divisão eclesiástica pela Bula “Gravissimum Christi Ecclesiam regendi et gubernandi múnus”, de 30 de setembro do ano anterior.

Em dezembro de 1880, a maioria do clero da Cidade já tinha dirigido uma representação a Sua Santidade, pedindo-lhe para que advogasse a conservação da Diocese. De notar a especial petição da Irmandade de S. Pedro Celestino, ereta na Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, com o seguinte texto: “Santíssimo Padre! Nós abaixo assinados, sacerdotes e mais fiéis da diocese de Leiria em Portugal, mais uma vez cheios de dor e consternação vamos prostrar-nos aos pés de Vossa Santidade, Pai amantíssimo. Chegou ao nosso conhecimento que está para se decretar a extinção de algumas dioceses deste reino, e entre elas a de Leiria. Portanto, na nossa pungente dor a Vossa Santidade recorremos, suplicando, com a mais profunda humildade e copiosas lágrimas que se digne de ouvir com paternais ouvidos os justos clamores destas consternadas ovelhas do extremo ocidente. É mais claro que a luz do dia, Santíssimo Padre, que esta diocese não pode ser abolida sem grandíssima ruína dos fiéis. Confinando com as de Lisboa e Coimbra, a qual das duas poderá anexar-se que não sofram os povos o maior vexame e dano de suas almas? Povoações tem esta que distam de Coimbra vinte léguas e outras que distam de Lisboa trinta e quatro. Sendo tão longa a jornada quer para uma quer para outra daquelas cidades, digam quantas maravilhas disserem do progresso e aperfeiçoamento das estradas e vias-férreas, a quantos trabalhos, amarguras e despesas não estarão sujeitos todos aqueles que houverem mister de tratar de habilitações concernentes ao matrimónio e ao sacerdócio e outros negócios eclesiásticos?”.

E terminava: “Teve até nossos dias a singular fortuna de ser sempre governada por Bispos mui zelosos em instruir, visitar, corrigir, mantendo no clero a mais rigorosa disciplina, e nos povos a luz da fé e os bons costumes, sendo o seu primeiro cuidado o terem um Seminário eclesiástico o mais reformado possível, donde mandassem operários para a vinha do Senhor, virtuosos e instruídos. Por estes meios adquiriu esta diocese tal perfeição e fama, que os povos das regiões limítrofes lhe chamam – “O Jardim da Igreja”, e – “A flor das dioceses”.

De nada valeu. Mas o empenho da sociedade leiriense para que a diocese fosse restaurada foi muito grande e manteve-se sempre vivo durante os anos em que esteve extinta, como vimos já, nesta rubrica, pelo exemplo de figuras como Vitorino da Silva Araújo, do Pe. Júlio Pereira Roque (Jupéro), do Pe. José Ferreira Lacerda e do seu semanário “O Mensageiro”.

Ricardo Charters d’Azevedo

 


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