O primeiro jornal católico da diocese restaurada já existia antes dela. Aliás, foi fundado, precisamente, para lançar – pela terceira e definitiva vez – a causa da reposição do Bispado de Leiria.
O facto histórico que espoletou no padre José Ferreira de Lacerda a iniciativa de ressuscitar esta campanha foi o falecimento, a 18 de novembro de 1913, de D. Manuel de Bastos Pina, bispo de Coimbra há 41 anos. Os padres de Leiria foram convidados a mandar tocar os sinos em sinal de luto durante três dias, a pedir aos seus paroquianos sufrágios pela alma do defunto e a participar nas exéquias solenes do 7.º dia, que haveriam de ser cantadas a 25 de novembro, na ex-catedral de Leiria.
Na véspera desse dia, quando já regressava aos Milagres, uma ideia repentina fez regressar o padre Lacerda à cidade de Leiria, para mandar imprimir de urgência uma circular a entregar a cada um dos sacerdotes que viessem às referidas exéquias. Nela, historiava brevemente as campanhas anteriores, apelava a uma nova tentativa e pedia que respondessem a algumas questões:
1.º Deve ser convocada para breve uma reunião de todos os párocos da antiga diocese de Leiria?
2.º Ou devem fazer-se outros trabalhos, como consultas a sua eminência, nunciatura, etc.?
3.º Deve a reunião preliminar ser só dos eclesiásticos do concelho e nesse caso poderá ser feita já hoje?
4.º Deve ser eleita já uma comissão? Caso afirmativo, de quantos membros e quem propõe?
5.º Deve ser criado um jornal para auxiliar as nossas aspirações e defender o clero e católicos? Que nome deve ter?
6.º Caso afirmativo, como angariar os fundos? Por subscrição ou por quotas reembolsáveis?
7.º Por quantas assinaturas se responsabiliza?
8.º Com quanto subscreve para início dos trabalhos, caso perfilhe a ideia?.
E terminava: “Muitos outros alvitres me acodem e com certeza os meus ex.mos colegas terão outros; eu da melhor vontade cedo de todos os apresentados por outros que julgueis mais conformes ao nosso fim. Rogo o favor de me devolver com toda a brevidade esta circular”.
Houve entusiasmo de alguns, sobretudo os mais antigos, e indiferença de outros. Mas o padre Lacerda estava determinado e parte para os contactos com a parte Sul, entregue ao Patriarcado, através dos padres de Porto de Mós, entre os quais Júlio Pereira Roque.
A 10 de janeiro de 1914, o auditor da Nunciatura, Monsenhor Bento Aloisi Masella, fez chegar a Roma a circular do padre Lacerda.
A 13 de junho, uma comissão constituída por ele e os padres José Pereira da Costa, Joaquim José Pereira e Manuel Carreira Ramos encontrou-se em Lisboa com o cardeal Patriarca, D. António Mendes Belo, e com Mons. Masella. Este aconselhou a apresentar-se a proposta ao cardeal Vicenzo Vannutelli, antigo Núncio Apostólico em Portugal, que viria a ser um dos apoiantes da causa.
A 4 de julho, outra comissão, também organizada pelo padre Lacerda, foi a Coimbra avistar-se com o Vigário Capitular, Cónego Andrade, que prometeu apoio.
A 28 de julho houve uma reunião em Leiria para a organização da União Católica, à qual assistiram quase todos os eclesiásticos do arciprestado de Leiria e nela foi resolvido angariar fundos para a restauração e a dotação da diocese.
Um jornal foi mesmo o meio considerado mais útil para servir a campanha e, a 18 de setembro de 1914, o padre Lacerda pedia licença ao Vigário Capitular para avançar com o projeto. Os colaboradores seriam eclesiásticos dos vários concelhos da antiga diocese e o padre Lacerda ficaria com a direção, “visto não haver aqui outro que queira assumir a mesma”. Seriam também redatores o padre Manuel Pereira da Silva, do antigo jornal “Ecos do Lis” e o padre Júlio Roque, ex-colaborador de “O Portomozense”.
A licença seria concedida dez dias depois e, a 7 de outubro, sairia o primeiro número de “O Mensageiro”, com o subtítulo de “semanario catolico” e a indicação no cabeçalho: “Orgão dos catolicos nos concelhos de Leiria, Alcobaça, Porto de Mós, Batalha, Ourem e Pombal – Com licença da autoridade eclesiastica”.
A toda a largura da primeira página, podia ler-se:
VIVA A DIOCESE DE LEIRIA! / Catolicos da antiga diocese de Leiria:
O MENSAGEIRO ao iniciar a sua publicação, ao mesmo tempo
que vos saúda, solta o brado que lhe sáe do fundo da alma
VIVA A DIOCESE DE LEIRIA!
Luís Miguel Ferraz
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