De 10 a 17 de agosto, a Igreja em Portugal celebra a 42.ª edição da Semana de Migrações, promovida pela Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana e a Obra Católica Portuguesa de Migrações.
Com o lema “Rumo a um mundo melhor”, a iniciativa cola-se, assim, à mensagem do Papa Francisco para a Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado, celebrada em Janeiro deste ano. Aí dizia que “se por um lado as migrações muitas vezes denunciam carências e lacunas dos Estados e da comunidade internacional, por outro, revelam a aspiração da humanidade em viver a unidade, no respeito pelas diferenças, o acolhimento e a hospitalidade, que permitem a partilha equitativa dos bens da terra, a proteção e a promoção da dignidade humana e da centralidade de cada ser humano”.
O Papa lamentava a situação de tantos milhares de pessoas que são alvo de “tráficos de exploração, de dor e de morte”, lembrando que “os migrantes e refugiados não são peões no tabuleiro de xadrez da humanidade; trata-se de crianças, mulheres e homens que deixam ou são forçados a abandonar suas casas por vários motivos”. E apelava a um novo comportamento perante essa realidade, passando de “uma atitude de defesa e de medo, de desinteresse ou de marginalização – que, no final, corresponde precisamente à ‘cultura do descartável’ – para uma atitude que tem por base a ‘cultura do encontro’, a única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno”. Esse “espírito de profunda solidariedade e compaixão” é um desafio ao modo como cada um de nós é chamado a relacionar-se com os migrantes, mas também a uma maior cooperação internacional nesta área.
“Ao olhar para o enorme movimento migratório que caracteriza o nosso tempo tomamos consciência de que o que anima os homens e mulheres que optam, ou são forçados, a emigrar, é o profundo desejo de um futuro melhor, não apenas para si próprios, mas também para as suas famílias e para aqueles que amam”, considera a OCPM na sua mensagem para esta semana nacional.
Lembrando que “enquanto uns poucos continuarem a apoderar-se dos bens criados por Deus para todos e a maioria a recolher as migalhas que sobejam da mesa dos ricos e poderosos, continuaremos a assistir à injustiça e a ver muitos a emigrar na busca do pão da dignidade”, a organização da Semana dos Migrantes adianta que “o crente, como exorta o Papa Francisco, não deve perder a esperança de que lhe está reservado um futuro mais seguro e que nos seus caminhos de migração encontrará sempre uma mão estendida que lhe fará experimentar a solidariedade fraterna e o calor da amizade”.
Peregrinação e jornada
O ponto mais alto da semana será a Peregrinação dos Migrantes ao Santuário de Fátima (ver caixa). Mas toda a Igreja em Portugal é chamada a associar-se à jornada de solidariedade, no domingo, dia 17 de agosto, celebrando a Eucaristia por esta intenção. A OCPM lembra que devem convidar-se os fiéis a “manifestarem a sua solidariedade com todos os que foram ou são obrigados a emigrar, através do ofertório consignado que reverte em favor do trabalho pastoral da mobilidade humana”.
Pretende-se, assim, “centrar a nossa atenção em todos os que deixaram o País, na busca do sonho de construção de uma vida melhor; queremos manifestar-lhes, como Igreja, a nossa solidariedade e preocupação pastoral”.
Peregrinação do Migrante nos dias 12 e 13 de agosto
Nos próximos dias 12 e 13 realiza-se a já tradicional Peregrinação dos Migrantes e Refugiados ao Santuário de Fátima, organizada pela Obra Católica Portuguesa de Migrações.
Com programa habitual das peregrinações aniversárias, o início está marcado para as 18h30 do dia 12, na Capelinha das Aparições, com o acolhimento pelo bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, e a saudação pelo presidente da peregrinação, D. António Francisco dos Santos, bispo da diocese do Porto. A Missa do dia 13 será às 10h00.
“Perdoai-me, porque pequei” é o tema desta peregrinação, que habitualmente se carateriza pela presença do grande número de peregrinos vindo de todas as partes do mundo, especialmente emigrantes da diáspora portuguesa em férias no nosso país.
LMFerraz | Presente Leiria-Fátima
Encontro Nacional da OCPM em Tomar
O encontro nacional dos secretariados diocesanos da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) decorreu de 30 de junho a 4 de julho, no Centro Pastoral Paroquial de Tomar. Contou com a participação de D. Manuel Pelino, bispo de Santarém, D. António Vitalino Dantes, bispo de Beja e membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, frei Francisco Sales Diniz, secretário desta comissão e diretor da OCPM, bem como de 40 delegados das dioceses portuguesas (2 de Leiria-Fátima), quatro representantes das missões católicas de língua portuguesa de Andorra, África do Sul, França e Holanda, e os coordenadores da capelania dos africanos e da capelania de imigrantes ucranianos de rito bizantino.
O tema geral dos trabalhos – “Longe é mais perto do que imagina” – remetia para a importância da criação de novas sínteses sociais na integração dos migrantes. Neste encontro, foi salientada a necessidade de acompanhamento espiritual no acolhimento daqueles que procuram no nosso território uma vida mais digna. Isto porque, muitas vezes, devido à crise, os compromissos financeiros parecem ser o único critério de orientação, colocando a dignidade da pessoa em segundo plano. Como explicou frei Francisco Diniz, as dificuldades dos emigrantes podem levar à pobreza envergonhada e é importante também o papel dos meios de comunicação na denúncia dessas situações. A OCPM reforçou ainda a necessidade de promover um diálogo contínuo e próximo com os agentes pastorais enviados e as Igrejas dos países de acolhimento.
Cada secretariado teve oportunidade de apresentar a sua experiência de trabalho e, a maioria, frisou as dificuldades que tem de vencer diariamente, constatando-se que é mais fácil a ajuda aos imigrantes (os que chegam) do que no acompanhamento à distância dos emigrantes (os que saem).
O secretariado diocesano de Leiria-Fátima fez um retrato da realidade local, salientando a presença de um grande número de imigrantes ucranianos e o retorno de muitos imigrantes brasileiros à sua Pátria. Há ainda uma presença razoável de imigrantes africanos. O maior acento do nosso trabalho é colocado no atendimento aos migrantes e na capelania ucraniana. Está nos nossos projetos a visita às prisões, onde se percebe a presença de bastantes imigrantes, procurando aí formar grupos de jovens para uma ajuda concreta às suas necessidades.
P. Sílvio Litvinczuk | Diretor do Serviço Diocesano da Pastoral da Mobilidade Humana