O Papa Bento XV, “l’uomo del dovere”, nasceu na localidade de Pegli, perto de Génova, em 1854, filho de família patrícia, recebendo no Batismo o nome de Giacomo Paolo Giovanni Battista della Chiesa.
Em 1883 serviu, na Nunciatura de Madrid, como secretário do Núncio Mariano Rampolla del Tindaro, prelado este que veio a ser criado cardeal pelo Papa Leão XIII, do qual se tornaria secretário de Estado. Em 1907, viu-se nomeado arcebispo de Bolonha, tendo sido criado cardeal em 25 de maio de 1914. Foi eleito Pontífice Romano em 3 de setembro de 1914, sucedendo ao papa Pio X, falecido a 20 de agosto desse ano. Bento XV viria a falecer no dia 22 de janeiro de 1922, de broncopneumonia, com 67 anos de idade e após um pontificado de sete anos.
Este Papa escolheu para si o nome de Bento, num contexto um tanto profético de um Mundo a mergulhar nas sombras trágicas da Grande Guerra de 1914-1918. Efetivamente, no dia 28 de julho de 1914, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia, com a Alemanha a declarar guerra à Rússia, a 1 de agosto e, dois dias depois, à França. No dia 4 de agosto, invadiam a Bélgica, levando a que a Inglaterra declarasse guerra à Alemanha nesse mesmo dia. Começava, pois, o drama de uma longa beligerância sanguinária que se estendeu a toda a Europa e outros continentes, e na qual Portugal, vivendo os tempos conturbados da afirmação do regime republicano, viria também a envolver-se diretamente, a partir de 1916. Bento XV diligenciou, na medida do alcance do seu múnus católico e do seu poder espiritual e apostólico, pela restauração da paz, mas em vão, e sempre debaixo da desconfiança dos Aliados, que o censuram, por o considerarem pró-germânico. O estadista francês Georges Clemenceau definiu-o, aliás e significativamente, como o «Papa boche», o «Papa alemão».
São Bento, sobrenatural inspirador do Pontífice, fundador da Ordem que leva o seu nome, foi verdadeiramente um construtor da Cristandade ocidental, no contexto de uma nova Era histórica que se anunciava para o futuro da Europa. Os monges beneditinos serviram a Deus na oração e na celebração da Eucaristia, em vida comunitária, laborando montes e planícies que souberam tornar em fonte de abundância de recursos alimentares e económicos e em garantia de paz.
Bento XV tinha uma sólida formação académica jurídica, tendo-se doutorado, ainda antes da ordenação sacerdotal, em Direito. Seria ele, aliás, a promulgar o novo Código de Direito Canónico, em 1917. Durando a Primeira Grande Guerra, Bento XV impôs à Igreja uma postura neutral, promovendo todavia a paz e o auxílio às vítimas da guerra. Sintoma da nova ordem política e do avanço da secularização, após o Armistício de 1918, o Vaticano não seria chamado à mesa das negociações de paz, entre os Estados beligerantes, formalmente inauguradas em Paris, a 18 de janeiro de 1919.
Bento XV, todavia, dedicar-se-á mais intensamente, desde então, à reforma da Igreja, em ordem a prepará-la, pelo apostolado ardente e pelo exemplaridade do seu clero, para os novos desafios internacionais que emergiam do pós-guerra e à consolidação de uma cultura jurídica internacional da paz, bem manifestada, por exemplo, na sua encíclica “Pacem, Dei munus pulcherrimum”, para a paz e reconciliação entre os cristãos, assinada, em Roma, a 23 de maio de 1920, na qual se afirma veementemente que “todos os homens na terra devem considerar-se irmãos”.
Sucessor de Pedro, Bento XV tomou como lema do seu ministério o versículo 1 do salmo 70: “Em Vós, Senhor, esperei; jamais serei confundido”. Bento XV teve a sensibilidade de reconhecer, no seu projeto de reforma e atualização eclesiásticas, a necessidade de reaproximar a Igreja dos fiéis. A restauração da Diocese de Leiria, por ele decretada na bula “Quo vehementius”, datada do dia 17 de janeiro de 1918, é um exemplo desse caminho de (re)aproximação da Igreja, pela presença no terreno dos seus bispos e pastores, das comunidades cristãs.
A 23 de janeiro de 1918, Bento XV, pelo Decreto “Clementissimus Deus”, beatificou D. Nuno Álvares Pereira, consagrando-lhe o dia 6 de novembro no calendário da Igreja. Em 5 de maio de 1920, por outro lado, canonizou Joana d’Arc, padroeira de França.
Saul António Gomes
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