Quando se iniciam as comemorações do Centenário da Restauração do Bispado de Leiria, é de justiça destacar, à frente dos cidadãos e das forças vivas que pugnaram por esta causa, o nome de Vitorino da Silva Araújo.
Sobre ele, quase tudo o que se sabe está na biografia traçada pelo padre José Fernandes de Almeida, num opúsculo editado em 1983 com o título “Vitorino da Silva Araújo, um Leiriense Ilustre”.
Nasceu na cidade de Leiria, freguesia da Sé, a 7-XII-1817, filho de Venceslau da Silva Araújo, farmacêutico, e de sua mulher Maria da Piedade. Para ficarmos com uma ideia do perfil deste cidadão leiriense, vejamos então o que escreveu o Padre Almeida:
«Feito o curso de humanidades, com especialização das línguas portuguesa e latina, e filosofia racional, fez, num desvio frustrado de vocação e sob pressão de circunstâncias imprevistas, exame de farmácia, em 9-I-1846, não seguindo, porém, esta profissão, embora se tenha aproveitado dos respectivos conhecimentos, quando foi encarregado da direcção da Botica do Hospital de D. Manuel de Aguiar. Mais lhe convinha, sem dúvida, a carreira das letras e do magistério; e, por isso, habilitado com os respectivos exames, em Dezembro de 1855, é nomeado, por carta régia de 30-I-1856, professor de Gramática Portuguesa, Latim e Latinidade, do Liceu de Leiria, tomando posse do cargo em 23-II-1856. Abalizado mestre neste ramo de ensino, ali se manteve em exercício até à sua aposentação, em 9-VII-1881.
«Mas a actividade de Silva Araújo não se limitou apenas ao ensino. Homem dado ao estudo, à investigação histórica, à arqueologia e à imprensa, prestou à Nação e à Igreja, nomeadamente à diocese de Leiria, inestimáveis serviços, que jamais poderão ser esquecidos. Foi um lutador incansável, na imprensa católica da época, colaborando brilhantemente em vários periódicos. Colaborou igualmente no “Portugal Antigo e Moderno”, tanto sob a direcção de Pinho Leal, como sob a orientação do Abade de Miragaia, P.e Augusto Ferreira. Foi sócio correspondente da “Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses”, e, como tal, foi colaborador activo e assíduo do “Boletim Arquitectónico e de Arqueologia”. Aí publicou ele “Inscrições Romanas de Leiria e seus arredores”, “Edifícios Religiosos em Portugal – Leiria”, “Castelo de Leiria”.
«Mas a obra de maior mérito e de mais-valia para a história da diocese de Leiria, que acabava de ser extinta, e precisamente como um grito de resignada inconformidade e de protesto contra o facto, foi “Um Bispo segundo Deus, ou Memórias para a vida de D. Manuel de Aguiar, 17.º Bispo de Leiria”.»
Quanto ao papel de Vitorino da Silva Araújo na luta pela restauração do bispado, siga-se ainda o Padre Almeida:
«Ele quis que o seu grito de protesto, que era o eco fiel da voz de todo o bispado de Leiria, chegasse aos ouvidos do Episcopado Português. E chegou. E eles (os Bispos) responderam e aderiram e bateram palmas. (…)
«Silva Araújo foi o primeiro grande pioneiro da restauração do bispado de Leiria. Ele soube aproveitar as circunstâncias, particularmente favoráveis, em que se encontrou, para realizar, com calma e segurança, as necessárias investigações das fontes de que se socorreu, para ordenar o trabalho. Intimamente ligado ao seminário diocesano de Leiria, onde aparece como secretário, a assinar as matrículas dos respectivos alunos, até 1890, e, sobretudo, pelo contacto prolongado com o Arquivo da Misericórdia e do Hospital de D. Manuel de Aguiar, tudo se conjugava para que o grande investigador nos pudesse mimosear com uma jóia de elevado quilate, no seu modesto e despretensioso aspecto gráfico. (…)
«Mantendo-se toda a vida no estado celibatário, sempre fiel à sua fé de bom cristão, Silva Araújo falecia em Leiria, pelas sete horas da tarde do dia 6-VIII-1891 (…).»
Apesar de “Um Bispo segundo Deus”, impresso em Coimbra com data de capa de 1885, ter sido publicado sem indicação do seu autor, indicando apenas por “Um filho da extincta Diocese”, toda a gente sabia de quem se tratava e entendeu aquela biografia como peça fulcral no combate em prol da restauração da Diocese de Leiria.
Este livro foi reeditado recentemente (Março de 2015), em fac-símile, pela editora Textiverso, de Leiria. Por editar, do mesmo autor, existe ainda um manuscrito de mais de uma centena de páginas com o título “Armas, Brasões e Inscrições – Colecção de Inscrições que há em Leiria”.
|Elementos recolhidos por Carlos Fernandes