O sol despontava tímido sobre o Parque Verde de Porto de Mós na manhã de 7 de maio, mas a alegria dos alunos do segundo ciclo, vindos de várias escolas da Diocese de Leiria-Fátima, depressa iluminou o recinto. Mais de 650 alunos do segundo ciclo, vindos de nove agrupamentos escolares da Diocese de Leiria-Fátima, acompanhados pelos seus professores de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), estavam prontos para um dia recheado de atividades, descobertas e, acima de tudo, partilha.
O XII Encontro Interescolas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) começou numa manhã tímida e calma, que prometia ser tudo menos silenciosa. Mais de 650 alunos do segundo ciclo, vindos de nove agrupamentos escolares da Diocese de Leiria-Fátima, enchiam o Parque Verde de Porto de Mós no dia 7 de maio de 2025.
O momento de recolhimento, proposto por D. José Ornelas, bispo diocesano, marcaria o início de um dia de ruído festivo. “Vamos ter um momento de silêncio em honra do Papa Francisco. Ninguém bate palmas, ninguém fala”, pediu D. José Ornelas, diante de centenas de jovens que, surpreendentemente, acederam de imediato ao convite. O contraste entre aquele silêncio repentino e a agitação colorida que dominava o espaço segundos antes era evidente. Sob o lema “UP! Construtores da Esperança”, o evento não poderia ter começado de forma mais significativa.
“Deixem-me contar-vos uma coisa sobre o Papa Francisco”, continuou o bispo, após aquele momento de recolhimento. “Quando ele veio a Portugal, fui convidá-lo a vir a Fátima. Ele disse-me: ‘Sabes, eu não conhecia bem Fátima, vinha da Argentina. Mas, quando fui a Fátima pela primeira vez, sabes o que mais me impressionou? O silêncio'”, partilhou, criando de imediato uma ligação com os jovens presentes.
“É tão importante o grito de festa como o silêncio do coração”, sublinhou D. José Ornelas, estabelecendo um paralelo com a disciplina em sala de aula. “É por isso que os nossos professores na escola nos pedem silêncio. Porque, sem ele, não conseguimos ouvir o que é importante”.
Uma vila que acolhe a juventude
O evento, organizado pelo Serviço de Pastoral nas Escolas (SPE) da diocese de Leiria-Fátima, contou com o apoio decisivo da Câmara Municipal de Porto de Mós, que viu neste encontro o arranque perfeito para a sua Semana da Juventude.
“Não podíamos começar melhor a nossa Semana da Juventude do que com um encontro de jovens, reunindo mais de 600 jovens aqui, em Porto de Mós”, afirmou Jorge Vala, presidente da Câmara Municipal, no seu discurso de boas-vindas. “Este é um concelho que acolhe bem a juventude, com uma política orientada para os jovens”, acrescentou, sublinhando a importância de ouvir as novas gerações: “Não podemos ter políticas de juventude baseadas na ideia de que sabemos, à partida, o que são as vossas ambições”.
O autarca fez questão de frisar a abertura do município ao acolhimento de iniciativas de cariz religioso: “Vocês são jovens católicos e é por isso que vos recebemos de forma fraterna, juntamente com aquele que é o nosso pastor, o senhor bispo D. José Ornelas”, concluiu.
À descoberta de Porto de Mós
Após as intervenções iniciais e um momento de lanche, os alunos embarcaram no desafio “UP!”, um peddy-paper que os levou a percorrer diferentes locais da vila, conhecendo o seu património e cultura.
“Sem dúvida, que foi momento para conhecer mais e melhor a cidade de Porto de Mós, o seu património, a sua cultura e a sua gente”, explicou Carlos Araújo, professor do Colégio Nossa Senhora de Fátima, sublinhando o valor educativo desta componente do programa.
Para a professora Sílvia, do 2.º ciclo da Escola Rainha Santa Isabel, na Carreira, estes momentos fora da sala de aula são fundamentais: “Estas atividades são sempre muito enriquecedoras para todos — alunos e professores, obviamente —, porque ser professor é muito mais do que estar dentro da sala de aula. É também poder proporcionar aos nossos alunos momentos que são verdadeiramente enriquecedores, de partilha, de alegria e de convívio entre todos os alunos inscritos em Educação Moral na nossa Diocese”.
Os passadiços e o castelo de Porto de Mós foram os pontos altos do percurso, como relata Inês Costa, aluna do 5º ano: “Adorei andar pelos passadiços e ver o castelo. Nunca tinha vindo a Porto de Mós e agora quero voltar com os meus pais para lhes mostrar tudo o que vi”.
As equipas, compostas por alunos de diferentes escolas, foram acompanhadas por professores que observavam o espírito de entreajuda que rapidamente se estabeleceu entre jovens que, horas antes, nem se conheciam.
José Gomes, aluno da Escola Rainha Santa Isabel, da Carreira, resumiu a experiência: “Gostei muito desta viagem até agora. Fizemos novos amigos e descobrimos muitas coisas interessantes sobre Porto de Mós”.
O espírito “todos, todos, todos”
A inclusão foi outro dos temas centrais do encontro. Ecoando as palavras do Papa Francisco, D. José Ornelas repetiu várias vezes durante a sua intervenção: “Como o Papa Francisco nos lembra: na Igreja, todos somos. Todos. Todos. Digam comigo: todos. Todos. Todos. Este é o lema do Papa Francisco: todos. Todos e todas”.
Esta mensagem parecia concretizar-se no terreno. Moisés Lobo, da organização, destacou como o evento reuniu alunos de contextos socioeconómicos diversos, promovendo a integração e a partilha de experiências: “Com o tema ‘UP! Construtores da Esperança’, os alunos foram desafiados a ser sementes de esperança na transformação do mundo que habitam e colocarem em prática valores essenciais para uma convivência pacífica entre todos”.
Após o almoço partilhado no Parque Verde, a tarde foi dominada por momentos de animação que transformaram o espaço num autêntico festival juvenil. “Depois foi vê-los dançar ao som de várias músicas, e desafios coreográficos lançados pelo DJ Fernando”, descreveu Moisés Lobo.
“Acho que nunca dancei tanto!”, confessou Renata, aluna da Escola Rainha Santa Isabel, ainda ofegante após uma sessão particularmente energética. “O melhor foi ver os nossos professores a dançar connosco!”, acrescentou.
A música, cuidadosamente selecionada, alternava entre hits contemporâneos e canções com mensagens alinhadas com o tema do encontro, promovendo a reflexão mesmo nos momentos mais descontraídos.
A construção de um símbolo de esperança
Um dos momentos mais significativos da tarde foi a construção coletiva de um símbolo representativo do tema “UP! Construtores da Esperança”. Cada escola contribuiu com elementos para uma instalação que foi crescendo ao longo do dia, simbolizando a construção conjunta de um mundo melhor.
“Foi incrível ver como algo tão grande e bonito pode nascer quando todos colaboramos”, partilhou Simone, uma das participantes. “Cada um deu um bocadinho de si e o resultado final representa todos nós”.
O símbolo, uma estrutura vertical ascendente, incorporava elementos naturais e materiais reciclados, refletindo também a preocupação ecológica presente no evento.
Para além da experiência individual de cada participante, o Interescolas tem um impacto significativo nas comunidades escolares, como explica Carlos Araújo: “É com a participação nas iniciativas como esta, que o Colégio Nossa Senhora de Fátima continua a promover uma educação integral, baseada em valores e na formação de jovens comprometidos com a construção de um mundo mais justo e solidário”.
A professora Sílvia reforça esta ideia: “Este tipo de encontros permite aos alunos perceberem que não estão sozinhos na sua caminhada de fé, que existem centenas de outros jovens que partilham os mesmos valores e ideais”.
Uma memória que perdura
Às 15h30, após o momento de envio — uma breve cerimónia onde os participantes receberam a missão de levar para as suas escolas e famílias o espírito vivido durante o dia — o XII Encontro Interescolas chegou ao fim. No entanto, o seu efeito promete perdurar.
“Foi um dia divertidíssimo. Diferente do normal. Cheio de coisas novas e com muitos alunos felizes”, resumiu Bárbara António, do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós, captando a essência do evento.
As estatísticas impressionam: 650 alunos, nove agrupamentos escolares, dezenas de professores, uma vila inteira mobilizada. Mas os números não captam o que realmente importa: a transformação que cada um dos participantes viveu.
“No final do dia, ficou claro que o XII Interescolas EMRC foi muito mais do que uma simples atividade. Foi uma celebração do encontro, do cuidado e da esperança, que certamente deixará uma marca profunda na memória de todos os participantes”, concluiu Carlos Araújo.
O sucesso do evento deve-se em grande parte à colaboração entre várias entidades. “O Serviço de Pastoral nas Escolas (SPE) agradece a disponibilidade, acolhimento e todo o apoio dado pelo Município de Porto de Mós para a realização deste encontro. São estas sinergias que permitem estes momentos que impactam na vida dos nossos alunos e comunidades”, afirmou Moisés Lobo.
Este espírito de colaboração estendeu-se aos próprios participantes. Durante o peddy-paper, as equipas rapidamente perceberam que o sucesso dependia da capacidade de trabalharem em conjunto. “Foi incrível ver como alunos que nunca se tinham visto antes conseguiram organizar-se tão rapidamente para superar os desafios”, comentou um dos professores acompanhantes.
O legado do XII Interescolas
“Construtores da Esperança” não foi apenas um tema para um dia de atividades, mas um convite à ação continuada. Como sublinhou D. José Ornelas na sua intervenção: “É assim que podemos ser construtores de esperança, começando a construir essa esperança no nosso coração. E quem encontramos no nosso coração? Jesus”.
A proposta é clara: levar para o quotidiano das escolas e famílias os valores vivenciados durante o evento. “Estes encontros são sementes”, explicou um dos organizadores. “Plantamos hoje para colher durante todo o ano letivo, nas pequenas atitudes do dia-a-dia”.
Íris, uma das participantes, partilhou a sua intenção: “Vou tentar ser mais amiga de todos na minha turma, especialmente daqueles que estão mais sozinhos. Percebi hoje que todos precisamos uns dos outros”.
À medida que os autocarros iam deixando Porto de Mós, carregados de jovens exaustos mas felizes, ficava no ar a expectativa pela próxima edição. O XIII Encontro Interescolas já está a ser pensado, com a missão de superar o sucesso desta edição.
“Cada ano tentamos inovar, trazendo novos elementos sem perder a essência”, revelou um membro da organização. “O desafio é manter o interesse dos jovens, numa idade em que tudo muda tão rapidamente”.
A julgar pelo entusiasmo dos participantes deste ano, esse desafio não será difícil de superar. Como resumiu Hugo, um dos alunos: “Para o ano quero voltar… e depois dançar até não poder mais!”
E assim, o Interescolas vai construindo, ano após ano, uma geração de jovens que acreditam ser possível transformar o mundo, um coração de cada vez.