Que paz, que serenidade, que felicidade advêm de fazer parte do uno, do único, do perfeito. Que bom é não sofrer separações, nem divisões, nem rupturas! Claro que tais afirmações não fazem sentido sem algumas reflexões surgidas num domingo de eleições europeias. Vamos ver apenas aquelas que cabem num breve artigo.
A palavra “unidade” suscita-nos várias ideias: 1) união, mas não uniformidade ou cópia; 2) individualidade, mas não isolamento; 3) colaboração, mas inteligente; 4) obediência, mas sem servilismo; 5) disciplina, mas não rigidez. Tentaremos explicar-nos melhor.
1) União sem uniformidade. É a base de trabalho das empresas de sucesso: possuir um objetivo comum — união — a ser executado por pessoas com várias funções ou competências — diversidade. Sem a diversidade, uma máquina ou um robô seriam suficientes. Mas uma empresa necessita sempre de pessoas capazes de inovar, de se adaptar e de criar novas ideias. A família é um bom exemplo de empresa de sucesso, além de ter as melhores condições para formar pessoas capazes de trabalhar em organizações.
2) Individualidade sem isolamento. A necessidade de um companheiro ou colaborador é inerente à natureza do ser humano. Este precisa de outro como amigo, companheiro e, no contexto do trabalho, como colaborador. Bom é se os dois papéis se podem encontrar na mesma pessoa, como no caso da vida familiar, que é um exemplo positivo. No extremo oposto, encontramos a ideologia da luta de classes, seja ela entre patrões e empregados, homens e mulheres, jovens e idosos, saudáveis e doentes, ou entre governantes e governados. O inimigo não está no indivíduo, mas no egoísmo, na inveja, na ambição, na prepotência, na corrupção, na mentira. Importam, isso sim, as virtudes, pois são elas o antídoto contra o isolamento, esse modo estéril de viver.
3) Obediência, sim. Servilismo, não. Nem sempre é necessário, ou útil, conhecer a razão da obediência, mas convém explicá-la quando for possível. Se uma catástrofe está iminente (incêndio, maremoto…), todos devem obedecer às orientações dos profissionais (bombeiros, médicos, polícias, soldados…). É essa unidade de comportamentos que pode aumentar o número de sobreviventes. Nada tem a ver com o servilismo, que consiste em aceitar fazer tudo o que é mandado sem avaliar a bondade ou maldade da ordem. A menor cedência ao mal arrasta qualquer jovem para uma torrente cada vez mais caudalosa de más ações: a traquinice de esvaziar um pneu pode levar ao furto de uma bicicleta, à participação num assalto a uma bomba de gasolina, ao rapto de uma pessoa, à falsificação de documentos, ao tráfico de droga e, por fim, ao assassinato. As amizades, os empregadores, os fornecedores, os professores, os políticos, os namorados, os esposos devem ser bem escolhidos e eleitos. Quem é capaz de tornar os outros felizes? Não serão apenas aqueles que amam o bem e a verdade e se esforçam por nunca esquecer o uso destes “ingredientes” em todos os momentos da sua vida, seja no âmbito profissional, familiar, desportivo, nas amizades, na doença, no luto, nas partilhas, no sucesso, etc.? Face à injustiça e à corrupção, a coragem e a fortaleza são as virtudes que sustentam a unidade.
4) Disciplina sem rigidez. A disciplina nunca deve ser uma virtude isolada, pois destina-se a tornar a pessoa livre, isto é, capaz de fazer o que quer. O médico, o trapezista, o matemático, o cientista, o pai, a mãe, se querem estar preparados para cumprir com as suas obrigações profissionais, familiares, sociais, de cidadania, de amizade, necessitam ter consciência (e experiência) da necessidade de dominar as suas tendências e apetites, para que possam preparar e desenvolver bem as suas capacidades intelectuais, físicas e anímicas. Sem essa preparação, não conseguirão suportar a visão de sangue, a vertigem dos voos em altura, as horas de concentração para resolver problemas matemáticos, a persistência na busca perante o aparente insucesso nos trabalhos de pesquisa e, sobretudo, a enorme disciplina que se encontra em cada gesto das pessoas que se empenham em manter a união familiar com a fortaleza e a ternura próprias de um verdadeiro lar.
Ajudarão estas ideias a alcançar a paz na família, no trabalho, no mundo?