A Comissão Teológica Internacional (Santa Sé) publicou recentemente um novo documento sobre a liberdade religiosa. Questiona-se a “neutralidade” do Estado, fala-se de “totalitarismo suave” e pede-se novo relacionamento entre a comunidade civil e as confissões religiosas.
A religião sempre foi tema apaixonante, multicultural e transversal a toda a comunidade humana. A religião é para religar ao outro (divino) e aos outros (próximos). A missão e visão é a construção de pontes de comunhão.
No tempo hodierno, em que se fala prolixamente sobre liberdade, querer empurrar para o foro privado a prática religiosa, considerar a filiação religiosa um obstáculo à plena cidadania, truncar a liberdade religiosa, é seguir a via do totalitarismo partidário político ou do Estado.
O documento considera que a atual radicalização religiosa de hoje, referida como “fundamentalismo”, é muitas vezes caraterizada por “uma reação específica à conceção liberal do Estado moderno, devido ao seu relativismo ético e sua indiferença face à religião”.
Fenómenos de fanatismo religioso e totalitarismos políticos devem “questionar” a sociedade. Lê-se no texto: “Uma cultura civil que define o seu humanismo através da remoção da dimensão religiosa do humano é forçada a remover também partes decisivas da sua própria história: do seu próprio saber, da sua própria tradição, da sua própria coesão social. O resultado é a remoção de partes cada vez mais substanciais da humanidade e da cidadania, a partir das quais a própria sociedade é formada”.
Até onde vai a neutralidade dos Estados e governos? Os políticos e as políticas podem impor a marginalização e a exclusão do religioso? A justiça e a ética vão ser fundadas e fundamentadas em quê? Estará proibida toda e qualquer justificação e inspiração religiosa? A liberdade pode ser discriminatória? Cuidado, pois, com “as teorias da neutralidade”.
Por sua vez, no documento também se lamenta a “motivação religiosa grosseira de certas formas de fanatismo totalitário, que visam impor a violência terrorista mesmo dentro das grandes tradições religiosas”.
O diálogo inter-religioso é apresentado como um caminho para a paz “na busca do bem comum”, considerando-a “uma dimensão inerente” à missão da Igreja Católica.
Lamentamos tudo o que é negativo. O que acontece perto ou longe de nós. Não se entende como em França, em cada dia e todos os dias (média), estão a ser cometidos três atos de vandalismo, profanação ou roubo contra igrejas, capelas ou cemitérios católicos. Um bispo francês classifica alguns atos como “fundamentalmente anti-cristãos”. Há fogo posto, imagens de Cristo partidas, sacrários arrombados e hóstias consagradas que são profanadas.
O relatório sobre a liberdade religiosa no mundo (apresentado anualmente) indica luzes e sombras por todo o orbe. A história continua e a aventura humana também, mas desejam-se e sonham-se mais projetos e mais progressos. A sociedade e os Estados só têm a ganhar com o bom humanismo e a boa espiritualidade. Não basta o tecnicismo e o cientismo.
Podem arder catedrais acidentalmente ou intencionalmente, mas o coração do ser humano estará inquieto, em êxodo espiritual, no atravessamento do tempo e do espaço.
O espetáculo mais belo será sempre o da construção e não o da destruição.
Os crentes sabem que os templos mais nobres não são feitos de pedra ou cimento, mas os que são formados pelas pedras vivas edificados na fé, pelo espírito, e pelo sopro vital.