A Igreja Católica, na sua essência, é um mistério de comunhão que se expande por diversas culturas e realidades. A sua universalidade entrelaça-se com a intimidade de cada vida, nas terras que pisamos e no céu que nos envolve. Em tempos de desencontros, onde cada lugar busca afirmar a sua identidade de forma isolada, como podemos sentir-nos verdadeiramente como uma só Igreja? É possível, no quotidiano das nossas práticas e nos laços que formamos, reconhecermo-nos como um único Corpo de Cristo, seja nas vibrantes cidades ou nas serenidades das aldeias?
O Papa Francisco, com a urgência de um profeta e a ternura de um irmão, convoca-nos a uma sinodalidade concreta. Ele sublinha que somos chamados a caminhar juntos, escutando e acolhendo a diversidade presente na nossa comunidade. Este “caminhar juntos” vai além de um mero conceito; é uma forma de habitar o mundo, onde estendemos a mão e o coração para que o outro encontre lugar entre nós.
As unidades pastorais emergem como uma resposta vital a essa convocação, representando uma transformação pastoral que visa integrar diversas paróquias, promovendo a colaboração e a partilha de recursos. Elas não são meras estruturas administrativas, mas espaços de unidade e comunhão, onde somos convidados a viver uma nova forma de ser Igreja. A sinodalidade, portanto, é um desafio urgente que nos convoca a construir relações mais sólidas e a abraçar a diversidade como um tesouro.
Observando as unidades pastorais, encontramos uma oportunidade concreta para vivermos essa unidade. Contudo, para que essa unidade seja genuína, cada paróquia deve perceber-se não apenas como vizinha, mas como parte de um mesmo corpo. A unidade pastoral sinodal deve ser mais do que uma coleção de paróquias; deve ser um espaço de encontro e escuta, onde aprendemos a acolher a diversidade.
A fidelidade ao “seu canto”—o lugar onde cada um se sente em casa—é uma riqueza da alma humana. Essa fidelidade, em algumas regiões, pode transformar-se em bairrismo, uma defesa apaixonada do que é próprio. Isso é bonito, mas também apresenta um desafio: amar o nosso “canto” sem perder de vista o todo, sendo fiéis ao que somos, mas com corações abertos para acolher o outro. A sinodalidade exige essa tensão criativa, esse amor que abraça a diferença.
Uma sinodalidade autêntica requer um amor que se torne carne, uma comunhão que se manifeste na vida quotidiana. Este ideal não pode ser apenas uma intenção; deve influenciar decisões pastorais, prioridades e compromissos. Cada projeto missionário deve surgir de uma escuta mútua e de um discernimento cuidadoso, reconhecendo as especificidades das cidades e as necessidades das áreas periféricas. Em Cristo, não há hierarquia de importância; somos chamados a colaborar, aprender e ensinar com dignidade.
Para que essa sinodalidade seja verdadeira, é necessário vivermos uma partilha real: de recursos, tempo, esforços e afetos. A Igreja, em fidelidade ao Evangelho, é chamada a uma comunhão onde paróquias mais privilegiadas se abrem em solidariedade às menos favorecidas, e as pequenas comunidades se sintam parte de um todo que as acolhe e escuta. Uma verdadeira Igreja sinodal valoriza a dignidade de cada comunidade, acolhendo-a com amor.
A unidade pastoral sinodal é, acima de tudo, missionária. É um convite a sairmos de nós mesmos, a sermos acolhimento e comunhão em tudo o que fazemos. Desejamos uma Igreja onde o Espírito se manifeste nas relações, nos pequenos gestos e na vida comum. Cada paróquia e unidade pastoral deve ser um lugar de acolhimento, onde o Evangelho se torna vida e onde cada um pode entrelaçar a sua história com a de Cristo. Isso só é autêntico quando cada comunidade, seja urbana ou rural, se sente parte de uma missão comum.
As conclusões do Sínodo de 2024 sublinham a sinodalidade como elemento central da vida da Igreja. Os participantes evidenciaram a necessidade de um compromisso renovado com a comunhão, participação e missão, reconhecendo que todos os católicos, independentemente do seu papel ou posição, são chamados a fortalecer a Igreja. As conclusões destacaram a urgência de um diálogo inclusivo, onde as vozes de todos—jovens, mulheres e comunidades marginalizadas—sejam ouvidas e valorizadas. Também ressaltaram a importância de formar comunidades que vivam a sinodalidade de forma concreta, promovendo a partilha de recursos e a colaboração entre paróquias. A Igreja deve ser um lugar de acolhimento e escuta, onde cada pessoa se sinta parte do Corpo de Cristo. Além disso, reafirmou-se que a missão da Igreja deve ir além das paredes das paróquias, envolvendo-se ativamente com o mundo e respondendo às necessidades contemporâneas, especialmente nas áreas de justiça social e promoção da paz.
Neste tempo em que o mundo clama por sentido e a Igreja é chamada a ser sinal de esperança, devemos recordar que somos um só corpo. Não importa se somos urbanos ou bairristas; o povo de Deus é chamado a caminhar junto. A nossa força reside na extraordinária diversidade que compõe essa unidade. Quando cada unidade pastoral e paróquia se abre à sinodalidade, tornamo-nos uma Igreja viva, que se entrega ao mundo.
Assim, a nossa Igreja, universal e próxima, torna-se mais fiel ao Evangelho. Se realmente acreditamos que somos um só corpo em Cristo, devemos viver como tal, superando distâncias e promovendo uma sinodalidade autêntica em cada realidade e em cada coração.