Solenidade do Corpo de Deus em Leiria renova fé e apela à comunhão

A cidade de Leiria foi palco, no passado dia 19 de junho, de uma das celebrações mais tradicionais e significativas do calendário litúrgico católico: a Solenidade do Corpo de Deus. Numa cerimónia que reuniu fiéis de toda a diocese de Leiria-Fátima, o bispo D. José Ornelas presidiu à Eucaristia onde aproveitou para fazer uma reflexão sobre o papel da Igreja nos tempos atuais.

As celebrações iniciaram-se às 16h00 no Jardim Santo Agostinho. A cerimónia contou com uma significativa participação de fiéis, incluindo leigos, padres, religiosos e os dois bispos eméritos da diocese, criando um ambiente de verdadeira comunhão diocesana.

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A Eucaristia como fundamento da Igreja sinodal

Na homilia, D. José Ornelas enquadrou a solenidade no contexto das transformações que atravessam a Igreja universal e particular. O bispo começou por contextualizar o momento histórico que a Igreja vive, referindo-se ao recente pontificado do Papa Francisco e ao início “cheio de esperança” do pontificado do Papa Leão XIV.

“Celebramos uma Igreja sinodal em transformação, que significa comunhão, participação e missão”, afirmou D. José Ornelas, sublinhando que esta transformação não é apenas um processo interno da Igreja, mas uma resposta a “um mundo complexo, violento, preocupante, marcado pela injustiça, fome, miséria e guerras verdadeiramente destrutivas”.

O bispo desenvolveu uma reflexão profunda sobre o significado da Eucaristia para a vida da Igreja, apresentando-a como “laboratório de uma nova forma de relação, de fraternidade, de partilha e de paz”. Segundo D. José Ornelas, a Eucaristia não é apenas uma recordação do passado, mas um “memorial” que torna presente e efetivo o que se celebra.

“Não é apenas recordação do passado, mas memorial, isto é, o que recordamos faz-se presente e efetivo, porque o Senhor Jesus não é memória morta, mas Senhor vivo e ressuscitado, que continua presente entre nós”, explicou o prelado.

A homilia destacou ainda a dimensão comunitária da Eucaristia, lembrando que Jesus “frequentemente esteve à mesa com todos” e que “a mesa não é apenas um gesto de alimentar-se, mas um momento de fazer comunidade”. Esta imagem da mesa como centro da vida comunitária foi apresentada como paradigma para o ser Igreja.

Sinodalidade: uma nova mentalidade eclesial

D. José Ornelas dedicou uma parte significativa da sua reflexão ao conceito de sinodalidade, que definiu como “mentalidade condutora do ser da Igreja, nos processos de relacionamento, liderança e tomada de decisão”. O bispo explicou que esta sinodalidade “está no centro do esforço de transformação e conversão pastoral” da diocese de Leiria-Fátima, orientando nomeadamente “a introdução das unidades pastorais como forma de transformar a vida e articular o nosso ser Igreja unida e peregrina”.

O prelado sublinhou que a Igreja sinodal nasce da Eucaristia e dela se alimenta, sendo “uma Igreja que quer contar com a participação ativa de todos os seus membros, nas diversas funções”. Esta visão foi ilustrada com uma reflexão sobre a dinâmica eucarística: “aquilo que temos, que Ele nos deu, torna-se um, que Ele, como quando multiplicou o pão, agora consagra para todos”.

A homilia culminou com uma reflexão sobre a dimensão missionária da Igreja, simbolizada pela procissão que se seguiria à celebração eucarística. “A Igreja não se fecha na Eucaristia, mas caminha para a sociedade”, afirmou D. José Ornelas, explicando que “queremos ir à cidade dizer com Cristo, Eucaristia, que estamos presentes e anunciar o seu Reino”.

O bispo apresentou a procissão como símbolo de uma “Igreja peregrina, que caminha no tempo e vai ao encontro da humanidade em cada situação”, concluindo que “somos presença viva e atuante de Deus”.

Depois da celebração eucarística, realizou-se a solene procissão com o Santíssimo Sacramento, que percorreu as ruas de Leiria até à Sé Catedral, acompanhada por quatro filarmónicas da Diocese: das Chãs, de Porto de Mós, do Soutocico e de Vermoil. A celebração culminou no adro da Sé, às 18h30, com a bênção com o Santíssimo Sacramento e a execução de peças musicais pelas filarmónicas presentes.

Uma celebração de gratidão e colaboração

O Vigário-Geral Padre Manuel Armindo, responsável pela organização das celebrações, expressou gratidão a todas as entidades que colaboraram no evento. Entre os agradecimentos, destacaram-se a Câmara Municipal de Leiria, a Polícia de Segurança Pública, as bandas filarmónicas, a Associação de Filarmónicas do Concelho de Leiria, os Escuteiros da Região de Leiria-Fátima, a Vigararia de Ourém, o Santuário de Fátima, o Seminário de Leiria, várias paróquias e os serviços diocesanos de Catequese e de Liturgia.

A celebração foi animada por um coro litúrgico composto por membros vindos de toda a diocese, reforçando o caráter diocesano da solenidade. A procissão, organizada com o apoio de escuteiros experientes, percorreu as ruas do centro histórico de Leiria, intercalando momentos musicais das filarmónicas com períodos de silêncio contemplativo.

ÁLBUM FOTOGRÁFICO (fotos de Ilídio Manuel da Mota)
http://l-f.pt/mo1W

Transcrição integral da homilia

Irmãs e irmãos, celebramos esta solenidade do corpo e sangue do Senhor Jesus num tempo muito especial para o mundo, para toda a Igreja e com um significado particular para a nossa Igreja de Leiria-Fátima. Celebramos uma Igreja sinodal em transformação, que significa comunhão, participação e missão. Vivemos num mundo complexo, violento, preocupante, marcado pela injustiça, fome, miséria e guerras verdadeiramente destrutivas, que só aumentam as divisões, as tensões e o receio pelo nosso futuro comum como humanidade neste planeta.

Para toda a Igreja, este é também um tempo significativo. Vimos partir o Papa Francisco, que concluiu uma missão marcante para toda a Igreja, no seu ministério de sucessor de Pedro, com intervenções proféticas e transformadoras, especialmente na condução da Igreja e no caminho sinodal em que todos estamos empenhados. Vivemos também o início, cheio de esperança, do pontificado do Papa Leão XIV, que afirma o empenho pela paz e a sinodalidade como mentalidade condutora do ser da Igreja, nos processos de relacionamento, liderança e tomada de decisão, como recentemente expressou numa conferência episcopal em Itália.

Também entre nós, Igreja de Leiria-Fátima, a sinodalidade está no centro do esforço de transformação e conversão pastoral, que orienta a introdução das unidades pastorais como forma de transformar a vida e articular o nosso ser Igreja unida e peregrina. Neste contexto, a celebração do corpo e sangue de Jesus assume um significado muito especial de reflexão, transformação e missão. Celebrar a presença de Jesus morto e ressuscitado, que hoje está vivo no meio de nós na Eucaristia, é um sinal fundamental da Igreja.

É alimento e anúncio da comunhão, da participação e da missão que constituem a Igreja sinodal, uma Igreja onde Jesus continua presente e reúne os seus. Estamos aqui reunidos precisamente porque Ele morreu, ressuscitou e está vivo, especialmente na Eucaristia. É isso que hoje, de modo especial, tomamos a sério.

É uma Igreja que quer contar com a participação ativa de todos os seus membros, nas diversas funções. Por isso, damos as boas-vindas aos senhores bispos, ao cardeal António e ao Dom Serafim, que também foram bispos entre nós. Eles não passaram, fazem parte da história desta Igreja.

É uma história que não tem medo nem se envergonha do seu passado, pelo contrário. É uma Igreja que tem dado muitos bispos, padres e pessoas empenhadas em tantas outras formas na vida da Igreja. É nesses serviços e nessa dedicação aos outros que esta Igreja se manifesta hoje, bela, mas sempre disposta a caminhar e a adaptar-se aos novos tempos.

É uma Igreja que vive e anuncia a transformação das relações humanas e a integração de todos na família de Deus. Esta é a nossa forma de viver e anunciar a possibilidade de promover a paz e a dignidade de cada pessoa, a caminho da pátria comum de todos no Reino eterno de Deus. É isso que celebramos na Eucaristia.

Celebramos um passado, um presente, mas sobretudo celebramos o Senhor Jesus, que nos une agora e que nos convida para o futuro determinante e universal da salvação em Deus. Por isso, a Eucaristia é laboratório de uma nova forma de relação, de fraternidade, de partilha e de paz. A Eucaristia celebra o ser da Igreja em constante renovação.

Ela nasceu precisamente desse ser, dessa presença de Jesus no meio de nós. Ele fez-se um de nós, aprendeu a ser homem nesta terra e viveu connosco cerca de trinta anos antes de ser, para nós, anúncio público e efetivo do Reino de Deus. Nesse estar entre nós, solidário connosco até nas etapas de crescimento e desenvolvimento, mostrou que a Igreja não pode ficar parada no passado, mas deve acompanhar o novo que surge na sociedade.

Ele foi essa presença e anúncio que renovou muitas pessoas pela sua palavra, tocando o coração e fazendo-as segui-lo, olhar para ele e caminhar consigo. Não foi apenas palavra, foram também gestos de misericórdia para com os doentes, pecadores e excluídos.

Mostrou que Deus não está longe das nossas dores, sonhos, erros e pecados. Para a multidão faminta, multiplicou o pão, partindo-o a partir da partilha daqueles que tinham pouco, que também contribuíram para a fome dos outros. Ensinou a partilha como forma de responder às necessidades.

Não esqueçamos que é do pouco da comunidade que Jesus mata a fome da multidão. Frequentemente esteve à mesa com todos. O Evangelho mostra muitas vezes Jesus à mesa, porque a mesa não é apenas um gesto de alimentar-se, mas um momento de fazer comunidade.

A mesa nas nossas casas é o centro da vida, lugar onde comemos, falamos, comunicamos. Estar à mesa é um sinal fundamental da presença de Jesus, que nos convida a partilhar os bens da terra, os dons e afetos que temos uns pelos outros. O estar à mesa, dando lugar a todos, caracteriza a Igreja, e é neste gesto simples, mas universal, que Jesus funda a sua presença especial no meio da Igreja.

Mas avisou também que não basta multiplicar o pão que alimenta o corpo; a palavra de Deus que Ele traz alimenta e dá vida nova, anunciando que Ele próprio é a palavra e o pão que alimenta para a vida eterna. Tudo isto Jesus realizou na última ceia, quando instituiu a Eucaristia. Tomou o pão e o vinho, deu graças e disse: “Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue”, como recorda São Paulo na sua carta, que já apresenta esta tradição como fundamento da unidade, comunhão e anúncio da Igreja.

Ele entregou-se e deu-se a nós para comermos e bebermos, deu-nos a sua vida, o seu ser filho de Deus, o poder de dar vida, a atitude de entrega até à aceitação da morte. Porque Deus é maior do que todos os nossos problemas e até da nossa morte. Morrendo, deixou-nos o seu espírito, a sua vida, para que o seu pão e vinho, corpo e sangue, nos dêem a vida do Pai do céu pelo seu espírito. Foi isso que Jesus celebrou e mandou que celebrássemos em sua memória, para que Ele continue presente no meio de nós, como união, força, alegria e esperança.

Celebrando a Eucaristia como Igreja, ela que nasceu precisamente da Eucaristia anunciada e iniciada por Jesus, torna-se alimento para a renovação constante da Igreja. É isso que celebramos hoje. Não é apenas recordação do passado, mas memorial, isto é, o que recordamos faz-se presente e efetivo, porque o Senhor Jesus não é memória morta, mas Senhor vivo e ressuscitado, que continua presente entre nós.

Hoje, neste dia 19 de junho, Ele continua aqui no meio de nós, a reunir-nos e a enviar-nos. Por isso, quando celebramos a Eucaristia, começamos por dizer no início: “O Senhor esteja convosco”. Respondemos “Ele está no meio de nós”, pois Ele está mesmo, aqui connosco, na comunidade que se reúne.

Nós somos o corpo de Cristo porque somos uns para os outros. Essa presença fraterna, efetiva e afetiva, de relações novas, mesmo entre culturas e raças diferentes, faz de nós o povo e a Igreja do Senhor Jesus. Reconhecemos também que somos pecadores, isto é, uma Igreja peregrina que nunca está completa neste mundo, porque a nossa existência não termina aqui.

Por isso, a Igreja está sempre em transformação, acompanhando um mundo que muda radicalmente, enfrentando as suas crises, sonhos e dificuldades, e sendo fermento e semente do mundo novo. Partilhamos, sentamo-nos para escutar e partilhar a Palavra de Deus. Para tantas comunidades que não têm a Eucaristia por falta de padre, a Palavra é a presença do Senhor.

Mesmo quando se celebra a Eucaristia, ela é precedida pela Palavra, que dá sentido e prepara para acolher Jesus. No ofertório, partilhamos os bens. Não se trata de pagar uma taxa ou imposto, nem de despejar as moedas pequenas do porta-moedas, mas de expressar o que somos e a nossa corresponsabilidade para prover a Igreja do necessário, partilhando o que Deus nos deu generosamente. É também para acolher quem não tem e para promover a caridade da Igreja para todos.

Colocamos tudo isso no altar, entregando a Jesus. Esta é a dinâmica da Eucaristia: aquilo que temos, que Ele nos deu, torna-se um, que Ele, como quando multiplicou o pão, agora consagra para todos.

Acolhemos com alegria o Senhor, dizendo: “Anunciamos a tua morte, proclamamos a tua ressurreição, vem, Senhor Jesus”. Depois comungamos, isto é, fazemos nosso o ser Filho de Deus de Jesus, que nos ensina a pensar, agir e amar como Ele. Comungar é interiorizar o ser de Jesus.

Este é também o segredo, a metodologia e o estilo de ser Igreja. É isto que chamamos Igreja sinodal. Nasce da Eucaristia e alimenta-se dela.

Hoje, porém, não ficamos aqui. Simbolicamente, vamos caminhar até à igreja, no centro da cidade. Porque a Igreja não se fecha na Eucaristia, mas caminha para a sociedade.

Queremos ir à cidade dizer com Cristo, Eucaristia, que estamos presentes e anunciar o seu Reino. Este é o sentido da procissão que faremos. Também significa que somos uma Igreja peregrina, que caminha no tempo e vai ao encontro da humanidade em cada situação.

Isto é o que testemunhamos pela Eucaristia: somos presença viva e atuante de Deus. Para terminar, a celebração não fica encerrada no momento.

A Eucaristia permanece no centro da comunidade, no centro da Igreja. É para ser adorada, meditada e interiorizada. Quando não houver pão e vinho consagrados, temos sempre a Palavra de Jesus nas nossas casas, comunidades, grupos, catequese, nos gestos de carinho, solidariedade e paz.

É isto que celebramos hoje, acolhendo o Senhor e pedindo-lhe que nos faça ter um coração semelhante ao seu, para sermos sementes de alegria, de paz, de fraternidade, sementes de um mundo novo. No caminho que percorremos como Igreja diocesana e como toda a Igreja, neste caminho sinodal que nos guia agora o Papa Leão XIV.

(Fotos gentilmente cedidas por Ilídio Manuel da Mota)

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