Os Santos populares fazem girar a imaginação e as memórias. Não são apenas cortejos de marchas e arraiais de festejos. S. António, o dos objetos achados, pode ajudar a ordenar as ondas de perseguição. Jesus avisou: perseguiram-me a mim, perseguirão a vocês, mas não destruirão “a minha Igreja”. Herodes o Grande perseguiu Jesus Menino-Rei, Herodes-filho fez chacota de Jesus e mandou matar João Batista, Herodes-neto matou Tiago e prendeu Pedro. A função de turno passou aos imperadores romanos durante quatro séculos a começar com Nero a matar Pedro e Paulo em Roma, no ano 67, e foram milhares de perseguidos e torturados por todo o império. Recusavam adorar ídolos e imperadores e confessavam Jesus o Filho de Deus com o martírio. Já lá vão 20 séculos até este Jubileu 2025 que celebramos!
No século IV vieram as ondas dos chamados bárbaros das montanhas da Ásia central, Sultões e outros das estepes e regiões do Norte e do Sul, os suevos, alanos, vândalos, hunos. Um dos mais famosos, Átila, quiz atacar e saquear a cidade de Roma, para abastecer o seu exército e roubar riquezas. O Papa Leão I da série de Leão XIV, atreveu-se a ir ter com ele para negociar a paz. Com bons modos terá conseguido, talvez com a ajuda de uma epidemia e os inimigos a afligir os exércitos (como escreve o Bispo Idácio de Chaves, Portugal), pediu-lhe que poupasse a cidade. Talvez lhe tenha dito que estava sob a proteção das duas colunas da Igreja, Pedro e Paulo, e ele, Leão I, era sucessor de Pedro e representante de Cristo que tinha entregado as chaves do Céu a Pedro e que não seria prudente provocá-lo e fazer sofrer todo o povo desta cidade. E terá acrescentado que nem as portas do inferno tinham poder contra a Igreja de Cristo. Átila deu meia volta e desistiu. (https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81Átila).
Os povos cristãos da Europa e da bacia do Mediterrâneo sofreram o embate de mais Sultões e chefes bárbaros, Otomanos e o Islão, pelo Médio Oriente e norte da África, até à Ibéria onde os cristãos já estavam organizados e quase foram apagados. Não estamos a escrever História mas apenas notas soltas e balizas seculares. Vieram as ondas das Cruzadas com eventos plurifacetados e alguns de triste memória. Nem tudo, porém, era triste porque os perseguidores iam recebendo no coração algumas sementes e enxertos de cristianismo. E sucederam-se as invasões sucessivas nos Balcãs, Grécia, e por várias vezes até às portas de Viena. Os invasores nada meigos, queriam ocupar toda a Itália mas enfrentaram a batalha de Lepanto em 1571. Entretanto as lutas cristãs da Reforma e Contra-Reforma abriram fraturas entre cristãos até hoje. Os tempos da Revolução Francesa, regime de Terror, das guerras napoleónicas por toda a Europa, do dobrar do século XVIII-XIX também perseguiam. Sucederam-lhe o racionalismo iluminista, liberalismo, domínio regalista dos reis sobre a Igreja e liberalismo anticlerical, tudo colorido de anticristianismo. Mais ainda, republicanismo maçónico de religião laica a perseguir as linhas eclesiais passando das espadas para as palavras hostis e astutas. As ideologias comunistas com o genocídio pela fome na Ucrânia e a guerra civil na Espanha vitimaram milhares de cristãos; e veio o nazismo e o comunismo soviético com a II Grande Guerra e os seus campos de concentração e os seus gulags gelados de milhões de mortos; e as suas extensões pela Asia e Sudeste asiático. E os focos repetidos de terrorismo? Nem todos perseguiam cristãos, a jihad, sim e os wokistas, também. Os nomes desses grupos têm-se multiplicado em regiões da Europa, Asia e África. Os estudiosos, entre os quais os de “Ajuda à Igreja que sofre”, têm calculado e comparado os números dos mártires cristãos dos primeiros quatro séculos com os dos últimos dois séculos e não hesitam em avançar que os últimos suplantam os dos primeiros séculos da Igreja. E as sementes cristãs serão abundantes?
A memória histórica precisa de mais rigor; continua à espera de ser completada. Seria importante que se investigasse mais para se conseguirem mais dados e mais paz. Ocorre lembrar o texto da festa de S. Pedro e S. Paulo a propósito da questão posta aos apóstolos: quem dizem que é o Filho do Homem? E a resposta de Pedro, cabeça do colégio apostólico: uns dizem que é “João Batista, Elias, Jeremias ou outro profeta (cf. Mt.16, 13-18). E Jesus perguntou: “e vós que dizeis? És o Messias, o Filho de Deus vivo”. Foi uma graça de meu Pai acertares na minha identidade. Agora digo a tua: “ tu és Pedro (pedra) e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. E os cristãos de hoje como vão respondendo?