No passado domingo, dia 19 de maio, a Diocese viveu intensamente mais um dia de festa. A Sé de Leiria, encheu-se de fiéis para acolher mais um ministro ordenado para a Igreja. Rui Ruivo, natural da paróquia do Juncal é agora mais um membro do presbitério diocesano e atinge o segundo grau do sacramento da Ordem.
Ainda faltava meia hora para o início da celebração e a catedral se apresentava bastante composta pelo que, já se começava a adivinhar que faltariam lugares sentados para todos os presentes que iriam testemunhar a Ordenação do diácono Rui Ruivo. Junto ao grande órgão, sob a batuta do maestro Jorge Narciso, o coro, desta vez bem maior que o habitual, a ocupar toda a nave lateral, fazia os aquecimentos necessários e dava os últimos retoques nas melodias que iriam encher o edifício.
Nos claustros da Sé, vagueavam alguns das dezenas de padres que iriam concelebrar com o pastor diocesano e presenciar este momento alto da vida da Igreja. Trocavam palavras de circunstância, mas era visível a serenidade e alegria que transparecia nos seus rostos por receberem mais um colega de vocação.
Quando o Rui chega, era inevitável que todos os olhares se lhe dirigissem. Abraços e parabéns foi o que mais se viu e ouviu nos momentos que antecederam a cerimónia. O próprio Bispo D. António Marto guardou para ele um abraço especial e o olhar paterno transparecia a alegria de um pai que vê crescer o filho a trilhar o caminho da felicidade.
Os pais biológicos do eleito, bem como o irmão e a irmã e a respetiva prole, esses já ocupavam o primeiro lugar da nave. Se uns tentavam esconder a ansiedade provocada pelo momento, já a mãe, quando lhe perguntámos como se sentia, não podia disfarçar: “estou muito emocionada”. E explicava que “há sete anos, ele chegou ao pé de mim e do pai, mesmo no próprio dia em que o pai fez anos, e vai assim ‘pai, eu vou para o seminário’, e começámos logo a chorar”. A senhora Maria da Conceição Ruivo diz que chora facilmente e isso vê-se. Disse que achava que o Rui ia ser um bom padre, mas quando lhe perguntamos que padre é que ela gostaria que fosse, aí já não sabia responder: “o que quer que eu lhe responda? Diga-me?”. Lá lhe explicámos qual era o desejo do Rui: ser um padre que transmitisse alegria às pessoas. “Ele consegue… e consegue cativar muita gente”, assentiu. O pai do Rui, o senhor João Ferreira, também se sentia muito feliz com o momento. “Só espero que Deus o ajude e me ajude a mim; foram sete anos um bocadito atribulados”, confidenciou-nos. “Chorei muito; chorava de noite e de dia”, explicou-nos com um à vontade desarmante que nos fazia duvidar se realmente tinha sido assim. “Agora já não choro. A minha mulher chora mais do que eu, mas não é de tristeza”, confessava, bem disposto.
Mãos que se entregam e acolhem
Os ritos da ordenação tiveram início logo após a proclamação do evangelho, com a apresentação do candidato que respondeu “presente”. Momentos mais tarde, na homilia, D. António Marto explicava que esta afirmação “expressa o sim definitivo que resume todo um percurso existencial para responder ao chamamento de Deus através da Igreja: eis-me aqui, estou pronto para que possas dispor de mim. Um sim que vai ser ratificado pelo gesto impressionante e comovente da prostração por terra como sinal do despojamento total e da dádiva inteira de si mesmo ao Senhor, sem reservas, sem condições, sem cálculos. Um gesto insólito que não encontramos em nenhuma investidura ou tomada de posse de algum cargo social.”
Na homilia, D. António Marto começou por citar o próprio Rui Ruivo numa carta em que o diácono convidava para a sua ordenação: “será que as minhas mãos vão fazer sempre o bem?”. Esta interrogação dava o mote para o discurso que, em certos momentos, deixou o prelado emocionado e que foi aproveitado para explicar à assembleia os gestos dos ritos que iriam continuar a testemunhar. Num deles, o bispo e todos os presbíteros presentes, colocam as mãos sobre a cabeça do candidato. “Com este gesto, o Senhor toma posse dele como que dizendo-lhe: Tu pertences-me. Tu estás sob a proteção das minhas mãos, do meu coração, do teto imenso do meu amor para eu te enviar na força do Espírito Santo”, explicou o D. António.
O Bispo diocesano lembrou que, agora, a vida do novo sacerdote passava a estar nas mãos de Deus e a ser as mãos de Cristo. “São as mãos que os discípulos puderam ver abertas e trespassadas na cruz. São as mãos que Cristo mostrou aos seus apóstolos após a ressurreição e que Tomé queria tocar. São as mãos que partiram o pão e tomaram o cálice na última ceia; que lavaram os pés sujos dos doze apóstolos; que agarraram Pedro quando se afundava nas águas do lago; que levantaram a filha de Jairo já sem vida; que tocaram e curaram o leproso descartado por todos; que se estenderam sobre as crianças para as abençoar”, desenvolveu.
No final da homilia, O Bispo dirigiu-se ao ordinando, nestes termos:
“Dar-te-ás conta de que muitos irmãos e irmãs, por causa do sacramento que hoje recebes, te confiarão a sua vida, te abrirão o seu coração, partilharão contigo os seus sofrimentos e alegrias, confessarão os próprios pecados. As tuas mãos erguer-se-ão sobre eles para abençoar, batizar, ungir, absolver, confortar, levantar. Nas tuas mãos o pão da Eucaristia tornar-se-á Corpo de Cristo, Pão de vida eterna, mistério admirável e adorável da nossa fé! Muitas vezes, as tuas mãos apertarão outras em sinal de amizade e de paz. Oxalá possam fazer sentir o calor da caridade, a compaixão da misericórdia, a alegria da redenção. Oxalá os outros possam ver, por detrás das tuas mãos, o teu coração de pastor moldado segundo o coração de Jesus.”
Com os mais pequenos a testemunhar
Depois da homilia, decorreram os momentos centrais do rito da ordenação. Após a promessa do eleito em ser “zeloso cooperador da Ordem dos Bispos, apascentando a grei do Senhor sob a ação do Espírito Santo, exercer digna e sabiamente o ministério da palavra, na pregação do Evangelho”, o ordinando prostrou-se junto do altar para onde tinham sido convidadas pelo Bispo a assistir mais de perto, as crianças que estavam presentes na celebração.
Depois deste momento, acompanhado com o canto das ladaínhas, procedeu-se à imposição das mãos feita em silêncio por todos os ministros ordenados presentes. No final deste gesto, o eleito ajoelhou-se diante do Bispo que, de braços abertos, disse a Oração de Ordenação.
Terminada esta oração, o novo sacerdote é vestido com a estola e a casula, após o qual é feita a unção das mãos com o óleo do Crisma. De seguida, alguns fiéis trazem a patena e o cálice já com vinho e água, para a celebração da Missa. Estas oferendas são levadas por um diácono ao Bispo que, por sua vez, as entrega ao presbítero acabado de ordenar.
Missa nova no Juncal
No próximo domingo, 26 de maio, a festa continuará na igreja matriz do Juncal, com a celebração da Missa nova, presidida pelo novo sacerdote, o padre Rui Ruivo. Terá início às 16h00 e toda a Diocese está convidada a juntar-se em oração.
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Oração de Ordenação
Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,
atendei e estai connosco.
Sois Vós o autor da dignidade humana,
o distribuidor de todas as graças,
por Vós crescem e se tornam firmes todas as coisas.
Para formar o povo sacerdotal,
Vós lhe dais e estabeleceis em diversas Ordens,
os ministros de Cristo, vosso Filho,
pelo poder do Espírito Santo.
Já na antiga Aliança se desenvolveram funções sagradas
que eram sinais do sacramento novo.
A Moisés e a Aarão,
que pusestes à frente do povo
para o conduzirem e santificarem,
associastes como seus colaboradores
outros homens também escolhidos por Vós.
No deserto, comunicastes o espírito de Moisés
a setenta homens prudentes,
com o auxílio dos quais
ele governou mais facilmente o vosso povo.
Do mesmo modo as graças abundantes
concedidas a Aarão,
Vós as transmitistes a seus filhos,
a fim de não faltarem sacerdotes, segundo a Lei,
para oferecer os sacrifícios do templo,
sombra dos bens futuros.
Nos últimos tempos, Pai Santo,
enviastes ao mundo o vosso Filho Jesus,
Apóstolo e Pontífice da nossa fé.
Ele a Si mesmo Se ofereceu a Vós,
pelo Espírito Santo,
como vítima imaculada,
e tornou participantes da sua missão, os seus Apóstolos,
santificados na verdade;
a eles Vós juntastes outros companheiros,
para anunciarem e realizarem, por todo o mundo,
a obra de salvação.
Agora, Senhor,
concedei também, à nossa fragilidade, este cooperador,
pois dele carecemos
no desempenho do sacerdócio apostólico.
Nós Vos pedimos, Pai todo-poderoso,
constituí este vosso servo na dignidade de presbítero;
renovai em seu coração o Espírito de santidade;
obtenha, ó Deus, o segundo grau da Ordem sacerdotal
que de Vós procede,
e a sua vida seja exemplo para todos.
Seja cooperador zeloso da nossa Ordem,
a fim de que, pela sua pregação,
as palavras do Evangelho frutifiquem,
pela graça do Espírito Santo,
nos corações dos homens,
e cheguem até aos confins do mundo.
Seja, juntamente connosco,
fiel dispensador dos vossos mistérios,
para que o povo que Vos pertence
renasça pelo banho da regeneração
e se alimente do vosso altar,
os pecadores se reconciliem
e os enfermos encontrem alívio.
Una-se a nós, Senhor,
para invocar a vossa misericórdia
pelo povo a ele confiado
e em favor do mundo inteiro.
Assim todas as nações,
congregadas em Cristo,
se hão-de converter num só povo que vos pertença,
e consumar-se no vosso Reino.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.