As sociedades hodiernas, pautadas por um sentimento de vanguarda em toda a linha, carecem de recuperar a humanidade a todo o vapor. Vivemos cada vez mais “online” como mortos-vivos interligados por um vínculo periclitantemente virtual que imprimimos às nossas relações. Que nos ensina Jesus sobre o manuseamento das redes? Ensina-nos a pescar homens, isto é, a estabelecer tramas de relações presenciais em que a mediação são os sentidos do copo humano. Há que ter isto sempre em mente para não se absolutizar os meios substituindo a forma tradicional de relação que é a do convívio humano saído da preocupação de Deus quando constata nos Génesis a inconveniência da solidão (cf. Gn 2, 18).
Neste sentido, há dimensões das relações humanas que não são virtualizáveis desde logo a sua necessária tridimensionalidade com as suas “nuances” de volume e de profundidade cujo desenho não é possível na perfeição mesmo para os melhores dos artistas do super-realismo. Fica sempre a faltar algo! Algo que não pode ser captado por pincéis muito menos pelos desenvolvimentos do 3D na indústria cinematográfica. Esse algo, a que podemos chamar alma, não se deixa captar senão nas dimensões necessariamente físicas do corpo humano. Para se aproximar é necessário estar-se diante dele, para se tentar compreender tem de ser possuído e partilhado como património comum que permite a interação narrada com a linguagem sociabilidade. Todos os desenvolvimentos tecnológicos revestem-se de uma mística do fascínio sobre como as máquinas podem tentar imitar o humano. Este esforço de imitação da tecnologia tem sobre a sua cabeça uma barreira difícil, senão impossível, de transpor. As dimensões biológicas do desenvolvimento e perpetuação da espécie humana são outras das facetas que não podem ser virtualizáveis. Para se verificarem têm naturalmente de ocorrer interações humanas e sem elas se perde o vínculo a uma história, a uma família e uma sociedade. O olhar e o sorriso enquanto veículos de comunicação são na sua tridimensionalidade inerente impossíveis de virtualizar. Deixámos de sorrir com tanta frequência possivelmente porque ao passarmos cada vez mais tempo diante de ecrãs que não replicam a reciprocidade do olhar ou do sorriso tornam-nos mais inertes e de olhar fixo, olhos esbugalhados quase hipnotizados nos reluzentes e retroiluminados monitores dos aparelhos tecnológicos. Tudo o que se disse até agora serve para relançar a questão: que fazemos nós cristãos com as redes? Qual a nossa ação enquanto entes constante e virtualmente interligados? Que podemos redescobrir nas palavras que Jesus e nos diálogos face a face com que Jesus tece as redes com as quais realiza a faina do anúncio de Boa Notícia da proximidade de Deus na carne da nossa humanidade. As redes digitais são um meio fantástico ao serviço da ação evangelizadora, contudo devemos resistir à tentação de aí estabelecer uma morada, que desligada da realidade mais nos isola do que interliga.