O Papa Francisco aprovou o Documento Final da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, um texto com 155 pontos que reflete três anos de escuta do povo de Deus sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e missão”. Na sessão final, realizada em outubro, participaram 368 membros com direito a voto, incluindo 272 bispos e mais de 50 mulheres.
No discurso de encerramento, Francisco destacou a inclusão e harmonia como pilares fundamentais. O Papa enfatizou a necessidade de construir uma Igreja sem muros, criticando atitudes de rigidez e sublinhando o papel transformador do Espírito Santo. Citando a escritora Madeleine Delbrêl, apelou à rejeição de rigidez e à abertura à conversação.
Uma novidade marcante é a decisão de não publicar uma exortação apostólica, confiando ao Documento Final o papel de guia para a ação nas dioceses. Segundo o Papa, este documento já contém orientações concretas para os diversos contextos e continentes. A implementação dependerá de criatividade e testemunho vivido nas comunidades locais.
Francisco pediu que as palavras do Documento sejam traduzidas em ações concretas, inaugurando um “tempo novo” para a Igreja. O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, descreveu esta fase como um “sopro novo” e destacou que o texto exige conversão, concretizada em gestos e atitudes.
O Documento Final da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos reflete sobre o tema central “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”. A segunda sessão, realizada de 2 a 27 de outubro de 2024, consolida os frutos de um percurso iniciado em 2021, marcado pela escuta e pelo discernimento do Espírito Santo. Este caminho visou renovar a Igreja em seu compromisso missionário, reforçando a sinodalidade como dimensão constitutiva da sua identidade.
Estrutura do Documento
- O coração da sinodalidade: Destaca os fundamentos teológicos e espirituais da sinodalidade, centrados na unidade como harmonia das diferenças e na espiritualidade do Povo de Deus.
- No barco, juntos: Explora a conversão das relações interpessoais, promovendo novas dinâmicas entre carismas, vocações e ministérios, e reforçando a corresponsabilidade na missão.
- «Lançai a rede»: Propõe práticas de discernimento e transparência nos processos de decisão, visando uma renovação missionária.
- Uma pesca abundante: Aborda a construção de vínculos de unidade e a troca de dons entre culturas e tradições eclesiais, reforçando a catolicidade.
- “Também eu vos envio”: Enfatiza a formação de discípulos missionários, orientados por uma metodologia sinodal.
Pontos Principais
- Missão e conversão: O documento chama toda a Igreja à conversão espiritual e pastoral, reforçando a corresponsabilidade entre todos os batizados.
- Diversidade e unidade: Destaca o papel dos diferentes carismas e vocações na construção de uma Igreja unida e missionária.
- Escuta e reconciliação: Insiste na necessidade de enfrentar feridas históricas e promover a cura e a justiça, especialmente nos casos de abuso.
- Participação e transparência: Incentiva processos sinodais que sejam participativos, transparentes e orientados para o bem comum.
- Dimensão profética: Propõe a sinodalidade como modelo para contribuir com a sociedade contemporânea em questões como justiça, paz e ecologia integral.
Na sua conclusão, o documento afirma que o percurso sinodal não termina com esta Assembleia, mas continua na fase de implementação nas comunidades locais, com vistas a consolidar uma Igreja sinodal e missionária.
Documento integral: https://www.conferenciaepiscopal.pt/v1/8709-2/
Introdução: o chamamento à sinodalidade como essência da igreja
O documento final da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos reflete o resultado de um longo caminho de escuta, discernimento e vivência comunitária. Realizado de 2 a 27 de outubro de 2024, este encontro conclui a fase deliberativa de um processo iniciado em 2021, no qual o Papa Francisco convocou toda a Igreja para redescobrir sua identidade sinodal. Sob o tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”, o texto reafirma a sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja, uma característica essencial do Povo de Deus que caminha em unidade e diversidade, guiado pelo Espírito Santo.
Inspirado pelos relatos da Ressurreição de Jesus, o documento apresenta a sinodalidade como uma resposta profética aos desafios de um mundo marcado por desigualdades, crises sociais e fragmentação. Mais do que um método de trabalho, a sinodalidade é apresentada como a própria essência da Igreja, refletindo sua missão de evangelizar, promover a paz e construir comunhão. A Assembleia concluiu que este processo não é um fim em si mesmo, mas um convite à conversão espiritual e pastoral, com o objetivo de renovar a vivência da fé e a missão da Igreja em todas as suas dimensões.
O coração da sinodalidade: fundamentos teológicos e espirituais
A primeira parte do documento estabelece os fundamentos teológicos e espirituais da sinodalidade. Ela é descrita como o “caminhar juntos” dos cristãos, uma expressão da unidade que brota da comunhão trinitária. A Igreja reflete em sua vida a harmonia do Pai, do Filho e do Espírito Santo, sendo chamada a viver relações que testemunham essa comunhão divina. A sinodalidade está profundamente enraizada na Tradição e nos sacramentos, especialmente no Batismo, que faz de cada cristão um membro ativo do Corpo de Cristo, na Eucaristia, que é fonte e cume da unidade eclesial, e na Confirmação, que renova o envio missionário.
A espiritualidade sinodal exige uma conversão contínua e um compromisso com a escuta da Palavra de Deus, a contemplação e o discernimento em comunidade. Essa vivência espiritual deve permear todas as dimensões da vida eclesial, fortalecendo os laços entre os batizados e renovando a missão da Igreja no mundo. Além disso, a sinodalidade não é um fim em si mesma, mas uma forma de tornar a Igreja mais participativa, acolhedora e missionária. Ela reflete a natureza da Igreja como sacramento de unidade para toda a humanidade.
No barco, juntos: a conversão das relações
A segunda parte do documento aborda a necessidade de renovação das relações dentro da Igreja e com o mundo. A Assembleia destacou que as relações interpessoais e comunitárias são o alicerce de uma Igreja sinodal. Inspirada no exemplo de Jesus, que escutava e dialogava com todos, a Igreja é chamada a cultivar relações baseadas no respeito, na igualdade e na dignidade de cada pessoa. Um ponto central é a necessidade de promover a igualdade entre homens e mulheres, superando atitudes e estruturas que perpetuam desigualdades. Embora o Batismo conceda a todos a mesma dignidade, a Assembleia reconheceu que muitas mulheres ainda enfrentam exclusões no contexto eclesial.
As relações externas também ocupam um lugar de destaque. O documento reafirma o compromisso da Igreja com o ecumenismo, enfatizando o Batismo como base comum para a unidade dos cristãos. O diálogo ecuménico é descrito como uma expressão concreta da sinodalidade, um testemunho de reconciliação e fraternidade num mundo dividido. Além disso, a Igreja é chamada a aprofundar o diálogo inter-religioso, promovendo a colaboração com outras tradições religiosas em busca da paz e da justiça. Apesar dos desafios, especialmente em contextos de perseguição, o documento encoraja os cristãos a perseverarem no esforço de construir pontes e superar barreiras.
A conversão das relações implica também o reconhecimento e a cura das feridas internas da Igreja. A crise dos abusos sexuais, espirituais e de poder é abordada com seriedade, destacando a importância de escutar as vítimas e de promover a justiça, a reconciliação e a prevenção. Essa dimensão relacional é essencial para que a Igreja seja vista como um espaço seguro, acolhedor e transparente.
Lançai a rede: a conversão dos processos
Na terceira parte, o documento trata da necessidade de transformar os processos institucionais e organizacionais da Igreja para que reflitam mais plenamente a sinodalidade. Um dos elementos centrais é o discernimento comunitário, que deve orientar todas as decisões eclesiais. Esse discernimento, baseado na escuta do Espírito Santo, exige uma prática constante de diálogo, oração e avaliação.
A Assembleia destacou a importância de promover a transparência e a prestação de contas como elementos essenciais para a credibilidade da Igreja. Essas práticas não apenas fortalecem a confiança, mas também ajudam a superar o clericalismo e outras formas de exclusão. Os organismos de participação devem ser renovados para garantir que todos os batizados tenham voz na vida e missão da Igreja, com atenção especial aos mais vulneráveis.
Outro ponto importante é a cultura de avaliação, que deve acompanhar todas as iniciativas sinodais. O documento sugere que as comunidades eclesiais desenvolvam métodos concretos para monitorar o progresso na implementação de práticas sinodais, garantindo que elas sejam efetivas e inclusivas.
Uma pesca abundante: a unidade na diversidade
A quarta parte reflete sobre a riqueza da diversidade na Igreja e a necessidade de fortalecer os vínculos entre culturas, tradições e comunidades. A diversidade é apresentada como uma expressão da catolicidade da Igreja, que acolhe diferentes formas de viver e celebrar a fé. As Igrejas sui iuris são destacadas como exemplos de como a pluralidade pode enriquecer a comunhão eclesial.
O documento enfatiza a importância da inculturação, que permite à Igreja dialogar com as culturas locais e integrar suas riquezas à vida e missão eclesial. Esse processo não significa diluir a fé, mas torná-la mais enraizada nas realidades concretas das pessoas.
A Assembleia reafirmou o compromisso com o ecumenismo, destacando que a troca de dons entre as diferentes tradições cristãs é uma fonte de enriquecimento mútuo. Além disso, a Igreja é chamada a promover o diálogo inter-religioso, reconhecendo as sementes do Verbo presentes em todas as culturas e tradições.
Também Eu vos envio: formação e missão
A quinta e última parte do documento destaca o envio missionário como a consequência natural da sinodalidade. A formação de discípulos missionários é essencial para capacitar os batizados a viverem e liderarem processos sinodais. Essa formação deve ser integral, abrangendo aspectos espirituais, pastorais e práticos, e deve estar enraizada na escuta do Espírito Santo.
A missão é entendida como um chamado a ir ao encontro das periferias, tanto sociais quanto existenciais. A Igreja é chamada a acolher os marginalizados, escutar suas histórias e responder às suas necessidades com compaixão e solidariedade. Essa dimensão missionária é uma expressão concreta da sinodalidade, que busca construir pontes e promover a cultura do encontro.
Conclusão: um banquete para todos os povos
O documento conclui reafirmando o compromisso com a continuidade do caminho sinodal nas comunidades locais. Essa fase de implementação é vista como crucial para consolidar os frutos do processo sinodal. O texto encoraja as Conferências Episcopais e as Igrejas particulares a promoverem práticas concretas de escuta, discernimento e avaliação, acompanhando as comunidades em sua vivência sinodal.
A sinodalidade é apresentada como um sinal profético para o mundo, capaz de renovar a Igreja e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna. Inspirada pela esperança e guiada pelo Espírito Santo, a Igreja é chamada a ser luz para os povos, testemunhando a comunhão e a unidade em Cristo. Este documento final é um convite à conversão, à renovação e ao compromisso com a missão de anunciar o Evangelho a todos os cantos da Terra.