Querido padre Mário
Não conseguimos expressar vinte e nove anos de vivências em tão pouco tempo e com tão poucas palavras, mas acredite que esses vinte e nove anos preenchem todo o nosso coração.
Atendendo ao chamamento do Espírito Santo, dom de Deus, vai partir. Não para muito longe, é certo, mas deixará de ser “nosso”.
Mas que egoísmo é este? Afinal, há muitas outras pessoas que também merecem o privilégio de o ter como “deles”.
Damos graças a Deus por estes anos em que exerceu o seu ministério junto de nós. Foi mais do que um irmão, mais do que um pai. Foi amigo, foi mãe, foi padre, foi catequista, foi psicólogo, foi orientador, foi professor, foi empreendedor, foi conselheiro, foi paciente, foi cantor, foi escuteiro, foi pastor, foi zeloso, foi brioso… Ajudou-nos a caminhar nesta paróquia, sendo companhia nas alegrias e sustento nos desafios.
As suas palavras atingiam o nosso coração no momento em que mais precisávamos. Nenhuma caiu no vazio, acredite.
Foi exigente? Foi.
Foi, por vezes, intransigente? Foi.
Proferiu palavras menos correctas? Claro que sim.
Contestou a nossa opinião? Sim.
Mas agora pensamos… quem é que, nas nossas vidas, também é assim?
Os nossos pais. Sim, eles são tudo isso.
Chatos, exigentes, por vezes intransigentes, contestadores da nossa opinião. Mas não há amor tão grande e verdadeiro como o deles.
O amor que os nossos pais sentem por nós é um amor de cuidado, de ternura, de sacrifício, de dedicação, de orientação, de apoio, de aconchego, mas também um amor de medo, de insegurança, de angústia — porque querem para nós o melhor, o caminho certo, o rumo a Deus. E a nossa maturidade, por vezes, não nos permite compreender isso a curto prazo. Por isso, temos de ter alguém que nos ame, para nos orientar e nos chamar à razão.
O sentimento do padre Mário por nós é esse: o amor de uma mãe e de um pai. Daí toda a exigência e intransigência, que muitas vezes não queremos entender. Mas é amor — na forma mais pura e inabalável.
Adolescentes do 11.º ano, acreditem: para ele — e também para nós — era muito mais fácil ter ficado no sofá. Mas, se estamos aqui, é porque acreditamos em vós, gostamos de vós, queremos o melhor para vós e acreditamos que este é o caminho certo. E sabem um segredo? Eu conto…
Todos os jovens que aqui estão hoje, e muitos outros que participaram noutros retiros mas que hoje não puderam estar presentes — jovens que vieram propositadamente da universidade, que deixaram de ir a uma festa ou a um bar para estar aqui hoje, que vão ter de fazer umas noitadas extra esta semana para estudar o que não conseguiram adiantar neste fim-de-semana — sabem uma coisa? O “maroto” do padre Mário também os obrigou a fazer os retiros do 10.º e do 11.º ano quando tinham a vossa idade.
Vieram um bocadinho contrariados, porque iam “perder” um fim-de-semana num retiro. Vieram a refilar. Outros nem tanto: aceitaram logo de bom grado. Mas a maioria refilou.
E hoje?… Sabem onde estão?
Estão aqui!
Estão aqui porque algo lá ficou. Porque perceberam que a vida sem Deus é uma monotonia devastadora. Porque perceberam que, na vida, há tempo para tudo. E quando Deus faz parte da nossa vida, o tempo sobra sempre. Acreditem: há tempo para tudo. Quando Deus está no centro, há sempre tempo para o que mais gostamos de fazer. Eles estão aqui porque querem que vocês percebam isso.
Obrigada, padre Mário. Também foi o senhor que nos ensinou isso, através da sua exigência e da sua luta. Nunca desistiu dos jovens. Aliás, investiu neles tudo. E todos sabemos o quanto isso é difícil. Mas os frutos estão à vista — e que vista maravilhosa!
A vida é cheia de surpresas, que nem sempre nos agradam. Às vezes são tristes, como a sua partida. Mas, ainda que distante, tenha a certeza: jamais o esqueceremos. O senhor é muito especial.
A sua dedicação, a sua atenção ao ouvir os fiéis, a sua empolgação, a sua alegria, a sua meditação, o seu cuidado e o seu carinho jamais serão esquecidos.
Ficarão plantados nos nossos corações como sementes que dão fruto — sementes que foram cuidadas, regadas e alimentadas pelo seu carisma, pelo seu amor, pela sua fé e pela sua amizade.
Amizade que não se compra nem se vende.
Amizade que muitos tiveram o privilégio de viver.
E, muito mais importante e difícil do que construir prédios, igrejas ou casas, foram construídas amizades.
Amigos vêm e vão. Mas saiba que os bons e verdadeiros, como o padre Mário, ficam no nosso coração como tatuagens e marcas eternas.
Que as experiências partilhadas neste caminho — os momentos juntos, os momentos difíceis, os ensinamentos litúrgicos, o amor à Eucaristia, as dores, as doenças, os aniversários, as visitas, as festas, as celebrações, as bênçãos, as músicas, os presentes, as brincadeiras, os retiros — sejam a alavanca para alcançarmos a alegria de chegar juntos ao destino projectado: o Céu.
Amigo, irmão, companheiro: o padre Mário foi — e será sempre — o padre que, mais do que sacerdote e pastor, foi um pai para os que o conheceram.
E como diz Antoine de Saint-Exupéry, no livro O Principezinho:
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
Tanta gratidão, padre Mário.
Jovens, monitores e catequistas dos retiros
Texto lido em gratidão ao padre Mário durante o retiro do 11.º ano, realizado na Casa da Cáritas do Pedrógão, nos dias 9 e 10 de Maio de 2025.